Capítulo 30 Procurada

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Kax ficaria uma fera quando descobrisse, isso com certeza terminaria em uma briga física entre os dois irmãos. Gal estava usando muitos recursos e muitos homens para procurá-la. Cada parte da cidade humana deveria ser revistada, nada deveria passar despercebido, e a cada hora que passava mais a aflição de Gal crescia, ela parecia ter sumido como fumaça.

Ele começou a se perguntar o porque ela sumiu, e se haveria de ser obra de alguém, mas por que o mesmo faria? Taliw era uma mulher de língua afiada, quantas pessoas ela poderia ter ofendido nos últimos meses? E quais pessoas? Eram muitas perguntas e poucas respostas. Mas claro Gal estava fazendo cada vez mais perguntas para evitar uma hipótese que estava o tirando do sério. A maldita hipótese dela ter apenas fugido deixando tudo para trás.

Ele não podia perdê-la de novo… não  novamente….

Horas transcorriam e quando Gal estava quase chegando ao limite da exaustão três homens seus trouxeram um humano que estava ferido, ou melhor, seu braço esquerdo estava dilacerado. Gal mesmo estando um pouco confuso ainda sim deu ouvido a seus homens e o ouviu (ou tentou ao menos) o humano a sua frente, mas poucas coisas que aquele homem falava davam para ser aproveitadas.  Primeiro por que aquele homem não parava de implorar por  perdão? Ele também falava freneticamente atropelando palavras ou e juntando as mesmas. Segundo que o homem chorava como uma criança, então acabava que as palavras que já não eram muito entendíveis se misturavam com os soluços piorando ainda mais sua compreensão.

E quando Gal estava prestes a dar as costas para aquele homem já aceitando que daquela conversa só havia feito ele perder tempo, aquele humano fala de maneira menos desesperada:

— A T-Ta-Taliw! A nin-fe! — Gal se vira para o homem o encarando, o humano parecia estar realmente se esforçando para se acalmar. — No g-galpão de Élio nos limi-tes da cidad-de...

Gal agarrou o humano pelos ombros se esquecendo por um breve momento o ferimento do homem  que no mesmo instante gritou de dor, fazendo o mitre soltá-lo. O mitre pela primeira vez em horas sentiu aquela pontada de esperança que o fez se encher de energia, mas ao mesmo tempo que ele se sentiu feliz por receber uma dica onde sua garota estava, ele ainda sim se sentia aflito por ter recebido tal informação tanto tempo depois da mesma ter desaparecido. 

Dentro desse período de horas, quantas coisas ela já tinha passado? E em segundos aquela informação já não era o bastante para alimentar sua esperança, ele passou a exigir que o homem desse mais e mais informações de onde ela estaria. 

Ele a encontraria, ele tinha que encontrá-la, ele não a perderia...






Era um completo show de horrores, olhar para aquilo fez com que a alma de Gal estremece-se dentro de si, ele nem havia entrado no galpão ainda e já estava imaginando o pior. Na entrada havia quatro carros abandonados, e quando ele se aproximou da entrada ele achou os possíveis donos, os quatro mortos, brutalmente mortos. Seus estômagos estavam abertos e expostos, e pela aparência dos corpos dava-se para notar que eles estavam ali a muitas horas, talvez um dia. Isso fez com que Gal corresse para dentro do galpão. 

E para surpresa do mitre aquela estrutura de galpão era apenas por fora já que por dentro parecia ter vários cômodos, o que deu ao mitre ainda mais dor de cabeça. Gal sabia que estava suando enquanto destruía um cômodo após o outro. Ele sabia que deveria estar ficando cada vez mais zangado a ponto de ninguém conseguir acalmá-lo, nem mesmo seus homens. E sabendo ele que deveria estar preocupado e estressado com a energia dele ficando cada vez menor, mas ele não podia parar a sua mente estava correndo em todos os cenários desastrosos e possíveis sobre o que aconteceu com sua pequena senhora. 

Até que...

Até que ele entrou em um dos cômodos, o maior deles, e ele a viu ao longe no meio daquela carnificina, completamente indefesa, e naquele momento ele não sabia se o sangue que manchava o vestido da sua pequena senhora era dela ou dos inúmeros mortos ao seu redor, ela estava amarrada por cordas grossas desde seus braços aos seus pés. 

Ele foi se aproximando dela lentamente, suas mãos tremiam temerosas de descobrir se ela fazia parte da contagem de mortos ou se ela estava apenas desacordada.

E uma memória desastrosa voltou à mente de Gal causando-lhe uma pontada de dor terrível em sua cabeça. Mais uma vez ele estava caminhando em direção a uma garota que ele amava, era muito semelhante a aquela lembrança: dele caminhando dentre os escombros de uma casa procurando por uma garota que uma vez lhe deu um guarda chuva rosa, até que ele viu a cena que o marcaria para o resto de sua vida, lá estava ela, aquela linda garota deitada no chão toda suja de barro, poeira e sangue; ele a chamou diversas vezes pelo nome esperando inutilmente que ela respondesse, ele chorava como uma criança enquanto removia as pedras de cima do corpo, e mesmo ela estando sem vida ele ainda sim implorava para que ela não o deixasse, ele implorava...

"Não de novo não... não novamente..." Pensou Gal quando chegou perto o bastante para tocar-lhe o rosto. A figura de sua pequena dama estava deprimente, sua pele estava pálida e seus lábios tão secos a ponto de racharem. Gal se sentiu receoso em tocá-la, e se ela estivesse morta? Não... Gal não queria cogitar essa possibilidade.

Os subordinados do mitre foram chegando aos poucos observando de longe a cena, ansiosos para entender o que estava acontecendo. Gal tirou de seu paletó um canivete e começou a cortar as cordas, percebendo os sinais roxos e esverdeados que marcaram a pele da mulher, ele guardou o canivete e tocou seu pescoço procurando pulsação agradecendo ao deus Hodes por ela estar viva.

— A quanto tempo você esta aqui... — Ele murmurou sentindo a raiva o invadir, se ele descobrisse quem era o maldito que havia feito isso, ele o mataria logo depois de uma longa sessão de tortura, ele arrancaria dente por dente do maldito e logo depois passaria para as unhas. Talvez Gal nem o matasse, parecia muito mais chamativa a ideia de depois de machucá-lo muito (nem tanto para mantê-lo vivo) ele o amarraria o mais alto possível em uma árvore em meio a mata e o abandonaria por algumas semanas. Frio, fome e sede era uma das piores formas de morrer, e Gal faria questão que o desgraçado não tivesse uma morte tranquila.

Quando ele se aproximou ainda mais para poder carregá-la, ele percebeu o odor de urina misturado ao metálico do sangue, ele tirou o paletó e a cobriu da cintura para baixo.

— Estão todos dispensados, eu assumo daqui. — Gal apenas avisou antes de se envolver em sua densa fumaça e sumir junto a garota inconsciente.

Ele precisava que a nonna a visse, as duas eram ninfes então ele apenas acreditou que a velha senhora saberia o que fazer. Ele cogitou levá-la a um hospital humano, mas ele sabia muito bem de como seria o tratamento que eles dariam a ela, o pior e mais lento o possível...

Ele pensou em ameaçar os médicos para que eles fizessem um bom (e rápido) trabalho, mas ele tinha uma coisa que o impediria: a falta de energia em seu corpo que estava chegando ao seu limite ele não aguentaria muito tempo em pé.  

Ele se teletransportou para a sala de jantar de sua casa chamando por nonna desesperadamente, o que fez com que não só ela aparecesse, mas também todos os que estavam lá incluindo o humano Richard que praticamente se arrastou para a sala de jantar para ver o porquê de tanto barulho.

Assim como o humano, Kax e nonna arregalaram seus olhos ao verem Gal carregando uma mulher desacordada toda suja de sangue, e Kax logo percebendo que seu irmão mais velho estava no limite da exaustão foi até ele ajudando-o a segurar a garota.

— Nonna ela precisa de ajuda... — O mitre falou antes de cair inconsciente aos pés de seu irmão mais novo que olhava preocupado para tudo aquilo sem entender o que exatamente estava acontecendo.


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