capítulo 36 mensageiro

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Dois dias se passaram de forma rápida, Kax se sentia atolado em trabalho tanto que nem teve força o bastante para brigar com Marie por não ter cumprido com seus horários.

Ele se sentia uma babá, ele tinha que vigiar Richard que vira e mexe estava tendo um piripaque pela casa, tinha também a senhora Taliw (que dentre todos era a que lhe dava menos trabalho) e tinha Gal que a todo o momento queria invadir o quarto da mulher (claro que Kax o impedia sempre que podia).

Ele sentiu falta dos dias em que ele apenas tinha que ficar em seu escritório lidando com a papelada e as plantas de suas invenções. Isso estava o estressando, e mal sabia ele que um mensageiro da cidade humana estava indo atrás dele para lhe levar mais problemas...

Nilth era um rapaz jovem (humano), e apesar da pouca idade era um dos melhores motoristas que trabalhava para os Copae. Por conta de sua fidelidade e talento atrás do volante ele acabou por ser reconhecido por seu chefe Gal, desde então ele não era mais um motorista comum, ele era conhecido como mensageiro.

Ele que rodava as áreas em que os Copae comandavam e buscava os relatórios com os subordinados estabelecidos no local e logo depois entregava as papeladas para o senhor Kax.

Nilth sempre levava relatórios e notícias satisfatórios para os Copae, mas dessa vez ele teria que desapontar seus chefes, algo em algum momento havia saído muito errado...

Ele correu o máximo que pode para a casa dos dois irmãos mitris, não se importou muito em ser educado, pois assim que pôde correu até o escritório da casa e bateu na porta enquanto tentava regularizar a própria respiração.

Kax o atendeu um tanto quanto surpreso no primeiro momento (por não ser dia da entrega dos relatórios), mas depois apenas voltou com sua face neutra e deu espaço para que o rapaz entrasse no cômodo.

— Senhor venho reportar um comportamento incomum dos residentes da cidade humana. — O rapaz falou vendo o estresse do seu chefe aumentar, vendo do silêncio do mitre ele apenas continuou. — Eles não conversam mais com os mitres ou os híbridos, eles passaram a evitar a todos, não há mais crianças brincando nas ruas ou parques, sinto em dizer que creio que os moradores passaram a ter medo...

As mãos de Kax foram ao encontro da mesa de uma forma brutal fazendo um barulho alto.

"Como era possível? Nenhum deles havia dado motivos, algo havia passado por baixo do meu nariz e não vi?"

— Senhor se me permite dizer... — Nilth se pronuncia ao sentir o silêncio incômodo se instalar. — Acredito que isso tenha acontecido depois de uma das moradoras de lá ter desaparecido e os boatos dizem...

— Dizem? — Kax encorajou o rapaz a continuar a falar.

— Os boatos dizem que foi o senhor Gal que a arrebatou de seu lar no meio da noite, a fofoca que corre pelas ruas do lugar dizem que os vizinhos até mesmo tentaram o impedir, mas foi tarde demais ele simplesmente desapareceu como fumaça frente aos seus olhos. — Ele viu o rosto de Kax enrijecer, apesar Nilth conhecer muito bem os limites da paciência de seu chefe ele sabia que o mesmo por mais que estivesse furioso ainda não atacaria, pois apesar dos rumores que corriam pelos becos e vielas da cidade de Solenne sobre sua personalidade infame, Kax na verdade era um homem muito justo que não explodiria sua raiva em um inocente, ou seja em um simples mensageiro. Mas o homem não podia negar que apesar de conhecer a personalidade de Kax ele ainda sim não pode deixar de se sentir retraído e com medo, aquele clima que havia se instalado na sala era realmente algo que só se podia denominar como massivo.

Kax então se levantou de sua mesa e foi em direção a sua estante de livros em silêncio ele passou a olhar título por título era uma maneira dele se acalmar e tentar colocar as ideias no lugar, ele quando voltou ao pequeno mensageiro a sua frente apenas deu-lhe a permissão para que saísse do escritório ele teria uma boa conversa com seu irmão e talvez por não ser muito civilizada fosse melhor que ninguém ouvisse.

Nilth que não era tolo apenas obedeceu as ordens de seu chefe deixando a casa dos Copaes e seguindo com seu trabalho.

Kax sabia que o que quer que tivesse acontecido na noite em que Gal procurou pela mulher seria algo difícil ou no mínimo complicado para se resolver, pois aquilo não era um simples boato, haviam testemunhas. É diferente de outras ocasiões no qual a máfia lidava com as testemunhas, dessa em específico não seria tão fácil, não era simplesmente pegar as pessoas e jogar numa vala onde ninguém as encontrariam. Era muito mais complicado, eles tinham que mostrar aquele povo todo que era apenas uma confusão, uma pequena discussão entre amigos? O problema era, quem acreditaria? O bastardo do seu irmão deve ter assustado os vizinhos da mulher ao ponto de acharem que a mesma havia sido sequestrada pelos seus novos senhorios e isso com certeza ferraria o plano.

Gal e Kax se resolveram da forma mais antiga que conheciam, na mão, no final os dois estava nos fundos da casa ofegantes e suados e era de se notar a linha de sangue que escorria da boca de Gal devido a um soco certeiro que talvez poderia ter quebrado um ou dois dentes laterais, Kax estava com uma das bochechas roxas. E a única coisa que se assemelhava nos pensamentos dos dois irmãos era que seu pai com certeza estaria desgostoso com seus atos ou no mínimo com raiva se perguntando se era assim que ele havia criado seus meninos?

Não importava o quão cavaleiro ele era, e não importava o quanto Gal amasse seu irmão mais novo, no final quando um dos dois errasse um com o outro tudo acabaria desse jeito, eles acabariam como animais de rinha.

Quando o céu passou a escurecer e eles sentiram que já haviam tido o bastante os dois se sentaram lado a lado no degrau da porta dos fundos e começaram a conversar:

— Desde o início sabíamos que não seria fácil de conseguirmos realizar nosso sonho e por causa disso nós sacrificamos muitas coisas, mas Gal você às vezes parece que está pondo tudo a perder, parece que está esquecendo o próprio propósito... — Kax olhou para o mais velho e o encarou, mas durante aquela pequena prosa Gal nenhuma vez se quer direcionou seus olhos ao seu irmão, Kax sabia que Gal estava o escutando mesmo que o mitre não demonstrasse. — O plano sempre vem em primeiro lugar, essa foi a promessa que fizemos para nós mesmos sobre o túmulo de nosso pai mesmo que tenha sido a muitos anos atrás eu nunca esqueci... e você não deve esquecer também... — Kax colocou sua mão sobre o ombro do mais velho e falou algo que ele sabia que seria amargo os ouvidos de Gal. — Se não se controlar terá que se afastar da mulher até que o plano seja concluído...

Pela primeira vez desde que Kax abriu a boca Gal teve uma reação e apesar de Kax já esperar por algo do tipo ainda sim aquilo não o agradou.

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