Capítulo 21 Uma breve felicidade.

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Taliw sentia seu estômago se revirando, sentindo que a dor de sua barriga parecia se espalhar pelos seus outros membros, ela também sentia uma certa dormência em suas mãos e pés e uma grande dificuldade de movimentar seu corpo. E o que dificultava ainda mais eram as cordas que atavam seus pulsos e tornozelos, ela tentou chamar por alguém, mas de sua boca que estava amarrada com um pedaço de pano, apenas saíram ruídos de sua boca.

Ela virou o pescoço olhando para os lados procurando saber onde estava, mas tudo o que seus olhos viam era um breu intenso. Ela estava sentada, quase inclinada em o que parecia ser uma poltrona de estofado macio. Taliw sentiu que o desespero estava ficando cada vez maior e que não levaria muito tempo antes de a tomá-la por completo. Ela respirou fundo tentando controlar suas pulsações desenfreadas, se forçando a relembrar o que havia acontecido antes de chegar a este lugar...

Bem, para começar essa seria a primeira vez que ela cantaria no hotel, sendo assim o último lugar em que ela se lembrava de estar era lá, ou melhor saindo de lá. Taliw acordou bem mais cedo que o comum naquele dia para separar um bom figurino, por ser um hotel de padrões mais altos do que os clubes em que ela normalmente costumava a cantar, ela decidiu pegar o vestido mais bonito e recatado que ela tinha, não que a garota tivesse muitos vestidos, o que acabou por fazê-la escolher um vestido bege com franjas, no momento de escolher as bijuterias ela escolheu um colar longo de pérolas de um tom amarelado claro e os dois únicos anéis que ela tinha, os sapatos que ela havia escolhido eram os mais confortáveis que havia em seu guarda roupas, eles eram de uma tonalidade rosa tinham um salto médio e o bico arredondado, ela o havia escolhido por não saber exatamente quanto tempo permaneceria de pé, já que ela acabou por esquecer de discutir esse detalhe com o contratante.

Taliw chegou ao seu trabalho como camareira e quando seu expediente foi encerrado ela foi se aprontar no quarto dos empregados para a segunda parte do seu emprego. Ela se vestiu, e se sentiu muito feliz ao perceber que o gerente havia aprovado suas roupas, e a maquiagem já não precisava ser tão exagerada o que fez Taliw se sentir mais confortável.

Ela nunca havia cantado para uma plateia tão civilizada a anos, fora que retirando os olhares de ameaça de Patt, possivelmente estava com medo de que seus outros empregos fossem revelados, ele a tratou tão bem que ela muitas vezes duvidava se eram a mesma pessoa. Mas apesar dos apesares, tudo estava perfeito.

Ela estava tão feliz que não conseguia parar de cantarolar baixinho para si mesma enquanto ia para o quarto dos empregados com a intenção se trocar para voltar para casa, ou ao menos era isso que ela pretendia. No meio do caminho um homem a parou, era loiro muito atraente que vestia roupas finas, ele segurava dois copos com negroni. O homem a elogiou pela sua voz e pelas lindas canções cantadas, ele deu a ela um dos copos como agradecimento e saiu de seu campo de visão logo depois de lhe entregar seu cartão de visitas e expressar seu desejo de poder ouvi-la uma próxima vez.

Ela apenas aceitou e continuou com seu caminho, havia já muitos anos que ela não se sentia assim tão bem após um dia de trabalho, era como se a chama que havia em si se acendesse mais uma vez lhe dando a certeza de que ela havia nascido para cantar para pessoas que a queriam ouvir. Ela deixou o copo que havia ganhado em cima da mesa comprida que era usada para a hora do almoço dos empregados e foi ao trocador feminino onde ela colocou suas roupas diárias e seguiu para fora. Ela pretendia falar com o gerente do hotel antes de ir embora, para ver se estava tudo certo e se ele estava satisfeito com seu serviço. 

Mas quando ela estava prestes a ir para a sala da gerência ela viu o copo com a bebida e apenas para matar a vontade ela bebericou e pensou:

"Um gole não vai me deixar alta..."  

Após uma curta conversa dela com seu superior, pois ele parecia esfregar na cara dela de forma indireta que ele tinha coisas melhores do que trocar palavras com uma simples cantora. Ela tomou seu rumo de volta a casa, no meio da caminhada ela começou a se sentir enjoada como se seu corpo estivesse tentando expulsar algo de dentro de si.

"Bem que percebi que aquela carne não estava com uma cara muito boa..." Ela se referia a carne do restaurante na rua de trás do hotel que vendia comida mais barata no qual ela podia pagar para seu almoço. 

Vendo que não se sentia bem, ela passou a andar cada vez mais rápido, mas não demorou muito para que a vertigem aumentasse e a esse ponto ela não conseguia mais andar em linha reta sem se apoiar nas paredes. Sintomas estranhos demais para uma simples intoxicação alimentar, ainda mais quando ela sabia que seu corpo era resistente a doenças...

— Al-guem... al... — Ela tentou gesticular quando seu corpo passou a tremer e apresentar sinais de que em poucos segundos suas pernas não sustentariam mais o peso de seu corpo, mas em vez de palavras tudo o que saiu de sua boca foi gotas grandes de saliva que molhavam seu casaco.

"A bebida..." Só poderia ser aquilo, ela se xingou mentalmente por se deixar levar pela aparência não suspeita do homem loiro, ela tentou se agarrar em um galho de árvore quando sentiu suas pernas fraquejarem e a primeira pontada de dor atravessar seu estômago se espalhando pela espinha dorsal. Ela em uma medida desesperada de tirar aquilo, seja  lá o que fosse, de dentro de si, tentou se forçar a vomitar, mas antes que ela conseguisse tudo se tornou preto...




E essas eram suas últimas memórias, e o que é que ela havia consumido ainda estava fazendo efeito em seu corpo, e não era necessário mencionar de que era uma péssima notícia. Ela ao ouvir pessoas se aproximando do outro lado da porta finge ainda estar inconsciente.

— Você sabe o quanto ela vale agora, podemos ficar ricos com uma única tacada? E outra ela já te deu um pé na bunda...

— Mesmo assim, como eu poderia fazer isso! — Era uma segunda voz, uma voz estranhamente familiar e frustrada. — Se ela desgostava de mim antes, agora ela me odeia!

— Vai com calma, garanhão abaixa a voz ela pode te ouvir, nem sabemos se ela acordou...

Se ouviu o ranger da porta ao se abrir e logo ser fechada e trancada, e mesmo com as pálpebras fechadas ela pode perceber a luz sendo acesa. 

— Graças às divindades ela ainda não acordou... — Aquela pessoa da voz familiar se aproximou de Taliw tocando com delicadeza e timidez a pele de seu rosto. Ele tirou o véu e com o indicador contornou suas sobrancelhas e o contorno dos olhos. — Espero que possa me perdoar por isso.

A risada do segundo homem soou pela sala.

— Você é realmente muito engraçado companheiro, ela não está nem te ouvindo... ou... — O segundo homem se aproximou da garota dando-lhe um beliscão no antebraço da mesma , e por ela não esperar por tal ato acabou por se mexer. — Que péssima atuação...

— Por que fez isso?! — A voz familiar indagou.

— Ela está mentindo para nós dois, ela está acordada, vamos abra os olhos não é como se não fosse descobrir quem somos de qualquer forma. 



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