Capítulo 43 agridoce

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Já haviam passado dois meses desde a sua visita um tanto quanto forçada a cidade mista de Solenne, e Gal também não havia aparecido tantas vezes, e de vez em quando Taliw podia avistá-lo ao longe apenas olhando por alguns segundos para ela antes de desaparecer, isso não a deixava tranquila, mas ao mesmo tempo ela entendia que essa falta de aproximação dele para com ela era de certa forma benéfica ao final das contas.

Mas isso não a fez ter uma vida tranquila, sua cidade estava se tornando cada vez mais estranha, Don Bill parecia ter perdido a cabeça de vez, sua cidade estava uma loucura seu bairro era dividido por dois tipos de pessoas: os pobres amedrontados pelo que acontecerá no dia de amanhã e os criminosos que vadiava dizendo estar rondando a área os protegendo de um inimigo misterioso de Bill.

Sua área estava uma loucura, fato, nesses dois meses os Copais não cobram nenhuma taxa de proteção, não houve explicação do porquê, e para ser sincera isso fez com que seus vizinhos ficassem feliz com o feito. Levando em conta que a população só começou a acreditar nisso quando perceberam que realmente não haviam cobranças as suas portas ou mortes pela falta do pagamento, de certa forma isso fez com que os humanos acreditarem mais nos mitres, e que talvez eles não eram seres ruins no final.

A volta de Taliw também foi bem recebida, a mesma teve que arrumar uma desculpa muito convincente, uma mentira muito grande, para simplesmente justificar sua ausência, as pessoas haviam acreditado que o próprio Mitre havia a sequestrado e certa forma não era tão longe da realidade já que apesar de não ter sido o mesmo ele havia sido o motivo para que toda aquela merda houvesse acontecido com ela.

Para abafar toda aquela situação ela apenas disse que havia combinado de sair com o mitre, mas havia tido um imprevisto e ela teve que sair da cidade às pressas por uns dias e esqueceu de avisar o senhor Copae que ficou preocupado e acabou fazendo toda aquela comoção acreditando que algo ruim havia acontecido com ela...

E foi assim que além de limpar a barra para os mitres Taliw também ajudou aquele homem a ter uma imagem muito melhor do que deveria, entre as fofocas das "damas e cavalheiros" se diziam que Taliw o encantou e por isso ele só havia agido daquela forma por ser um homem zeloso com sua "mulher"...

Taliw inconscientemente fez uma careta, ela se aproximou da janela e olhou para rua deserta lembrando-se das duas senhoras que haviam vindo visitá-la para lhe dar conselhos de como tratar com um "parceiro" de alta classe social, Taliw ficou confusa a primeiro momento, parceiro? Oh deus essas pessoas estavam ficando realmente imaginativas...

Mas era de se entender o porquê de tal pensamento, uma mulher e um homem saindo nunca seriam vistos como amigos, já que a maior parte das pessoas nem sequer acreditam nesse tipo de amizade, inicialmente Taliw tentou negar a tal relação, mas foi em vão... É como dizem que as pessoas acreditam em que lhes convêm.

Taliw se sentia com a cabeça cheia demais para dar atenção a essas velhas mulheres, as pessoas mais velhas sempre dizem que quanto mais velho você fica, mais coisas você terá para pensar... Taliw não havia chegado nem sequer na metade de sua vida e sentia que sua cabeça iria explodir de tantos pensamentos, agora elas não tinha só que se preocupar com mitri estranho que andava atrás dela como um cão; com as taxas de proteção que no momento estavam suspensas, mas não dá para se saber quando voltarão; ou com a loucura de Bill e seu inimigo misterioso.

Mas havia algo em específico que a incomodava mais do que todo o resto: como seus vizinhos reagiriam ao saber da verdade? Sem dúvidas nenhuma ela os amava apesar de nunca ter dado muita liberdade para os mesmos se aproximarem, mas se o mitre realmente cumprisse com sua promessa, se ele tornasse aquela cidade mista, será que algum dia ela poderia andar com aquelas ninfes de Solenne? Ela não precisaria mais se esconder ou fingir ser algo que nunca foi? Ela amava seus vizinhos, mas sua insegurança a consumia, era óbvio que eles tinham certo carinho por ela e a forma como eles a tratavam e zelavam por ela sem dúvidas era algo muito caloroso, mas ao mesmo tempo ela conhecia muito bem a vida e crenças podem ser muito mais fortes do que a própria amizade, e disso ela sabia... ela sabia que talvez as coisas nunca mais seriam como antes.

Era estranho, ao mesmo tempo que ela se sentia apreensiva com a ideia ela também se sentia como se estivesse prestes a tirar uma carga muito pesada de suas costas, talvez essa fosse a sensação agridoce da liberdade...

— Sabe as pessoas diziam que eu estava louco em fazer negócios com seres tão desprezíveis, mas eu não me abalei achando que poderia confiar. — O velho soltou um riso maldoso e confiante. — Mas eu não sou idiota! Não sou tolo me ouviu!! — O maldito homem rosnou com o rosto muito próximo ao rosto de Gal. — Vou manda-los para o inferno para que aprendam a nunca mais me enganar.

O mitre mais novo sentiu repulsa e nojo ao sentir pequenas gotas de saliva atingir seu rosto.

— Don Bill não entendo o que está insinuando. — Sejamos sinceros Gal sabia muito bem do que o velho falava, mas se houvesse alguma chance por menor que fosse de fazer as coisas da forma mais segura ele no mínimo tentaria. — Eu e meu irmão nunca passamos do limite com o senhor, nunca lhe demos motivos para que suspeitasse de nossa índole, como acha que nos sentimos com tais insultos?

— Insultos? — O velho riu e naquele momento Gal sentiu algo se enroscar em sua garganta, o maldito tinha algo de baixo da manga. — Eu posso estar velho meu caro, mas não se engane... — Ele derramou whisky em um copo de cristal. — Sou um homem que perde a linha fácil e que gosta de trocar tiros, mas eu sei quando devo usar as palavras conversar com o próprio inimigo nem sempre é uma má ideia.

Gal soube muito bem esconder a surpresa em seu rosto, mas não podia negar de estar surpreso com a atitude do velho. Era óbvio que ele tinha tido uma boa conversa com Kenned...

— Bem o que eu não pude prever era que eu estava fazendo negócios com meus próprios inimigos não é senhor Copae? — Gal ao ouvir tais palavras apenas se contentou em ficar quieto, afirmando ou não as ideias de Dom Bill, o plano finalmente havia chegado em um ponto crucial e pela forma que estava indo as coisas passariam a se tornar mais perigosas. — Mas de certa forma tenho que te agradecer. — Bill levantou o copo e voltou a dizer. — Um brinde! Pois com esse confronto eu não só derrubei Kenned como nunca fui tão poderoso, seus territórios agora são meus seus homens se filiaram a mim, meus negócios no mercado negro nunca estiveram tão bem pela falta de concorrência... Tudo graças a você e seu irmão.

— Isso é um agradecimento? — Gal riu.

— Não ficaria tão feliz monstro, talvez isso seja apenas uma despedida. — O velho sorriu ameaçador.

Foi então que Gal sorriu de forma que aterrorizadora, já estava na hora do velho ser colocado em seu devido lugar, estava na hora dele ter conhecimento de quem era a verdadeira ameaça dentro daquela sala.

— Quero que me escute com atenção... — Gal deu um passo se aproximando do velho e isso fez com que os guarda-costas ficassem mais atentos do que nunca, mas era perceptível o temor nos olhos de cada um deles, como se soubessem que só ainda estavam de pé porque o mitre estava permitindo. — Eu não ligo para suas suposições ou se são verdadeiras ou falsas, mas se iniciar uma guerra conosco terá que ir até o final, será que você está preparado para assinar a sentença de morte dos seus homens? — Gal pegou o copo da mão do velho de disse rindo enquanto o Bill o observava em choque. — Você só está vivo porque ainda tem alguma utilidade para mim e meu irmão, porque se não você não seria nada mais que um saco de carne moída velha jogado em uma vala qualquer.

O mitre observou o velho tomar várias cores diferentes em seu rosto, de um braco pálido ele passou a ter um rosto vermelho púrpura, a raiva o consumiu e o fez rosnar para seus homens:

— Matem esse desgraçado! Estourem a cabeça dele!!!

E antes que a chuva de balas começasse, a típica fumaça negra passou a se formar ao redor dele, a última coisa que o mitre deixou para o velho foi a imagem de um sorriso ameaçador, ele queria que o velho enlouquecesse de medo que tivesse pesadelos com ele...

E realmente o velho teria...

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