Capítulo 2 As ires vermelhas...

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A apresentação havia chegado ao fim, ela agradeceu ao público e saiu do palco agradecendo aos céus por ter sido tranquilo, sem brigas, tiros ou móveis voadores. No caminho ela se encontrou com a banda de jazz que ao passarem por ela começarão a fazer barulhos de gato, brincando com o que ela havia dito no palco; eles eram bons rapazes, Taliw nunca ouviu nenhum deles fazerem piadinhas com segundas intenções ou conversarem com ela de uma forma desrespeitosa.

Ela acenou para eles desejando sorte, não que eles precisassem, já que eram dotados de um grande dom e amor pelo que faziam. Ela voltou para o banheiro das damas verificou o local certificando-se que ela estava sozinha e logo após trancando-o e indo para uma das cabines, tirou o colar e o vestido salmão dolorosamente apertado e de certa forma revelador, para colocar seu habitual vestido azul bebe, ele era mais solto, confortável e cobria desde o início do seu pescoço até metade se sua canela. Taliw guarda o vestido na bolsa e sai da cabine.

Ela ouviu o tambor soar, o trompete encantar, e o sax cantar formando uma musica linda e animada, ela sorriu cantando bem baixinho para si mesma alegremente junto ao ritmo, andou até a pia retirou o véu de seu rosto e pegou o sabão barato que ela carregava em sua bolsa, ela o molhou e esfregou em seu rosto até que sua pele estivesse ficado vermelha e depois o enxaguou vendo aquela água suja escorrer pelo ralo.

Ela paralisou ao ouvir passos pesados dentro do banheiro, Taliw tateou a pia atrás do véu, mas ele não estava lá ela fechou seus olhos e recuou para trás, ela ouviu aquele indivíduo respirar fundo depois avançar lentamente em sua direção, ela ficou em uma boa posição de defesa, abaixou a cabeça e abriu minimamente os olhos vendo a sombra no chão que ele produzia, dava se para perceber que era um homem grande.

E tinha pouquíssimas razões para um homem estranho entrar no banheiro das damas, e infelizmente Taliw sabia que nenhuma das razões estavam a favor dela. O homem que havia a atacado neste mesmo local a anos atrás também era grande e forte ele tentou arrastá-la para uma das cabines, mas graças a uma dama que passou e ouviu os gritos de Taliw ele não teve a possibilidade de fazer muita coisa, a mulher foi rápida e chamou os seguranças que o removeram do local, e logo após ele foi mais do que "removido" ele foi assassinado e bem como muitas pessoas dizem "removido".

Mas depois dessa fatalidade ela passou a trancar as portas. "Mas como? Não tinha ninguém aqui! Como este homem entrou? Eu me lembro de ter passado a chave na porta..." Pensou Taliw se sentindo desnorteada.

Taliw pensou em gritar o mais alto possível por ajuda, mas quem a ouviria? A música de jazz tocava a todo o vapor, e os rapazes faziam de certa forma sucesso, e em volta do palco se juntavam clientes que os ouviam e outros que dançavam em casal ao ritmo.

- Olhe senhor, eu realmente não quero problemas... - Ela se manteve de cabeça baixa com os olhos semicerrados preparada para qualquer movimento dele. Ela sentiu o gosto amargo do sabão em sua boca, só não era mais amargo que o sentimento de medo que crescia dentro de si.

Ela viu ele se afastar e pegar algo do chão, pelo menos era isso que ela deduziu por ele ter se curvado, logo após ela recuou novamente quando ele voltou a ter com ela, ela sentiu seu véu tocar sua mão direita que estava acima de sua cabeça como proteção.

- Acredito que isso seja seu. - Ela ouviu uma voz masculina e suave como seda se dirigir a ela. Ela tateou o véu e o pegou colocando-o sobre o rosto novamente, podendo ver melhor quem era o invasor do banheiro das ladies se desesperando com as duas íris vermelhas vivas diante dela, as mesmas que as do mitri. Ele estava com as mãos no bolso da calça negra, ele as retirou e pôs uma delas para dentro do paletó procurando algo.

"Eu estava errada! Ele não vai se abusar de mim, ele vai me matar!" Taliw pensou enquanto esperava ele tirar a possível faca ou arma, ele tinha um sorriso em seu rosto e seu cheiro não era peculiar dentre os criminosos, pólvora, sangue e fumaça de charuto. Quando sua mão se movimentou para fora do paletó ela não se conteve simplesmente fechou os olhos e soltou um grito agudo.

- Não gosta de charutos pequena dama? - Ela ouviu ele rindo da reação dela, ela abriu seus olhos e olhou para a mão dele vendo um charuto entre os dedos, ela então solta o ar que nem havia percebido que tinha prendido. - Entendo, é realmente um péssimo hábito. - Ele voltou a guardar o charuto e depois continuou a falar. - Peço perdão por eu, um homem, entrar no banheiro das ladies, mas eu realmente preciso terminar um problema que nós dois começamos...

Taliw franziu a testa sem falar nem uma única palavra, pensou em que tipo de problema ele estava falando, como poderiam ter um problema? De onde havia saído esse problema? Era a primeira vez que se viram e conversavam.

- Eu notei pequena dama, que você me olhava mesmo antes de se apresentar. - Ele falou se divertindo ao ver o rosto da garota se enrubescer.

Ele deve ter se sentido insultado por ela estar olhando para ele, ele estava se sentindo ofendido então decidiu confrontá-la sobre seu comportamento, mesmo que seja de uma maneira aterrorizante, ao menos ele não havia partido para violência... ainda.

Ela se sentiu mal por pensar que o havia insultado, e se sentia pior ao pensar que talvez ele não estava lá para ser amigável. Deus, quem nesse mundo era amigável invadindo o banheiro das damas onde não haveria testemunhas? Talvez ele buscasse uma conversa civilizada em busca de um "desculpe, não queria ofender senhor mitri"? Era difícil de acreditar ainda mais depois de lembrar que ele estava ao lado do velho Bill, o pessoal daquele homem desprezível fazia com que os outros pagasse com sangue, com o próprio sangue, poderia ser por uma olhada torta a um comentário verdadeiro que o ofendesse o resultado era sempre o mesmo.

- Senhor, eu lhe dou minhas mais sinceras desculpas por estar... - Ela começou a falar dando lhe seu melhor sorriso em busca que ele a perdoasse e a deixasse sair ilesa.

- Tudo bem, eu também a olhava... - Ele a interrompe. - Eu gosto do que vejo.

A ideia de que ele tentaria fazer algo sujo com ela estava começando a sumir de sua mente, mas com essa última fala dele, a tal ideia voltava com tudo. Ela olhou para a porta, não estava tão distante e ele era alto, não duvidaria se dissessem que ele tem mais que dois metros, e para a infelicidade da garota ele não parecia ser tão lento. Talvez ela conseguisse passar por ele, ela tinha que conseguir.

- Me diga pequena dama, você gosta do que vê? - A questão dele veio junto a um gesto, um gesto que dividiu aquela conversa em dois entendimentos: a dele e a dela, que eram completamente diferentes. Ele apontou para o próprio terno com a mão direita que continha no mínimo cinco anéis de ouro, um em cada dedo. Aquele gesto para ele era mostrar a si mesmo, mas aos olhos da mulher aquilo era um gesto exibicionista de seus bens e isso enojou a garota, que estava com uma confusão de ideias em sua cabeça, exibir objetos de grande luxo e brilho para atraí-la era nojento e ofensivo.

"Ele é estúpido?" A mulher pensou.

Taliw não sabia muito sobre ele, exceto que ele era um mitri e se sentava junto com o velho Bill e apenas pessoas como o Bill se sentavam junto ao Bill. Ele não poderia ser boa notícia, e também não era como se fosse uma pergunta no qual ela esperava e instantaneamente sua mente trouxe de bandeja os motivos pelo qual ela não gostou do que viu. Ele era claramente um homem estupidamente convencido, era algum tipo de criminoso, não se incomodava em andar lado a lado de um assassino temido e reconhecido, ele era um exibicionista das riquezas que tinha e ele cheirava aquele odor ruim de fumaça de charuto e o pior, sangue.

No entanto, ela também sabia que não podia se dar ao luxo de insultá-lo "novamente". Havia uma única palavra que passou a rodear sua cabeça, e era a única que ela lutava para não deixar sair de seus lábios.

- Não. - Ela realmente não queria dizer isso, ela não era idiota, mas escapou.

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