IV

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  Ray estava na biblioteca, pela janela ele conseguia ver algumas pessoas correndo pelo campo, mas aquilo estava longe de ser agradável.

  Pela segunda vez, desde que estrara ali, ele verificou se havia alguém ali, mesmo sabendo que tinha, mas teria que continuar agindo como nos outros dias.

  Após fingir olhar em volta, ele passou pelos corredores, repletos de livros, e chegou ao seu local favorito.

  Cercado por três móveis, Ray tinha um pequeno espaço, onde poderia ficar sozinho, algumas vezes até escondido. Atrás dele, havia um lugar escuro, a luz da lâmpada não pegava naquele lugar. Então se alguém se escondesse ali, muitos não perceberiam até que a pessoa decidisse se mostrar.

  Mas Ray era diferente, tinha treinado todos os seus sentidos, inclusive sua visão no escuro, conseguia definir a pessoa que estava alí, mesmo quase sem olhar para lá. Sem contar, que ele tinha ouvido a pessoa se movendo até alí muito tempo atrás.

  - O que quer comigo, Gilda?- Ele falou, com seu tom entendiado de sempre, e deixou de fingir que não via, se virando completamente até o local.

  - Poxa Ray, eu pensava que iria durar mais tempo. Pelo visto você é bom mesmo.- Ela saiu das sombras, e se apoiou em um dos móveis mais baixos.- Podemos conversar?

  - Seja breve, por favor.- Ele forçou um sorriso, e subiu as escadas de um dos móveis, logo, ficou deitado pelo pequeno espaço que tinha, entre o topo do móvel e o teto.- Antes disso, por que estava me perseguindo essa semana?

  - Você sabia esse tempo todo?- Ela realmente pareceu surpresa dessa vez, mas, depois de suspirar algumas vezes, desistiu de esconder.- Eu descobri algo sobre você, e acho que posso te ajudar, mas antes, precisava ter certeza disso.

  - Você? Descobriu algo sobre mim?- Ray riu, ironicamente. Ele estava tratando a situação como uma piada.- Não tem nada que você possa descobrir sobre mim.- O garoto falava "você", se referindo à Gilda, de uma forma ainda mais irônica.

  Era fácil perceber o complexo de superioridade de Ray. Na visão dele, qualquer pessoa que não fosse do trio, era um estorvo, e atrapalharia qualquer um de seus planos.

  Mas ele não é tão mal assim. Ray teve uma infância difícil, a partir do momento que sua própria mãe fingia não o conhecer e criava várias outras crianças em sua frente.

  Ser amigo de Norman e Emma havia sido uma benção que nem ele mesmo sabia que merecia. Aquelas crianças, poderiam roubar dele qualquer coisa que ele teria construído. Inclusive sua amizade com aqueles dois.

  Mesmo se mostrando insensível, aquela amizade era a coisa que mais significava para ele em todo o mundo. Ray daria a própria vida de bom grado para conseguir fazer Norman, ou Emma, serem felizes.

  - Acho bom você parar de duvidar de mim, e ouvir o que eu tenho a dizer.- Gilda, que já estava visivelmente irritada, por ser humilhada daquela forma.

𝙄𝙢 𝙢𝙖𝙙 𝙬𝙞𝙩𝙝 𝙀𝙢𝙢𝙖. Onde histórias criam vida. Descubra agora