𝙄𝙢 𝙢𝙖𝙙 𝙬𝙞𝙩𝙝 𝙀𝙢𝙢𝙖.

XXVI

  - Meu pai?- Ray perguntou, um pouco surpreso e viu a mulher assentir.

  Rapidamente, ele se lembrou das poucas vezes que tinha ousado perguntar pelo assunto e nunca recebia a resposta, e algumas vezes apenas era ignorado.

  Ele não tinha nada em mente sobre o que tinha acontecido com o pai, afinal nunca o conheceu, nunca viu ao menos uma foto. Para ele, era apenas o responsável por ter nascido.

   Um silêncio estranho se estabeleceu no quarto, até que Ray fizesse uma expressão que motivou Isabella a começar falando.

  - Quando nós nos conhecemos, ainda estávamos na escola. Eu já conhecia a Violet, e ela sabia o quão feliz e inocente eu era na época...- Uma grande pausa foi feita, e Ray percebeu que os olhos quase violetas da mulher já estavam marejados, foi só então que ele começou a ter medo do que poderia vir.

  - A senhora quer mesmo falar sobre isso... Mãe?- Ele acrescentou após alguns segundos e Isabella olhou para ele, tentando sorrir.

  - Estudamos juntos por cinco anos. Eu nem sei quando foi, mas tinha me apaixonado por ele... E ele também. A Violet aprovava o namoro mais que tudo, e o mesmo com meus pais, estava tudo ótimo, foram os anos mais felizes da minha vida.

  Estava tudo feliz demais, Ray tinha acabado de conhecer uma versão da sua mãe feliz que nunca tinha presenciado. Afinal, mesmo quando ele era novo, e eles ainda conviviam juntos, ela nunca era carinhosa com ele.

  - Alguns anos se passaram, eu tinha terminado minha faculdade, ele era um ano mais velho então já estava trabalhando e começando a ganhar o dinheiro.- Ela sorriu, aparentemente estava tento todas as lembranças bem claras em sua mente, mas, Ray no mesmo momento viu a primeira lágrima escorrer pelos olhos dela.

  - Nós nos moicanos assim que descobrimos que eu estava grávida, ele já pretendia fazer um pedido mais organizado, mas não pôde esconder, quando eu contei. Duas notícias boas no mesmo dia, foi ótimo.

  No momento, várias lágrimas caíam dos olhos dela, e Ray se impressionava sobre como ela ainda continuava dizendo as palavras perfeitamente. Ele não sabia o que fazer, se abraçava ela, e tentava fazer com que a mulher parasse de choras, ou apenas continuava escutando. Ele optou pela segunda opção.

  - Foram necessários sete meses para fazermos o casamento dos sonhos que ele queria. Ele dizia que eu era uma princesa, e que merecia tudo aquilo e muito mais. A presença dele na minha vida tinha mudado tudo. Eu me sentia a pessoa mais feliz do mundo. Mas, no dia do casamento... Ele estava vindo junto com meus pais, queriam fazer uma surpresa na cerimônia para mim, e chegariam um pouco mais tarde por causa disso.

  Foi nesse exato momento que todo o resquício de felicidade na expressão dela sumiu, e até mesmo as lágrimas pararam. Ray sabia que esse seria o momento que algo de ruim aconteceria.

  - Um acidente de carro. Uma rua de distância do local do casamento. Morte instantânea dos meus pais, mas ele aguentou por um pouco mais de tempo. Tempo o suficiente para que eu soubesse, chegasse lá, e ele me dizer que eu estava linda, e que ele era muito feliz por estar comigo.- As lágrimas voltaram a cair, muito mais fortes que antes, e Ray, por um instinto, envolveu a mãe em um abraço.- Eu perdi as três pessoas mais importantes para mim, em um único dia. O dia que deveria ser o mais importante para mim, foi o início de um desastre.

  - Ele... morreu?- Ray falou baixo, enquanto tentava ao máximo mostrar sua presença e dizer, silenciosamente, que estava alí para sua mãe.

  - Antes mesmo da ambulância chegar... Nos meus braços. O nome dele era Ray.