𝙋𝙧𝙤𝙡𝙤𝙜𝙤

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Você já teve dias ruins? Sabe aqueles em que o alarme não toca, o pão praticamente pega fogo na torradeira e você lembra tarde demais que todas as suas roupas estão encharcadas, esquecidas na máquina de lavar? Aí você entra correndo na escola, quinze minutos atrasada, rezando para ninguém notar que seu cabelo está um desastre total, mas bem na hora em que senta no seu lugar, o professor berra um "Atrasada hoje, Molina?" e todo mundo olha pra você.
Hoje era um desses dias, e para piorar as ameaças estavam cada vez mais intensas, tentei focar na escola o máximo que eu consegui, até porque eu ainda gostaria de me formar. Depois tentei me concentrar nos ensaios do próximo show, mas estava tudo tão estranho. Não consegui acertar um passo de todas as coreografias que eu sabia decor, errei algumas notas que eu mesma compus.
Cada vez que eu fechava os olhos eu lembrava de todos os comentários ruins que eu vinha recebendo, as ameaças a minha família e amigos, só conseguia lembras das pequenas confusões que estavam acontecendo no final dos meus shows.
O ensaio estava péssimo, nada estava bom, o meu coreógrafo até achou melhor que tivéssemos o resto da tarde descansando para que no dia seguinte estivesse tudo certo para o ensino geral.

Terminei de pegar todas as minhas coisas e voltei para casa acompanhada da minha melhor amiga, Carrie. A primeira coisa que eu queria fazer era tomar um banho, colocar um moletom e assistir alguma coisa na televisão com ela, e esquecer que esse dia existiu, mas infelizmente não foi isso que aconteceu. Assim que cheguei em casa vi meus pais e meu irmão sentados a mesa, junto com os meus empresários e uns oficiais de justiça, é claro que eu não fazia ideia sobre o que estava acontecendo.

- Filha, que bom que chegou mais cedo hoje - minha mãe fala tranquila-

- É, o nosso coreógrafo nos liberou mais cedo. O ensaio não estava muito legal - Falo dando de ombros- Carrie e eu vamos assistir um filme, se precisar da gente é só nós chamar - Caminhamos em direção a escada-

- Precisamos ter uma conversa séria - meu pai fala e nós paramos- Carrie, será que você poderia nos deixar a sós?

- É claro tio - Carrie fala tranquila- Amiga se precisar de alguma coisa eu vou estar em casa viu?

Ela se despede com um abraço, e da um beijinho na bochecha dos meus pais e vai embora.

- O que aconteceu? - me sento a mesa com eles-

- Bom Julie, nós contratamos uma empresa de segurança para ficar monitorando suas redes sociais, caso aconteça de você receber novas ameaças - meu empresário fala- E bom parece que nessas últimas semanas elas vem aumentando cada vez mais.

- É, eu sei -falo meio baixo- Recebi algumas notificações sobre isso.

- Acontece que agora não estão mais ameaçando só você, ontem detectamos alguns comentários nas fotos de seus pais e da sua melhor amiga. - meu empresário fala preocupado- Não são comentários simples de "hate" e sim que interferem na sua integridade física e dos seus amigos também.

- E o que nós vamos fazer para isso acabar? - Falo preocupada- Vamos desativar os comentários das minhas fotos e fechar as DMS?

- Isso não seria o suficiente - o oficial de justiça fala pela primeira vez- Não sabemos ao certo quem está por trás disso, e precisamos manter você, sua família e amigos em segurança. Por isso vocês iram se mudar.

- Mudar? Mudar para onde? - pergunto assusta-

- Para uma pequena cidade no Oregon -Minha mãe fala-

- NÓS VAMOS PARA O OREGON?

- Nós temos uma equipe boa lá e estarão por perto de vocês sempre. - O oficial de justiça fala-

- Mas eles vão nos reconhecer não vão? - Meu pai pergunta-

- Vocês irão mudar de identidade,e vão viver uma vida normal e comum em Beavertom. O primeiro nome não precisa mudar, apenas o segundo.

A cada palavra que o oficial de justiça falava meu coração rachava um pouco, como eu poderia ficar longe da Califórnia? Eu nasci aqui, fui criada aqui, meu amigos e meu namorado estão aqui. Eu não conseguiria ficar longe disso, minha vida está aquilo, a minha música está aqui.

- Julie está aí? - sou tirada dos meus pensamentos quando meu empresário me chama- Você vai precisar se afastar de suas redes sociais, seu instagram e twitter ainda estarão sendo observados pelos oficiais de justiça, e contrataremos uma pessoa para que fica responsável pela suas postagens enquanto estiver ausente.

- Então eu também não vou poder ter um celular? - é a única coisa que consigo falar-

- Você pode ter um celular Julie, só não poderá se comunicar com os seus seguidores enquanto estiver sobre a nossa proteção. - O oficial fala- não sabemos ao certo se quem está fazendo as ameaças consegue rastrear você e sua família, então achamos que será mais seguro!

- Tudo bem... E a minha música?

- Você terá que ficar longe da música também... - meu empresário fala-

Fico totalmente sem ar, e o mundo começa a girar, sinto um aperto no meu peito. Ficar sem música para mim e como se eu ficasse sem ar para sempre, é como ficar em água ou comida por um dia, é pior do que você terminar um relacionamento ou perder seu celular e suas redes sociais.
Não podia acreditar que aquilo estava acontecendo, podem me tirar tudo, menos a música é com ela que eu me conecto com os meus fãs, com os meus sentimentos. Começo a sentir minhas lágrimas escorrendo, e tudo volta naquele mesmo instante a fazer sentido, se eu cantasse na frente de todos, provavelmente iriam me reconhece.

- Julie você vai precisar ser forte - minha mãe segura a minha mão- Você vai conseguir, nós vamos estar com você.

- Por quanto tempo vou ter que ficar sem a música? - É a única coisa que eu consigo pensar-

- Não sabemos, esperamos que seja por pouco tempo mas pode ser que demore mais de um mês para encontrarmos quem está por trás disso - o oficial fala- por isso achamos melhor que vocês fossem o mais rápido possível para lá.

- Já acertamos uma casa completa que tem tudo que vocês precisam, também já matriculamos os dois em escolas. E vamos comprar as passagens aéreas agora mesmo. -meu empresário entrega uma pasta para meu país e minha mãe-

- Não será necessário, eles não podem ser vistos e nem chamar atenção então vão de carro até o Oregon. - O oficial fala-

- Preciso avisar Carrie e Nick sobre isso, arrumar minhas malas... - falo ainda em choque olhando fixamente para o quintal-

- Julie, você não pode contar a ninguém onde está, e perigoso demais - o oficial fala-

- Não posso me despedir da minha melhor amiga e do meu namorado?

Meus pais e meu empresário olham para o oficial de justiça como se imploração para que me deixasse pelo menos me despedir dos dois.

- Bom tudo bem, mas não conte para onde você vai. Quando chegarem lá vocês terão vidas novas, telefones novos, roupas novas.... - o oficial fala-

Respira. Respira. Respira.
Liguei para Nick e Carrie e contei tudo o que estava acontecendo, mas é claro não contei para onde ia. arrumei algumas coisas importantes que eu gostaria de levar, minha blusa favorita, meus livros preferidos, meus cadernos de música, meu caderno de composições. estava quase tudo pronto para ir, quando eu olhei meu violão pendurado na parede, e não podia leva-lo, mas também não podia deixar ele aqui, esse violão foi meu parceiro durante anos, foi com ele que eu aprendi a tocar minha primeira nota foi com ele que eu comprei a minha primeira música e deixar ele seria como deixasse uma parte do meu coração para trás. Eu não conseguiria fazer isso, coloquei ele dentro da capa e coloquei ele no porta-mala do carro sem que ninguém visse.

Agora eu estava a caminho da minha nova vida, na vida que eu não conhecia e nem saberia o que ia acontecer.

𝑼𝒏𝒊𝒕𝒊𝒍 𝑻𝒉𝒆 𝑳𝒂𝒔𝒕 𝑳𝒊𝒈𝒉𝒕 / 𝐽𝑈𝐾𝐸Onde histórias criam vida. Descubra agora