Valentina
Eu havia pegado no sono enquanto estava perdida no meus pensamentos sobre a faculdade, e principalmente sobre o fato de que meu sonho de ser uma arquiteta iria se tornar realidade. Acordo antes do relógio despertar, eu estava pronta, preparada para a vida nova; estava animada para novas aventuras, novas pessoas que iria conhecer.
Levantei às pressas, e corri ao banheiro para tomar um banho frio, preparando-me para o próximo dia e para o calor que estaria previsto fazer; termino de secar meu corpo e tento me vestir como uma garota da cidade.
Em um momento de nostalgia, olho em volta do meu quarto, e relembro todas as memórias que já tive; como a vez em que fui tentar pegar um brinquedo na prateleira alta e acabei caindo no chão e quebrando o pé, ou a vez em que eu estava cantando e desfilando junto das minhas bonecas, e meu pai entra no quarto quando eu estava "agradecendo" os juízes; são tantas lembranças que não consigo segurar a gota de lágrima que insistia em cair, sentia que uma era havia se passado e que aquela criança ou adolescente já não pertencia àquele quarto.
Sigo arrumando meu quarto para a despedida, e me lembro "Aí Senhor, ainda não arrumei minha mala!! Como posso ser tão esquecida?"; desesperada, jogo as roupas em cima da cama, juntos dos sapatos, e roupas íntimas, amontoando e empilhando tudo como se fosse couber na mala.
No meio do meu desespero, minha mãe entra no meu quarto.
—Val, o que está acontecendo?
—Mãe, eu esqueci de arrumar a mala, ontem estava tão entretida com o aniversário do pai que acabei esquecendo deste grande detalhe.- digo ofegante por estar correndo para achar tudo que irei necessitar.
—Val calma, deixa que a mãe te ajuda a arrumar, tá?!- apenas sinalizo com a cabeça.Com apenas 30 minutos, minha mãe e eu conseguimos arrumar minha mala, e algumas outras bobagens que faltavam separar, não achava que minha mãe seria tão rápida, mas também dona Eleonor é a melhor em tudo que faz.
Com tudo pronto, acabo sentindo uma tristeza repentina, por pensar que não vou ter minha mãe para ajudar-me em coisas do cotidiano como está, não irei tê-la para me acordar quando me atraso, ou me lembrar de coisas que sempre esqueço; pensar que vou deixar essa vida para iniciar outra é como uma despedida eterna, mas espanto esse pensamento para longe e foco na enorme ansiedade que estava sentindo.
—Vamos Val, teu pai já está acordado e com o carro ligado para te levarmos até o aeroporto.
—Só falta descer essas bagagens mãe, assim que terminar já podemos ir.Confesso que descer minhas malas não foi uma tarefa fácil; penso comigo "Deus quantos livros eu realmente precisava levar mesmo?, Mas livros nunca são demais". Tudo arrumado e já colocado no porta mala do carro, mas eu sentia que faltava algo, e algo importante, até olhar para o quadro do meu pai e perceber que faltava apenas minha maleta de tintura. Agora sim, tudo pronto para minha partida.
Dentro do carro, conversava tranquilamente com meus pais, perguntando e brincando em como seria a vida deles sem eu por perto, e claro que a resposta da minha mãe foi a melhor.
—Será um alívio!- diz rindo- principalmente porque não vou ter que ficar te lembrando de algo.
—Ah mamãe, eu sei que adora lembrar-me das coisas, isso a deixa feliz- digo fazendo careta.
—Eu sei que minha vida vai ser uma miséria- diz meu pai fazendo um grande drama.
—Pelo amor de Deus Breno, para com esse drama exagerado, até parece que ela vai nos abandonar e morar do outro lado do país.
—Eleonor, meu bem, como você pode ser sarcástica e não perceber um sarcasmo vindo de mim?
—Simples, tu sempre foi e é dramático, as vezes temos que acreditar no mais provável né.
—Pessoal, o que acham de passarmos na Lanchonete da Vovó Santina, e comermos um belo pedaço de torta ?
—Eu acho uma boa ideia- concorda mamãe.
—Se você estiver adiantada em relação ao horário do voo, eu estou dentro.- diz papai.Assim então paramos na lanchonete, que estava apenas alguns quilômetros a frente, e compramos 3 pedaços de torta para viagem, porque não podíamos esquecer que a avenida para o aeroporto vivia em trânsito.
A cada momento que se passava uma árvore ou uma casa, até a chegada no aeroporto, eu sentia uma angústia enorme crescente em meu peito, meu coração estava acelerado, minhas mãos suavam; porém não era um sentimento ruim, mas sim de excitação por estar indo à lugares novos.
A despedida foi a hora mais difícil, meu pai que é sentimental, ficou mais ainda, não parava de me abraçar, e dizer que iria me buscar na cidade e me trazer de volta. Por fim, quando me dei conta já estava entrando no aeroporto, caminhando em direção ao embarque, passando por todo o procedimento de verificação e que não foi demorado, e ao final caminhei animada para o assento no avião, imaginando a minha nova realidade.
Ao passo que entrava no avião, a insegurança de ir à um local desconhecido crescia em meu peito, e junto dela as inúmeras consequências negativas que minha chegada podia causar. Quando se vive em uma bolha, ao estourar é complicado assimilar e acostumar com a realidade tentadora e perigosa que está à espera, porém é necessário coragem e determinação para ultrapassar esses limites, e era exatamente nesse sentimento que eu estava me focando.
Viver na cidade não vai ser uma tarefa fácil, mas também não é algo impossível. O importante é sempre lembrar que podemos mudar, evoluir, mas nunca deixar que a nossa essência se perca. Estava tão distraída nos pensamentos, que não percebo quando o avião decola, apenas sinto a turbulência e o piloto avisando que já estamos no ar, e confirmo assim que olho para a janela e já enxergo as nuvens de perto.
Eu espero que o apartamento que aluguei com tanto trabalho não seja algo diferente do meu esperado, e mesmo se fosse terei que morar lá mesmo, não terei outra opção. Passam 30 minutos e decido fazer algo para me entreter, " já sei, vou ler o livro da Mary Shelley, que papai me deu no meu último aniversário" penso comigo.
Duas horas depois...
A viagem passa até que rápido para alguém que nunca viajou de avião. Achei que iria demorar mais ou ficaria entediada, mas nem percebi o tempo passar. O piloto liberou a saída dos passageiros, e eu por vez já estava atenta ao caminho que deveria seguir, pois não faço a mínima ideia em como sair do aeroporto e seguir ao meu destino.
Até que sair do avião, e procurar minhas malas não foi tão difícil, tive ajuda de uma senhora, a Fernanda, que me indicou todos os lugares em que eu precisava passar para sair do aeroporto. Com todas as bagagens etiquetadas, identifiquei as minhas malas facilmente, e já sai o mais rápido que pude do aeroporto, e esperei um táxi do lado de fora. Demoraram em torno de 15 min para um táxi aparecer, e quando avistei, corri para chamar.
A corrida até meu apartamento foi um pouco longe do aeroporto, mas confesso que valeu a pena, pois assim pude ver de perto todos os enormes prédios, e a bagunça de pessoas que é a cidade de Supreminview.
Tempos depois...
Cheguei ao meu apartamento, e ele é exatamente como eu e meu pai alugamos, aconchegante e médio. O taxista me ajudou a levar as malas até o 2' andar, e eu dei uma gorjeta a mais pela ajuda, era um bom senhor e super gentil. Passei o resto da minha tarde arrumando todas as minhas bagunças no apartamento, pois sei que quando começasse a trabalhar e a estudar o tempo seria curto. Já pela noite, eu estava exausta e sem energia para fazer nada, apenas tomei um banho rápido, e me joguei na cama. Tentei dormir, mas o calor estava insuportável, estava abafado, e não parava de esquentar, foi então que percebi que liguei o aquecedor sem querer."Boa Valentina ! Já começou bem"
Me certificando de que nada estava ligado, ou que a porta estivesse aberta, consegui dormir tranquilamente.
Eu nunca andei de avião, então se algo estiver errado, eu posso arrumar !!
Espero que gostem🤍
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Paradise on Earth
RomanceEm meio aos momentos mais inesperados, o amor emerge, muitas vezes desafiando nossas expectativas pré-concebidas. Longe dos enredos de novelas e dos contos românticos, encontramos um amor real, genuíno e singular, capaz de envolver e transportar amb...