Best Part

XI. Cherry wine

Charlotte sugou o milkshake de chocolate tentando aliviar a frustração que corria por seu corpo, estava sentada em uma mesa vazia do lado de fora de uma lanchonete, o blazer de Henry a protegia da leve brisa gelada enquanto encarava a avenida parcialmente movimentada à sua frente. Henry estava pagando pelos lanches e enfrentava uma pequena fila, mas Charlotte não precisava se virar para saber que ele a observava de onde estava.

Afastou o canudo da boca e soltou um leve suspiro, a noite que planejou com todo o cuidado saiu totalmente diferente do que esperava. Seu plano era apresentar Henry a todos e talvez ter um desentendimento com sua mãe, o que não esperava era que sua avó, que nos últimos tempos estava faltando a algumas reuniões, resolvesse que aquela fora a melhor noite para retornar. O desentendimento com sua mãe acabou por virar uma briga desgastante e para piorar havia Elliot, se ela pudesse com toda a certeza já teria evaporado aquele ser da face da terra. Se fechasse os olhos poderia repassar tudo o que havia dado errado naquela noite, começando com a pergunta de sua mãe.

◇ ◇ ◇ ◇ ◇

- O que você realmente sente por ele?

Charlotte tentou não demonstrar o quão surpresa havia ficado, piscou rapidamente e abriu a boca para responder, não poderia mentir e dizer que o amava porque sabia que sua mãe nunca iria acreditar, mas também não iria dizer que somente gostava dele, tinha que se ater ao mais perto da realidade.

- Ele me faz bem. - não era uma mentira, Henry Hart realmente fazia bem à ela.

O peso do anel de noivado era a lembrança desse fato. Sentiu um calor se espalhar por seu corpo ao perceber que ele notara um detalhe tão pequeno que havia passado despercebido por ela. Porém, qualquer sentimento reconfortante que estivesse sentindo evaporou ao escutar o tom levemente desdenhoso de sua mãe.

- Isso não é o suficiente para se casar com um desconhecido. - Clarice afirmou, claramente não gostando de sua resposta. - Se eu tivesse me casado com cada homem que me fez bem, você teria tido outro pai.

- Por favor, mãe. - resmungou incrédula quando a escutou soltar uma leve risada inesperada.

Quis parar tudo naquele instante, poderia passar o resto da noite somente escutando sua mãe rir, era um som que não escutava sempre.

- Nós duas sabemos que apenas gostar de alguém não é o suficiente para se jogar em um compromisso tão grande. - o tom autoritário havia retornado e a Page sentiu que estavam adentrando um caminho perigoso.

- Acredito que Henry e eu temos o necessário para construirmos um relacionamento saudável. - resolveu adotar uma atitude diplomática. - Ele possui um emprego fixo assim como eu e...

- Ele sabe de sua herança?

- Ele nem sabia que eu morava aqui. - respondeu de maneira seca.

Clarice levantou-se calmamente e ficou em frente à Charlotte, ela quis correr diante do olhar intenso que sua mãe a lançava, já haviam tido aquela conversa inúmeras vezes e suas opiniões nunca chegaram a entrar em um consenso. Para a Page mais velha, sua filha sempre se encontraria a mercê de pessoas que estariam somente atrás de seu dinheiro. Charlotte não era ingênua, cresceu em um mundo em que o valor bancário era mais importante que suas qualidades, mas nunca deixou de acreditar que existiam pessoas realmente leais e as encontrou, tanto no mundo em que cresceu quanto no que estava vivendo. 

- Sei que você detesta quando entramos nesse assunto, mas você não pode me criticar por estar preocupada com o fato da minha única filha se casar com alguém que conheceu só há um mês praticamente.

Ela tinha um ponto e aquilo desarmou um pouco Charlotte, Clarice percebeu e continuou sua defesa pensando estar finalmente convencendo sua filha a fazer algo que ajudasse ambas.