O dia havia amanhecido frio e ao decorrer das horas a temperatura diminuira. Passou todo o horário escolar ocupada, não atendia a telefonemas que não fossem de Piper ou Bysh e nem respondia as mensagens que recebia. Seus passos eram apressados, sua mente rodopiava em possíveis cenários de conversas e suas mãos tremiam ao pensar no que seu pai poderia lhe dizer. Richard estava hospedado em um hotel bastante confortável no centro da cidade, não era longe de seu trabalho e nem da casa que compartilhava com Clarice.
Pulou uma poça de água que se mantinha apesar da chuva já ter passado, o fim de tarde ficara nublado e um chuvisco leve ainda se fazia presente. Tentava não pensar no quanto o clima combinava com seu humor. Esperava que a conversa com seu pai fosse menos desgastante do que a que tivera com sua mãe no dia anterior. Chegou à frente do prédio e entrou diretamente para o hall, após ser atendida e anunciada, adentrou um elevador onde três pessoas ricamente vestidas esperavam por seus andares. Ao chegar no sexto andar, saiu sem olhar para nenhum dos que estavam com ela e seguiu direto para o quarto de seu pai, somente duas batidas foram necessárias para que ele abrisse a porta.
- Olá, abelhinha.
A saudou com um sorriso triste, bolsas sob seus olhos denunciavam noites mal dormidas e o cansaço era evidente em cada linha de expressão em seu rosto. Charlotte se jogou para cima dele o abraçando fortemente, seu pai era somente alguns centímetros maior que ela, porém parecia tão pequeno entre seus braços. O homem a apertou como se a qualquer momento ela pudesse desaparecer, aquele gesto fez algo dentro de Charlotte quebrar e antes que conseguisse controlar, lágrimas já desciam por seu rosto.
Parados à porta de um hotel estranho, se consolavam sem saberem os motivos de cada um. Charlotte se sentiu novamente com cinco anos, quando procurava conforto nos braços do pai após alguma nota baixa ou comentário problemático disfarçado de piada de mal gosto que escutava de algum colega. Sentira tanta saudade dele, parecia que seu coração se quebrava e remontava diversas vezes, não sabia como, mas sentia que o mesmo acontecia com ele.
Se afastaram após alguns minutos e ela seguiu para dentro do quarto enquanto ele fechava a porta. O local era como qualquer outro quarto de hotel, um ambiente desprovido de qualquer apego, preparado para a passagem de quem não planejava ficar. Sentou em uma das duas poltronas que ficavam em frente à uma enorme janela, esperou que ele ocupasse o assento à frente para perguntar.
- O que está acontecendo?
Richard desviou de seu olhar e encarou a vista da cidade que se movimentava alheia ao que acontecia naquele velho quarto de hotel. Ele coçou o queixo como se procurasse em sua mente o início de uma explicação, seus dedos da mão esquerda tamborilavam no braço da poltrona azul clara, parecia que envelhecia a cada segundo que se passava. Charlotte encolheu-se internamente, seu pai não parecia estar com pressa para contar o que motivara toda aquela confusão, isso a preocupava já que ele sempre fora um homem prático e prezava por respostas diretas e sem rodeios.
- Acredito que sua mãe não tenha lhe contado nada.
- Nada do que importa. - rebateu, sua voz soando mais dura do que gostaria.
- Ela tem um péssimo tato em relação às pessoas, sempre digo que ela é uma médica maravilhosa porque sabe se distanciar naturalmente. - riu suavemente como se fosse uma piada interna que compartilhava com Clarice, ele ainda não a encarava.
- Bom, nós dois sabemos que ela pode muito bem escolher o tamanho da distância que coloca entre todos, principalmente em relação à mim. - se sentia desconfortável por ver que seu pai ainda a defendia e por estar soando como uma criança birrenta.
Richard pareceu ter entendido por seu tom o que ela estava pensando e o sorriso em seu rosto diminuiu, a mão que estava em seu queixo caiu para seu colo enquanto ele piscava lentamente ao observar o céu mudar de cor aos poucos.
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Best Part
Fanfic- Você claramente precisa conversar. - afirmou, e continuou a falar antes que ele a impedisse. - Sempre dizem que conversar com um estranho é mais fácil, acredito nisso, deve ser bem mais leve falar com alguém que é de fora e que pode lhe dar outra...