XXXII. The scientist

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Aviso: o capítulo a seguir contém menção a abuso emocional.

Charlotte tamborilava os dedos sobre a bancada da mesa de vidro, estava sentada de frente para a enorme janela que dava vista para a rua movimentada. Marcou de encontrar com seu pai em uma cafeteria no centro após seu expediente e esperava ansiosa por ele. Decidiu que já estava na hora de esclarecer tudo entre os dois, não sabia muito bem o que esperar da conversa, só que não queria mais que a parede espessa que surgiu continuasse entre eles.

Escutou um pequeno bipe informando sobre uma nova mensagem, porém não retirou o celular da bolsa, não queria falar com ninguém naquele momento. Estava se preparando para enfrentar todas as possibilidades possíveis que poderiam resultar daquele encontro e só queria que ele aparecesse logo para que tivessem um desfecho.

De onde estava sentada conseguia ver quem vinha da esquerda, seus olhos focaram no homem de meia idade que vinha conversando com uma mulher que estava com o rosto meio coberto por conta de um chapéu de aba larga que usava. Eles vinham andando devagar, conversando em um sussurro concentrado. Charlotte sentiu seu corpo gelar ao notar o quão familiar a mulher era de sua mãe.

Seu coração acelerou a um ritmo absurdo, sua respiração se tornou desregulada e seu corpo ao mesmo tempo em que gelou se tornou petrificado. Sentia estar sendo puxada para um pesadelo, aqueles em que seu corpo paralisava e ao abrir a boca para gritar nenhuma voz podia ser ouvida. Essa sensação a tomou por completo; com seus olhos vidrados em seu pai, suspirou aliviada quando o viu entrar na cafeteria sem a mulher desconhecida.

Ele abriu um sorriso tímido ao vê-la e Charlotte percebeu que um mesmo sorriso veio facilmente em seu rosto. Não sabia em que pé estavam, por isso permaneceu sentada, com o coração batendo a mil, as mãos trêmulas e uma enorme força de vontade a impedindo de derramar as lágrimas que tanto queria. Escondeu as mãos no colo, longe do campo de visão do pai, o impedindo de perceber o quanto ela se encontrava nervosa.

- Oi, abelhinha.

Ele saudou em um tom de voz baixo, como se estivesse com medo dela sumir em um passe de mágica. Richard se aproximou mais, inclinou-se e a beijou delicadamente no topo de sua cabeça. Charlotte fechou os olhos e aproveitou a calma que a presença de seu pai a trazia. Richard se afastou e sentou na cadeira à sua frente, Charlotte inspirou profundamente e esperou.

- Não sei bem como começar essa conversa. - admitiu, um tanto sem jeito. Ele cruzou as mãos sobre a mesa e a fitou nos olhos. - Sinto muito não ter entrado em contato antes, imaginei que você não fosse querer me ver.

- No início não. - teve que confessar, torcendo as mãos por baixo da mesa. - Mas depois que a raiva passou, eu só queria entender tudo e me entender um pouco. Só que os dias passaram, viraram semanas e você não me procurou.

Estava claro em sua voz o tom de mágoa. Richard se encolheu um pouco, Charlotte se sentiu mal por provocar aquilo em seu pai, mas não podia mudar a realidade. 

- Muitas coisas aconteceram, filha. 

Queria gritar e dizer que com ela também, e que isso não era uma desculpa real para a ter ignorado. Porém se manteve calada e esperou que ele continuasse. Richard inclinou o corpo para frente, abriu um pequeno sorriso sincero antes de dizer.

- Conheci o seu irmão. - o sorriso aumentou quando ela expressou surpresa. - Sim, também foi inesperado para mim. Mas sua mãe disse que eu era pai apesar de tudo e que não era justo que eu não o conhecesse. Sua mãe pode ser extremamente generosa, Charlotte. 

- Se pode, esconde muito bem. - afirmou um tanto sarcástica.

Seu pai resolveu ignorar seu tom e começou a falar sobre a viagem que tinha feito até Utah, o quanto Loui se parecia com ela quando pequena, o que Charlotte achou um pouco estranho e atencioso. Tentou ouvir cada relato de seu pai, estava curiosa sobre Loui e ainda se acostumando com a ideia de que tinha um irmão. Era estranho, passou a vida toda como filha única assim como Loui e agora os dois possuíam o mesmo pai.

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