– A gente vai sair. – Erick apareceu na porta do quarto. – Você vai junto.
Nunca fui fã de sair para os lugares, digo, prefiro ficar deitada na minha cama, vendo algum filme, melando as mãos com um pote de nutella, comendo pipoca, e sei lá, conversando com alguém que não seja idiota. Odeio festas, quando alguém me pergunta se eu gosto ou não, sempre se assusta, porque afinal, não é comum uma garota de dezesseis não gostar de festa.
Olhei para Erick, ele estava com uma blusa branca de manga, com uma calça preta. Seu cabelo estava todo bagunçando, acho que demorou cerca de uns dez minutos para 'bagunçar' o seu cabelo daquele jeito.
– 'A gente' se envolve eu, você, e seus amigos gays? – Desviei meu olhar para a capinha do meu celular.
– Você me entendeu. – Ele ficou sério. – Se arruma logo, vai.
– Não vou sair porra nenhuma. – Revirei os olhos. – Eu não sou obrigada a sair com vocês.
– Que bom. – Ele se virou. – Pelo menos não irei ter que ficar olhando para uma criança.
Vamos se dizer que, aquilo me fez ficar com raiva demais. Me levantei, fiquei atrás dele, antes de eu fazer alguma coisa, ele se virou e sorriu. Revirei os olhos.
– Vou me arrumar. – Me virei para a porta do banheiro. – Vaza do meu quarto, idiota.
Ele bateu a porta com força, jurei que a porta iria quebrar. Abri o box do chuveiro, tirei a roupa, liguei o chuveiro e fiquei lá, de baixo do chuveiro. Os pingos caíam em minha costa, a água estava fervendo, o que me fez relaxar ao banho.
Não sinto nenhum pingo de saudades se quer da minha mãe, digo, nada mesmo. Ao contrário de outras garotas que pelo menos chorariam por não ter uma mãe por perto, eu estou aqui, com um sorriso esboçado ao rosto, sem nenhum pingo de saudades. Ao contrário do meu pai, sinto falta dele demais, lembro até hoje do dia em que ele saiu pela porta principal de casa, eu chorei muito, a minha mãe chorou também, só que logo, parou de chorar e mudou suas atitudes, o que fez ela ficar completamente irritante. Eu até que entendo, mais tipo, o que custava dar pelo menos um pingo de atenção na sua filha?
Quando percebi, os garotos estavam gritando lá da sala que era para eu sair do chuveiro. Desliguei o chuveiro, peguei a primeira toalha que eu vi, me enxuguei, abri a porta e logo fui em direção ao chão. Peguei um short preto comum, uma blusa branca, e por fim, botei um vans vermelho. Peguei o primeiro pente que vi em cima da cama, desembaracei fio por fio do meu cabelo, e por fim, peguei meu celular, abri a porta.
Os garotos já estavam de pé, alguns estavam apoiados perto da parede do corredor. Quando coloquei o pé na sala, todos me encararam.
– Como se vocês fossem encontrar uma menina gata para sair com vocês. – Olhei para todos, estavam arrumados. – Não entendo essa pressa toda, sinceramente.
– Cala boca. – Erick abriu a porta, e então saiu.
– Nossa, que revolts. – Saí porta á fora, Erick me fuzilou com os olhos. – Aonde a gente vai?
Todos foram ao elevador de uma vez, ninguém respondeu a minha pergunta. O elevador era pequeno demais para um grupo, um menino idiota, e uma menina linda e perfeita. Chegamos na entrada, até que eu parei de andar e olhei para todos eles.
– Aonde a gente vai? – Perguntei de novo, nada de resposta.
Eles já estavam indo na garagem, até que eu cheguei perto deles e empurrei os dois garotos que estavam do meu lado. Acho que era o Miguel e o Pablo.
– Vocês são surdos? – Gritei. – Aonde a gente vai?
– Você é teimosa, viu. – Erick deu um passo para ir para a garagem. – A gente vai encontrar uns amigos nossos na sorveteria.
Que não sejam idiotas, pensei. Sinceramente, eu amo sorvete, acho que não consigo viver sem um pote de sorvete ao meu lado. Não suporto quando pegam meu sorvete, nem que seja um pouquinho, não suporto.
A gente já havia chegado ao carro, me sentei na frente, óbvio. Os garotos foram atrás, Erick se sentou ao meu lado, ligou o rádio. Olhei na janela e vi vários carros ao lado.
– Eu odeio essa música. – Mudei, pude ouvir que os garotos ficaram com raiva, pelo simples fato de que eles falaram 'ahhhhhhhhhhh, eu adoro essa música, você é uma teimosa, um menino em menina.'
Ao decorrer do apartamento até a sorveteria, foi um silêncio só. Quando avistei uma loja meia azul com detalhes rosa, pude ver que era a sorveteria em que a gente iria. O carro parou bem de frente, fui a primeira a sair, logo foi os garotos. Fiquei perdida só, os garotos foram em direção em uma mesa meia marrom ou sei lá, estavam umas duas garotas sentadas lá.
Me apróximei, vi que era uma morena que havia um nariz mais empinado do que uma menina querendo empinar o corpo para chamar atenção, e a outra era uma loira que só pelo jeito de arrumar o cabelo, pude perceber que eram aquelas meninas fúteis.
– Não sabia que os seus 'amigos' eram duas garotas. – Me sentei entre Yago e Pedro.
As garotas me fuzilavam pelos olhos. Patéticas.
– O que você quer para tomar? – Erick me encarou.
– Um sorvete de cinco bolas, com granulados e morangos ao redor, sem contar a calda de chocolate, obrigada. – Os meninos, as meninas também, me encararam. – O que foi? Prefiro comer desse jeito do que ser magrela igual a essas meninas aí.
– Uma criança como você chupando cinco bo... – Sem antes do Erick terminar, dei um chute na canela dele.
As meninas me olharam, assustadas. Erick se levantou e foi até o balcão, fiquei pensando se essas duas meninas com cara de merda iriam tomar sorvete, já que elas não pediram absolutamente nada.
– Você parece ser um menino. – A voz da loira era uma voz de choro.
– Um menino bem feio. – A morena ri.
Revirei os olhos.
– Vocês parecem aquelas garotas que fazem de tudo para chamar atenção, sabe? – Apalpei o bolso do meu short, até que sinto duas moedas, pego-as. – Toma, aqui duas moedinhas para vocês.
Vi que elas ficaram com raiva. Elas ficaram vermelha, não deixei de escapar a risada, ri alto.
– Olha só para você, – A garota loira pegou o meu cabelo e puxou. – O cabelo dela parece ser palha de adubo.
– E essas unhas? – A morena pegou em minha mão e fez uma cara de nojo.
A minha paciência já estava se esgotando, porque imagina, aquelas duas garotas mais fúteis do mundo querendo te criticar na sua frente. Tudo bem, eu acabei de ver as duas hoje, só que, elas são tão retardadas que não tem o maior direito de falar daquele jeito.
Peguei na mão da morena, e mesmo não querendo fazer, virei a mão dela. Ela soltou um gritinho fino, o que fez com que todos olhassem para mim e para ela. Abri um sorriso cínico.
– Você deveria fazer uma plástica nessa sua cara, porque vai que essa feiura diminui. – Olhei para ela. – Tenho dó da sua mãe!
Larguei a mão dela, me arrastei para o lado da loira, e foi então que eu puxei o cabelo dela, de uma forma que saiu muitos fios de uma vez.
– Eu só não te chamo de traveco, porque nem isso você merece. – Larguei o cabelo dela com força, o que fez ela chorar.
Não basta ser tapada, é chorona, pensei. Os garotos já estavam chegando com potes de sorvetes, até que, Erick viu as duas garotas e largou os sorvetes na mesma hora. Peguei o meu com o Pedro, e foi então que eu tomei olhando para a cena mais falsa do que novelas mexicanas.
– O que você fez? – Erick se apróximou de mim.
– O que eu tinha que fazer. – Olhei para as garotas sendo levadas para algum carro. – Agora, se me der licencia, preciso aproveitar o meu sorvete.
Antes de eu dar um passo para frente, Erick me puxou pelo braço.
– Se você não quer ficar igual aquelas cobras que vocês falam que são meninas, me largue. – E então, ele me largou, sorri.
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Bárbara (Correção)
RomanceApós uma breve discussão com sua própria mãe, Bárbara decide ir para Estados Unidos, sabendo que viveria uma vida totalmente diferente das outras, não sabia que teria que dividir o apartamento com uma pessoa desconhecida. Ela só não sabe que essa pe...