Capítulo vinte e três.

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Acordei, mais quem me acordou foi o meu adorável despertador, joguei-o na parede, como toda adolescente revoltada. Me levantei aos poucos, depois de uns dez minutos, fui ao banheiro. Não preciso nem falar o que fiz lá né, peguei a primeira calça jeans que eu vi no chão, por minha sorte é preta, uma blusa caída aos ombros, o meu amável Vans vermelho, sim tenho uma paixão enorme por ele, e logo batalhei para desembaraçar o meu lindo, digo, terrível cabelo. Dessa vez, queria ir com ele solto.
Peguei o meu caderno, meu celular, e assim fui em direção à sala. Erick estava deitado ao sofá, como sempre.
- Você não se cansa de acordar cedo? Toda vez que eu acordo, você já está nesse sofá. - Olhei para ele, ele me olhou. - Eu estou morta de fome, faz algo para mim comer.
- Não. - Ele pegou o seu celular.
- Sim. - Pulei em cima dele, peguei o seu celular. - Sem o seu celular, você irá poder fazer um sanduíche para mim.
A minha curiosidade era bem maior, coloquei o celular em meu rosto e rodei o menu principal, até ver uma foto de uma garota.
O meu rosto ficou vermelho, minha raiva dominou em mim, tive uma enorme vontade de pegar aquele celular e jogar na parede e depois arrancar dentes por dentes de Erick. Não sabia o que estava acontecendo comigo, não sabia mesmo.
- Quem é essa garota? - Virei o celular para ele olhar. Ele sorriu.
- Uma amiga. - Ele pegou em minha mão, estava com o sorriso nos lábios.
- Que amiga?! - Peguei-o de volta.
Ele me olhou com uma expressão de 'não temos nada linda' e riu.
- Você está com ciúmes. - Ele puxou o celular da minha mão.
Não era ciúmes, não mesmo!
- Não estou com ciúmes. - Dei um tapa em sua cara, me levantei.
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O dia começou bom demais, primeira aula com uma velha gorda que havia bafo de cebola, com uma voz de choro, sem contar que não falava coisa com coisa. Meu sono falou mais alto do que eu.
Segundo horário era com a diretora, uma merda, tive uma vontade enorme de dormir. Vitória, ela estava ao meu lado, me olhava a cada cinco minutos.
- Virou minha vigia agora? - Revirei os olhos.
Ela riu, mais não parou de me olhar. Estava exausta, exausta eu digo, morrendo de sono, sem contar que estava com uma raiva do caralho, queria pegar uma faca e sair matando todos, principalmente a garota do celular do Erick.
- O que vocês acham de termos uma aula diferente? Podemos ir para a quadra, sentar em roda, enfim, se divertir. - Muitos se animaram com o que a diretora disse, ao contrário de mim, achei patético. Sim, a diretora dava aula.
- Sabe o que eu acho? - Me levantei, todos olharam para mim. - Temos dezesseis anos, não somos mais crianças, ao contrário de você, a gente odeia todo esse tipo de coisa que vocês falam que é 'diversão'. O que é diversão para vocês? Sentar em uma porra de cadeira, ficar a manhã inteira ouvindo babozeira de velhos que não falam coisa com coisa, ou então, tentar fazer uma aula que pareça ser legal mais vai ser uma aula super patética? Fútil? Eu não pago escola para ouvir você falando.
Resumindo: fui expulsa da sala.
Fiquei muito contente, não teria que escutar toda a babozeira, e iria falar com a Melissa. Ela é legal.
Andei no longo corredor, vi que a professora vaca, digo, aquela professora de Filosofia, estava dando aula. Coitados dos alunos, pensei.
- Não vou pedir para entrar. - Abri a porta, vi que a garota estava sentada mexendo em seu celular. - É proibido mexer em celular no expediente, Melissa.
Ela se arrepiou, ela olhou para mim, suspirou aliviada.
- Dizem que é errado ser expulsa da sala. - Ela sorriu. - Principalmente duas vezes.
- Se o errado é ser expulsa da sala, vou para o inferno então. - Me sentei na cadeira de sua frente.
Ela riu.
- Por que foi expulsa? - Curiosa? Claro.
- A diretora é uma vaca. - Sorri, coloquei os pés na mesa. - Ela e todos daquela sala. Todos.
- O que fizeram? - Ela deixou o celular de lado e me olhou.
- Nasceram, respiram... - Peguei o meu celular, ela o pegou. - Me devolve!
- O que fizeram? - Ela colocou o meu bebê em uma gaveta.
- Já disse, nasceram. - Revirei os olhos. - Eu odeio eles, principalmente Erick. Eu odeio o Erick, odeio.
Um sorriso formou em seus lábios.
- Ódio acompanha o amor. - Ela não parou de sorrir.
- E do mesmo jeito que acompanha, pode desistir. - Olhei para o enorme relógio pendurado na parede.
- Do que você está falando? - Ela me encarou.
- Do mesmo assunto que você. - Me levantei. - Eu não amo o Erick, never.
Abri a gaveta, mesmo parecendo errado, peguei o meu celular e abri a portinha, saí.
Corredor vazio, sem nenhuma alma vagabunda andando por aí, apenas eu e o chão. Andei em passos lentos, quero que bata o sinal logo.
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- Qual é a graça de se sentar sozinha, Bárbara? - Vitória se apróximou, queria ficar sozinha.
- A graça é que a sua companhia não é importante para mim. - Comi um pedaço da minha coxinha. Cara, eu amo essa gorda, a minha amada coxinha.
- Quando Erick falou que você está insurportável hoje, achei que era brincadeira, mais me enganei. - Ela mordeu um pedaço da sua laranja.
- Quero que o Erick morra. - Dei mais outra mordida. - Menos um idiota no mundo.
- Ah, entendi. Vocês brigaram? - Ela me olhou, mordia a laranja.
- Não importa, ele é um bosta, eu sou uma bosta linda. - Mordi minha coxinha de novo. - E todos vocês são bostinhas.
- Eu sei que o assunto é ele. - Ela me olhou. - Não importa que seja, vocês são feitos um para o outro.
Ela se levantou, pegou a sua bandeija, foi em direção à mesa onde Erick estava.
Feitos para o outro é o caralho, ele que se exploda, digo, que caía uma bomba nele e ele se exploda em pedacinhos.
- Amor é o caralho. - Vi o primeiro nerd, taquei a minha fruta nele. - Eu o odeio. ODEIO.
O sinal bateu, fui à primeira a sair. Próxima aula, próxima professora, próxima expulsão de sala, lá vou eu.
Dessa vez, a aula era da puta da professora de Filosofia. Como eu odeio essa vaca, digo, mal a vi e sinto ódio.
- Olá alunos. - A vaca entrou, vestia um vestido tosco, muito tosco mesmo, era rosa. - Hoje a aula será de... - Ela olhou para mim. - Olá Bárbara.
Todos me olharam. Essa mulher merece morrer, morrer do pior jeito do mundo.
- Olá vaca, digo, humana idiota. - Dou o meu famoso sorriso cínico.
- Não vai querer ser expulsa de novo, ou vai? - Ela me olhou.
- Meu sonho é nunca ouvir a sua voz, idiota. - Sorri, apoiei em minha mesa.
- Que bom. - Ela se virou para o quadro. - Irá ter que ouvir quase todos os dias, afinal, dou muita aula nessa sala.
Sorriso cínico em cara de vaca, não funciona. Revirei os olhos, abri o caderno e desenhei coisas que até eu mesma não sabia o que era.
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Bati a porta com força, depois de duas aulas seguidas com a vaca falando vaquisse para todos dali, estava morrendo de raiva. Olhei para o espelho que havia no carro, fiz caras e bocas, óbvio.
- Aconteceu algo? - Erick me fitou.
- Foda-se. - Óbvio que ele sabia, idiota, bobão.
- Nossa, mulher viu. - Ele ligou o carro. - Nunca quero me envolver com uma, jamais.
- Fala isso para a menina do seu celular. - Sem querer, deixei escapar, ele me olhou sorrindo.
Porra, eu sou burra. Muito mais muito burra. Mais sou uma burra foda, óbvio.
- Você está com ciúmes. - Ele riu, queria socar sua cara no asfalto.
- Ciúmes é o cacete. - Mostrei o dedo do meio para ele, logo eu mesma ri.
- Vai, fala logo, Bárbara Pierce com ciúmes. - Ele riu, deu partida.
- Não. - Revirei os olhos. - Quem é aquela garota?
- Minha prima. - Ele deu ré.
Não. Eu me mordi de raiva a manhã toda por causa da prima dele?

Bárbara (Correção) Onde histórias criam vida. Descubra agora