For Us-Noany

Capítulo 23

Pov's Any

Não sei como consegui chegar a esse ponto. Já bebi algumas vezes em festas, mesmo que ilegalmente, porém nunca cheguei ao ponto de apagar.

Já havia voltado à adega duas vezes durante as duas semanas que se passaram após o Natal. Mas, ontem na terceira vez que fui até lá, encontrei no fundo do Comodo um armário apenas de whisky, uma bebida que nunca havia experimentado.

Peguei um dos copinhos de vidro e subi novamente ao meu quarto. Assim que cheguei na metade da garrafa o mundo começou a girar e a última coisa que me lembro é de ter sentido um impacto muito forte na cabeça e uma dor aguda. Quando acordei já era noite e os olhos verdes de Noah estavam acima de mim preocupados.

Sei que ele estava tentando ajudar, porém quando o mesmo tocou no nome de Belinha fiquei com raiva e o expulsei. Me arrependi logo depois, mas meu orgulho não permitiu que voltasse atrás.

Depois que ele saiu eu tomei um banho e dormi pesadamente em seguida. Agora são 7 horas da manhã e eu estou deitada na cama olhando para o teto sem forças para me levantar, talvez pelo fato de não ter comido nada ontem, coisa que vem acontecendo com certa frequência.

Ouço batidas fracas na porta e logo depois Eliz entra com seu lindo sorriso de sempre. Embora já esteja nos seus 46 anos ela continua tão bonita quanto era a 10 anos atrás.

-Bom dia querida, não sabia se já estava acordada a essa hora, trouxe um analgésico para você- ela puxa a cadeira da escrivaninha e me entrega o comprimido junto com um copo de água. Minha cabeça está explodindo.
-Como sabia que eu precisava de remédio?-pergunto após devolver o copo a ela.
-Noah me contou tudo e me pediu para conversar com você- me sento sobre o colchão e ela prossegue- me desculpe, pensei que fosse melhor dar espaço a você, te deixar respirar. Porém acabei sendo negligente, devia ter ficado mais perto- ela parece muito triste. Sou como uma filha para ela, posso imaginar como se sentiu ao saber que desmaiei de tanto beber. Eu sou uma idiota.
-Não se desculpe, acho que eu acabei afastando todo mundo realmente e não devia ter bebido tanto- estou envergonhada e com raiva de mim mesma por ter chegado a esse ponto.
-Está tudo bem querida, apenas não beba mais, isso é destrutivo e um caminho quase sem volta- ela segura minha mão e abre um sorriso carinhoso- sabe, seus pais erraram e o que eles fazem é horrível, porém existem outras pessoas à sua volta que te amam e querem seu bem, então se agarre a elas, pois vão te ajudar a sair dessa. Eu sou uma delas, é claro- ela diz e se inclina para me dar um abraço reconfortante. Enquanto
Eliz afaga meus cabelos, posso sentir uma ponta de felicidade pela primeira vez em semanas. Acho que realmente posso sair dessa vala em que me enfiei.

Depois da conversa nós descemos para tomar café e falar sobre amenidades. Até meu pai aparecer para me informar que eu teria a minha primeira reunião com sócios na parte da tarde. Para a surpresa dele eu concordei em ir sem relutância, porém não por concordar ou aceitar o que fazem, mas sim para ver como tudo funciona e se existe um modo de sair dessa situação.

Fiquei no meu quarto até o horário da reunião e Eliz me ajudou com a escolha da roupa adequada para a ocasião: uma calça jeans branca, um scarpin nude e blusa de lã bege com um sobretudo por cima. Como acessório, uma bolsa laranja.

Olho no espelho e gosto do resultado, para dizer a verdade não me sinto bonita assim há algum tempo.

Quando chego ao térreo meus pais estão me esperando na sala.

-Está bonita filha- minha mãe me elogia com um sorriso apreensivo no rosto, o mesmo que está presente no rosto de meu pai.
-Concordo, está muito elegante- abro apenas um sorriso mínimo e falso e logo depois saio pela porta indo em direção ao carro preto estacionado com a porta aberta e um motorista em pé ao lado dela. Me acomodo no banco de couro e meus pais entram logo depois.