Capítulo 36

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Pov's Any


Na manhã de hoje, quando acordei ao lado de Noah, tudo parecia perfeito. Eu o perdoei mesmo dizendo que o não faria, porém me pareceu ser o certo a se fazer. Foi bom tê-lo por perto outra vez.

Porém, no momento em que fomos tomar banho a insegurança me tomou. Eu saí da bolha que criara, na qual existia apenas eu e Noah. A ficha caiu sobre todos os acontecimentos anteriores e os que viriam a seguir.

Um casamento forçado era a última coisa que eu esperava para o meu futuro. Sempre achei que iria trabalhar, quem sabe fazer uma faculdade um dia e viajar pelo mundo. Minha vida não pode se resumir a seguir um plano pré-estabelecido sem ter liberdade de escolha alguma. Eu não consigo nem sequer imaginar viver assim.

Esses pensamentos passaram a me assombrar e tenho certeza que Noah percebeu minha perturbação. Ele ficou me olhando de um jeito estranho como se quisesse adivinhar o que eu estava sentindo até chegarmos ao tal apartamento.

Se eu já estava me sentindo mal dentro do carro, nem consigo descrever o quanto fiquei apavorada quando me deparei com Marco e seu lado que eu desconhecia. Ele sempre me tratou bem quando eu e Noah éramos crianças. Brincava sempre conosco, me dava presentes e tudo o mais.

Mas agora ele demonstrou ser um homem sádico e cruel que tem coragem de forçar o próprio filho a se casar contra a vontade apenas para conseguir mais poder. Dentro daquele apartamento eu me senti assustada, diminuída, intimidada e acima de tudo, extremamente convicta de que não vou me render facilmente.

Noah e eu vamos correr atrás de todas as possibilidades para impedir que esse casamento aconteça. Cheguei a essa conclusão após passar pela porta da sala da minha casa, depois de deixar Noah que ainda me encarava de modo estranho em seu carro. Não fui capaz de falar com ele durante o trajeto de volta para casa, estava absorta demais em meus pensamentos.

Mas, de qualquer modo tenho problemas mais urgentes para resolver, meus pais estão discutindo em um volume bem elevado no escritório que fica ao lado da escada que dá para o meu quarto. E embora não me sinta exatamente pronta para olhar na cara deles sem sentir ódio eu vou até a porta do cômodo.

- Isso já está decidido Priscilla! Não temos como voltar atrás na decisão. Ela vai se casar e ponto final! Não vou abrir mão de um acordo tão valioso! - meu pai estava em pé atrás da escrivaninha falando com minha mãe aos berros - isso garante proteção, você não entende? Nós precisamos... - ele finalmente percebe minha presença e arregala os olhos de surpresa. Faz menção de dirigir palavra a mim mas eu deixo o local antes que ele consiga. As lágrimas teimosas escapam e a tristeza se acentua ainda mais.
- Any! Espera filha! - ignoro seu chamado, pego as chaves do meu carro no gancho e saio pela porta mais uma vez. "Um acordo tão valioso", mas que porcaria de pais colocam a felicidade de um filho em jogo, em troca de dinheiro? Isso é abominável em todos os sentidos possíveis.

Entro no meu carro e arranco com ele da garagem sem ter um local para ir à princípio. Vou dirigindo pelas ruas de Miami secando os olhos embaçados pelas lágrimas a cada cinco segundos.

O Sol está se pondo e as casas noturnas começam a abrir suas portas. O trânsito do centro faz com que eu precise andar a vinte por hora em uma das principais avenidas da cidade.

Fico relembrando a cada segundo o que me levou até ali. Dói muito saber que para seus próprios pais o dinheiro é mais importante do que você. E o que antes eram apenas algumas lágrimas se tornaram uma cachoeira acompanhada de soluços tão fortes que me fazem perder o fôlego.

Nesse momento tudo o que eu queria era que Sabina estivesse aqui, porém a essa altura ela já está na casa de Pepe jantando com a família dele. A outra opção seria Noah, porém ele me disse em algum momento que dormiria ao chegar em casa.

Então, decido sair do centro e ir até o litoral, para North Beach. A mesma praia em que eu e Noah fomos ontem à noite depois de fugirmos do baile.

Assim que chego, estaciono o carro e vou até o porta-malas em busca da mala de emergências que sempre deixo ali. Assim que abro me deparo com algumas roupas, um par de chinelos e produtos de higiene pessoal.

Pego um short, a camiseta e o chinelo e em seguida vou até o banco de trás para me trocar. Depois de pronta me encaminho lentamente até a praia aproveitando a brisa fresca que me trouxe uma paz imensa quando precisei antes e faz o mesmo agora.

Fico sentada na areia durante uma hora mais ou menos apenas refletindo sobre tudo e me acalmando. O som das ondas me trazem lembranças de muito tempo atrás. Quando levamos Belinha para a praia pela primeira vez quando ela tinha somente um ano de idade.

Foi um dia muito feliz em família. Eu brinquei  durante horas na areia com ela e a ajudei a colocar os pezinhos na água. Ela não gostou muito da sensação no início e começou a chorar, mas depois de um tempo se acostumou e não quis mais sair de lá. Sinto muita falta dela.

Continuo recordando tempos distantes por mais alguns minutos até que meu estômago começa a roncar. A última vez que comi algo foi no meu baile ontem à noite.

Nesse momento me encontro sem dinheiro e sem abrigo. Mas conheço um lugar no qual eu poderei passar a noite e sei que sempre sou bem vinda. Então, levanto da areia e faço o caminho de volta.

Já dentro do carro vou dirigindo por cerca de meia hora até virar a esquina na rua de casinhas coloridas e simpáticas que me lembram muito a infância. Faz anos que não venho aqui.

Estaciono na frente de uma casa amarela ás oito da noite em ponto e vou até a porta. Toco a campainha e alguns segundos depois ouço passos vindo em direção à porta.

-Any? - Eliz franze o cenho quando me vê - que surpresa meu bem. Venha, entre - ela dá espaço para que eu passe pela porta e abre um sorriso, mas noto a preocupação em seu rosto.
-Desculpa vir assim Eliz. Mas eu não tinha para onde ir - digo enquanto ela fecha a porta novamente.
-Sem problemas querida. Você sabe que é sempre bem vinda aqui - ela diz e eu me sento no sofá marrom da sala. Eliz senta na poltrona ao lado e me encara - mas que história é essa de não ter para onde ir? O que aconteceu? Eu não vi mais você ontem na sua festa de aniversário e fiquei procupada - respiro fundo antes de contar tudo a ela e sinto que não serei capaz de conter as lágrimas.
-Ontem eu recebi uma notícia dos meus pais que me abalou muito, eu nunca imaginei que um dia isso iria acontecer comigo e nem sei como lidar com tudo o que está acontecendo - minha voz fica embargada e eu preciso recuperar o fôlego durante alguns segundos para prosseguir. Eliz coloca sua mão sobre a minha para me encorajar e me olha com seu olhar compreensivo de sempre - eu vou me casar Eliz - ela arregala os olhos e em seguida franze o cenho novamente.
-Perdão querida. O que disse?
-Eu disse que eu vou me casar.
-Como assim? Com quem? Que história é essa?
-Meus pais assinaram um contrato com Marco e Anne para juntar as famílias. Eu e Noah estamos sendo obrigados a nos casarmos - ela cobre a boca com uma das mãos espantada. Em seguida se levanta e caminha de um lado para o outro na sala.
-Isso é um absurdo. Não é possível que seja verdade uma coisa dessa. Vocês são tão novos e... Como seus pais foram capazes de assinar um acordo desses?
-Eu não sei, é que tem muito dinheiro envolvido e...
-Nenhuma quantia em dinheiro justifica fazer isso com um filho. Isso está errado e não pode acontecer. De forma alguma - ela diz com raiva e eu sinto o peso em meu coração diminuir ao ver que tenho o seu apoio. Noah e eu não estamos sozinhos afinal.

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-Nota da autora-

Oi gente! Mais um capítulo para vcs. A Eliz é a melhor né?

Espero que vocês tenham gostado (embora eu não tenha gostado tanto assim desse, mas faz parte né? Tem dia que nem tudo sai do jeito que queremos). Dêem suas opiniões nos comentários e não se esqueçam de votar.

Nos vemos no próximo capítulo.

Amo vocês!

Beijos.
Sara💕

Ps: caso você esteja passando por um momento difícil e precise de alguém para conversar, saiba que eu e a Alyssa estamos aqui. O suicídio é a 3ª maior causa de morte de jovens brasileiros. Portanto, não hesite em conversar com alguém ok? VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHO!!

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