8

18K 1.1K 214
                                    

Andressa

Abri os olhos, notando que já estava tudo escuro. É, eu realmente estava bem cansada.

Me espreguiçando, senti o meu corpo fraco, sinalizando que precisava comer algo. Suspirei, sentando na beira da cama lentamente, tomando coragem para ir até a cozinha.

A dor em meus ombros havia passado. Levei minha mão até o local, apertando levemente com as pontas dos dedos. Fiz uma pequena careta ao sentir a pequena pontada de dor.

Fui até o banheiro, me olhando mais uma vez no espelho e vendo a minha figura abatida.

A dor havia sido camuflada, mas os machucados não.

O roxo em meus ombros e bochecha ainda eram visíveis, doendo ao serem tocados. Como um vídeo sendo reproduzido ao ser dado o play. Tomei uma ducha fria na esperança de refrescar a minha pele e alma.

Ao sair, olhei pela cortina, deduzindo ser umas 17 horas por conta do céu em tons rosados e alaranjados.

Após me convencer de que provavelmente o DN ainda não havia chegado em casa, andei em passos leves após sair do meu quarto. Meus olhos e ouvidos atentos diante da pouca luz na casa.

Só relaxei quando desci os degraus, liguei as luzes e me certifiquei de que não havia ninguém mesmo.

Com a visão um pouco turva, fui até a cozinha e preparei um misto quente com achocolatado.

Enquanto comia, ainda na cozinha, ouvi o barulho do portão sendo aberto. Meu coração errou as batidas em meu peito e a ansiedade bateu na porta.

Larguei o sanduíche no prato e o peguei na mão, juntamente com o copo. Desci da cadeira andando em passos largos para fora do cômodo. Quando estava prestes a pisar no primeiro degrau, sua voz ecoou pela casa.

DN: Andressa? — chamou.

Parei, um arrepio percorrendo todo meu corpo.

Andressa: Sim? - virei a cabeça, vendo a sua figura parada próxima à porta.

Um pequeno instante de silêncio reinou naquela sala. Os dois olhando um para o outro em silêncio, esperando...

DN: Senta aí — apontou com a cabeça para o sofá.

Por mais breve que tenha sido, o seu tom não foi rude. Mas isso não me acalmou em nada.

Homens são loucos. Seu humor pode ir de zero a cem rapidamente, assim como as mulheres, só que um pouco mais psicótico.

Andamos em passos lentos até o sofá, cada um se sentando em um.

Coloquei o meu copo na mesinha, mas ainda mantive o prato em mãos, só pra ter algo para quebrar em sua cara caso fosse necessário. E, sendo sincera? Eu esperava que fosse. Adoraria ver os cacos se partindo ao atingir a sua face.

DN: Você tá bem? — pisquei, sendo tirada dos meus devaneios.

Andressa: Na medida do possível — fui breve.

Ele assentiu lentamente, seus olhos me analisando a cada momento.

De repente, sua postura mudou. Suas costas que estavam encostadas no sofá se curvaram, os cotovelos agora apoiado em seus ombros.

Apertei o prato em minhas mãos, atenta a cada movimento.

DN: Vou mandar o papo reto pra tu — começou. — Não lembro de nada que aconteceu ontem, então quero que você me conte.

O encarei, completamente incrédula.

Andressa: Oi? — foi tudo o que saiu pela minha boca.

DN: Você ouviu — recostou-se novamente no sofá.

Soltei uma risada nasal debochada, balançando a cabeça em negação.

Andressa: Sim, eu ouvi, é só um pouco difícil de acreditar — olhei novamente para ele. — Você me bateu, foi isso que aconteceu.

Fui direta, apenas querendo sair dali o mais rápido possível.

Quando ele não me respondeu, apenas desviou o olhar, eu percebi que era a minha deixa.

Andressa: Já que você não tem mais nada à dizer, vou subir — fiz menção de me levantar, mas parei quando sua voz finalmente disse baixo:

DN: Espera — levantei os olhos até que chegassem aos seus. — Eu misturei uns bagulhos e acabei passando da conta, peço perdão aí, vacilei.

O mesmo se manteu firme, sua postura e olhar não vacilando um segundo.

Andressa: Que bom que reconheceu o seu erro, mas não pense que só por isso vou esquecer o que fez. Já passei por muita merda, mas nenhuma me faz merecer ser estapeada — meu tom também foi firme.

Quando fico brava, nada mais me assusta ou me cala.

DN: Qual foi, Andressa? Não mandei você esquecer e nem quero que esqueça, vacilei pra caralho contigo, mas não foi por querer. Se eu estivesse sóbrio, jamais teria feito aquilo — apesar do seu vocabulário ameaçador, seu tom se manteve baixo e controlado.

Andressa: Será mesmo? — perguntei retoricamente, me levantando de uma vez.

Dei a volta na mesa, evitando passar pela sua frente, marchando até o andar de cima.

Andressa: Ah — parei na metade da escada, chamando a sua atenção. — E não precisa confiscar os meus remédios ou mandar vapor me supervisionar, o que eu fiz também não vai mais se repetir.

Depois de me encarar por longos segundos, ele me respondeu com o seu tonzinho sarcástico:

DN: Será mesmo? — e então se levantou, entrando na cozinha.

Apertei a merda do copo na minha mão, tentando controlar a vontade absurda de gritar e espernear que me atingiu.

Não fiquei muito tempo ali parada, logo me virei e voltei para o meu quarto.

Senhor solitário.

Agora ele fez jus ao seu apelido. Quem consegue suportar esse cara?





•••

Sobre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora