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Andressa

Estava um calor infernal hoje e eu só queria continuar deitada na minha cama, com o ar condicionado no 15 porque calor me dava preguiça.

Tomando coragem, desci até o andar de baixo para pegar uma água gelada. Hoje era sábado, dia de baile, então imagino que o DN, como dono do morro, esteja ocupado resolvendo seja lá o que tem que resolver pra esses bailes.

O que era um alívio.

Abri a geladeira e peguei a jarra, indo até bancada para pegar um copo no armário. Enquanto bebia, olhei pelo vidro da janela para a piscina no lado de fora, percebendo que hoje seria o dia perfeito para usá-la.

Terminei de beber a água e subi até o andar de cima, colocando um biquíni de fita preto, descendo logo em seguida, carregando apenas uma toalha.

Após prender os meus longos cabelos moreno ondulados em um coque alto, entrei na piscina.

Graças a Deus a água estava geladinha, automaticamente me refrescando.

Havia uma pequena escadinha logo no início, acredito que para crianças ou idosos conseguirem entrar e sair com facilidade. Eu a usei como apoio.

Sentei em um dos degraus que deixassem a água na altura dos meus seios, apoiando a cabeça na borda. Fechei os olhos, relaxando.

Quanto mais tempo eu ficava ali, em silêncio e com os olhos fechados, meus pensamentos me levavam para vários lugares.

Pensei na Flávia e em como ela estaria agora. Pensei na minha avó, que me criou com tanto amor e, que se ela estivesse me olhando de lá do céu agora, estaria decepcionada. Pensei nos meus tios, que eu tanto odiava e, por fim, no DN.

Pensei me como ele parecia ser intrigante, mas com poucas horas ao seu lado, percebi que na verdade era apenas mais um babaca.

Óbvio que seria, como um dono de uma favela não seria? Com tanto dinheiro, mulheres e poder a sua disposição.

Até eu em seu lugar, teria o ego elevado.

Mas não ao ponto de bater na mulher que mal conheço, isso eu jamais faria como homem.

Abri os olhos quando ouvi o barulho da de vidro sendo empurrada.

Quando olhei, vi o DN apenas de bermuda saindo. Sem perceber, me demorei um pouco mais em suas tatuagens por todo o corpo.

Como haviam poucas em seu braço, pensei que não haveria mais pelo seu corpo, mas agora o vendo sem camisa, vi que tem várias espalhadas pelo seu tronco.

Quando pisquei, ele já havia pulado na piscina. Fechei os olhos ao mesmo tempo que virava o rosto, sentindo os respingos em meu rosto.

Bosta, agora teria que levar o cabelo.

Respirei fundo, tentando controlar o ódio que estava sentindo.

Já havia se passado uma semana desde o dia que discutimos. Desde então DN tem chegado mais cedo em casa, volta e meia perguntando se eu queria pedir algo para comer ou se estava precisando de alguma coisa.

A essa altura, os hematomas em meus ombros e rosto já haviam sumido, para a felicidade.

Em todas as vezes, eu negava. Se ele acha que ia me ganhar fácil assim apenas fingindo que se importa, estava enganado.

Fingi plenitude diante da sua presença, não me deixando afetar pela sua tentativa de chamar a atenção.

Então, a água se acalmou e tudo voltou a ficar silencioso novamente.

Abri os olhos, olhando para frente. Foi então que o encontrei encostado na outra borda, do outro lado, já me olhando.

Não quebrei o contato visual, encarando a sua figura um pouco longe de mim.

Andressa: O que foi? — indaguei, cansada de joguinhos.

DN: Quer ir almoçar ali no restaurante? — perguntou após ficar em silêncio por alguns instantes.

Andressa: Não, vou fazer o meu almoço — cortei o assunto, me levantando.

DN: Ae, não da pra você ficar me evitando pra sempre — parei, colocando as mãos na cintura olhando para o mesmo que já não estava mais encostado na borda, e sim, saindo também.

Andressa: Não estou te evitando, só não precisamos conversar todos os dias — fui em direção a minha toalha, mas antes que a pegasse, DN foi mais rápido, começando a se secar. — Essa toalha é minha!

Entreguei a testa, puxando do seu corpo. Mas foi uma tentativa falha, pois o senhor solitário não quis soltar.

DN: Qual foi, sabe esperar não? — puxou de volta, mas eu continuei segurando.

Andressa: Não preciso esperar nada já que a toalha é minha! — puxei novamente.

DN: Mas a casa é minha, então eu posso! — fiz careta diante da sua declaração completamente infantil.

Na verdade, nós dois parecíamos duas crianças.

Andressa: Isso é ridículo — resmunguei revirando os olhos, soltando a toalha. — Então vou entrar molhada e você que vai secar.

Sai andando, deixando ele para trás, mas quando estava a centímetros da porta, senti algo atingir a minha cabeça. Olhei para trás com a boca aberta, cessando os meus paços.

Olhei para o DN que não estava mais se secando, ele apontou com a cabeça para o chão, o ar de riso explícito em seu rosto. Olhei, vendo o tecido branco no chão embolado.

Andressa: Você jogou a toalha em mim?! — quase gritei, ainda indignada.

Ele apenas sorriu de lado, passando por mim com a cara mais lisa, entrando na casa.

DN: Pode usar agora! — gritou de lá de dentro.

Neguei, fechando a mão em punhos. Meu Deus ele era tão insuportável e infantil!!

Peguei a toalha no chão, jogando ela no cesto de roupa sujas. Não ia me secar com ela nem fodendo.

Subi até o meu quarto pingando água pela casa inteira. Quero mais que ele escorregue, caia e morra!

Tomei um banho relaxante lavando os meus cabelos, saindo toda cheirosa em seguida para fazer o meu almoço.

Quando desci, não encontrei o DN, mas em compensação, a casa estava seca e, quando entrei na cozinha, uma quentinha estava na bancada com o meu nome escrito.

Ri sozinha sem humor, balançando a cabeça. Se eu soubesse, teria lhe desafiado desde o início.


•••

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