No começo achei que tinha entendido errado mas quando ele repetiu aquela palavra me respondendo negativamente,eu não sabia o que achar. Talvez ele tivesse entendido errado minha afirmação. Só podia ser isso,pois ele não podia estar pensando na possibilidade de me impedir de viver,de estudar e ter um futuro,apesar de nós termos tomado a decisão de eu ficar em casa juntos,agora estou mudando de ideia. Fico parada ali no mesmo lugar esperando ao menos uma explicação que não vem.
- Porque não? Isso vai me fazer bem,sair um pouco de casa. Eu posso conseguir terminar o curso e depois...
- Eu disse que não, Jade. A decisão já está tomada. - diz firme,com aquele tom dele que diz que o assunto acabou mas é claro que ainda não havia acabado! Ele não podia estar falando sério!
- Mãe? - olho para ela esperando uma resposta mas ela apenas diz:
- Seu pai disse que não. Você ouviu.
Eu não podia acreditar,não era ela que tinha me dito para voltar ao balé quando eu tinha dito que não dava mais? O que aconteceu? Porque estão fazendo isso?
- Porque não? Tem que ter um motivo. - nenhum dos dois responde então com raiva me tranco no quarto. Não era possível! Quando eu tenho coragem pra tomar uma decisão que poderia mudar minha vida eles me proíbem. Não estava entendendo nada. Logo alguém bate na porta e automaticamente sei que é Juan. Mando entrar. É ele.
- Eu ouvi a discussão. Não se preocupe ele vai mudar de ideia. É que agora nos acostumamos com você em casa o tempo todo.
- Sim,mas isso está me deixando maluca! Sabe o que é ficar em casa olhando para as paredes? Deixa qualquer um louco,acredite. Quero voltar a minha vida de antes,de quando eu era...normal.
- Você é normal,Jade. Não é nenhuma anomalia.
- Não. Só um tumor mesmo. - digo seca. - Não quero continuar assim Juan,quero viver minha vida,quero ter algo pra contar,pra lembrar. Quero fazer alguma coisa que me deixe orgulhosa de mim mesma. Como vou fazer isso trancada em casa?!
- Como eu disse, ele vai mudar de ideia.
- Não vai,ele estava com aquela cara. - confesso resmungando.
- Qual cara? Essa aqui? - ele imita nosso pai de um modo muito engraçado e eu solto uma risada.
- Para idiota! Esse assunto é sério.
- Confia em mim,ele vai mudar de ideia com o tempo.
- Quanto tempo? - Ele não responde. Sabemos que ele não vai mudar de ideia,sabemos que quando ele faz aquela cara de determinação, está de verdade determinado. Eu só gostaria de saber o motivo dessa determinação. Ah! Agora estou frustrada e com raiva de mim mesma por não poder fazer nada a respeito. De repente me dá vontade de confronta-lo então me levanto em um pulo e Juan já sabe que vou fazer uma besteira porque vem correndo atrás de mim.
- Jade você sabe que nosso pai odeia que desobedeçam a ele e odeia ainda mais brigas. Pare. Espere até a situação se acalmar,ele ainda deve estar pensando nisso...
- Pare! Me solte. Vamos resolver isso agora,eu não quero perder mais nenhum segundo da minha vida. - vou andando a passos largos até a sala que meu pai usa para trabalhar e abro sem bater. Ele me olha com raiva,já ia me repreender quando eu começo:
- Me diga o motivo e eu não insistirei mais no assunto.
- Jade,aprenda a bater na porta.
- Me diz! Só me diz e prometo que nunca mais falo sobre isso! Eu juro que eu vou tentar entender mas você não pode...
- É claro que posso,sou seu pai!
- Um pai não deveria privar a filha de ter um futuro! Se você nem me diz o porque não posso, como posso levar sua ordem em um raciocínio lógico? Eu não entendo porque...
- Jade,eu preciso te contar uma coisa. - minha mãe vem correndo no mesmo instante.
- Querido ,não faça isso! - Juan e eu olhamos um para o outro confusos. O que estava havendo? É exatamente essa pergunta que Juan faz.
- Você não tem mais que três semanas. - confessa meu pai, trsite. Lembra quando eu disse que a morte dói? Bem,saber que vai morrer com certeza não só dói,como te paralisa. Era assim que eu estava naquele momento,paralisada. Juan estava com a mão na boca assustado. Minha mãe olhava para o chão já chorando. E eu? Eu não conseguia me mover,não conseguia falar. Tudo o que passava na minha mente era...chegou a hora. Depois de o choque ter passado e de um silêncio brutal no ambiente que estavamos, encontrei minhas cordas vocais.
- A quanto tempo você sabe disso?
- O médico nós disse na sua última consulta.
- Mas isso foi a mais de duas semanas! Você sabe disso a duas semanas, vocês dois? E não pensaram em me contar? Não quiseram contar que vou morrer?
- Nós íamos contar mas não conseguimos,estávamos esperando o momento certo pra isso. Só que nunca chegava. Me desculpe. - diz minha mãe. Juan ainda estava sem fala também e estava muito pálido,veio até mim e me deu um abraço,ainda em silêncio. Até que escuto baixinho:
- Não quero perder você. Não quero. O médico está errado podem ter errado o diagnóstico, eu já vi isso acontecer,é bem comum.
- Não errou,irmão. Eu estou partindo,logo não estarei mais aqui e você precisará cuidar dos nossos pais por mim. - ele me aperta mais.
- Não. Não. Não. - ele só ficava repetindo isso e chorando,agora estávamos todos chorando no escritório do meu pai. O lugar onde a gente sempre levávamos várias broncas quando pequenos,o lugar onde nos escondiamos brincando de cobra cega. Escondiamos coisas porque sabíamos que os dois tinham medo de vir aqui e levar um esporro do nosso pai. Agora estávamos aqui chorando abraçados,reagindo a notícia que um membro da família em breve não faria mais parte dela. Em breve eu não estaria mais aqui e tudo acabaria. Adeus abraços de família, adeus brincadeiras bobas com o irmão, adeus sonhos e esperanças,adeus dança e o que mais me destruiria,adeus Arthur Gaham.
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Nem sempre é para sempre Vol.1 da Duologia Para Sempre (Concluída)
RomanceEu tinha uma vida normal,era uma garota normal com problemas normais,até que um dia aconteceu,eu vi tudo desabar bem diante dos meus olhos. As pessoas dizem que você não sabe dar valor ao que tem até perder tudo,as pessoas estão erradas,eu dava valo...