O sentimento primitivo.

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Reino dos abutres...

O nome não é empunhado por aquele território por motivos banais. Talvez, retrate com profundidade a história por trás da alma de seus tiranos.

Em falar-nos tais necrófagos, as aves circundam Niðhad.

Elas grasnam, afoitas, enquanto rodeiam o rei. Como uma carne morta no meio da selva. Algumas se desprendem do círculo e vão à derrocada num ataque direto a Dylan.

O galês mata as aves, que nem sequer parecem estar vivas. A aura escura dos pássaros dá uma sensação de anoitecer no ambiente. Niðhad não é mais uma pessoa. — Talvez nunca tenha sido.

Aqueles buracos de carne, onde anteriormente ocupam os olhos, parecem encará-lo. O demônio movimenta sua cimitarra e a eleva até forçá-la contra Dylan. Ele, desvia do ataque, vendo o piso ser destroçado.

"Não sei como é seu poder agora... Não é mais tão sensato segurar seus ataques".

Niðhad gira sua lâmina na lateral, tentando partir seu visitante em dois. Dylan contra golpeia a cimitarra. Ao defrontar o poder maligno da Gram, a espada de Eloen pulsa uma aura verde, acobertando o corpo do cão.

Velent contempla aquilo, descrente.

"Aquilo é mais que a espada..." ele fica boquiaberto "Eloen está protegendo ele..."

O galês acha uma brecha, no meio do choque, e nela desfere um corte forte na costela do rei. O demônio não sente dor, mesmo que seu sangue banhe o chão. O ataque deixa as costas do Cão expostas, e ali Niðhad enfia suas garras. Perfurando parte de trás do ombro e rasgando a carne. Dylan berra em dor, mas se prontifica de afastar-se do inimigo.

— Dylan... — Uma voz arranhada e estranha soa na boca do demônio — Não me deixe! Dylan! Dylan!

O galês paralisa após ouvir aquela menção. Em seus ouvidos um desespero maior preenche o vazio da mente. Seu corpo permanece no pesadelo, mas sua alma vai para outro canto. Um lugar onde ele ainda se culpa.

O justo dia em que se despediu de Eloen para ir à guerra.

"Dylan, não me deixe!"

A última frase que ela há dito. Quando retorna a realidade, é recebido com uma ombrada. O arremessando para uma das colunas do salão. O impacto do golpe faz seu corpo quebrar a estrutura.

Zonzo, se ergue no bambear dos joelhos. Ao pé do ouvido o grasnar dos abutres — e do rei demônio — fazem presentes sobre o salão.

— Não... Me... Deixe! — O ressoar paralisa Dylan mais uma vez.

Ele não se vê mais no ambiente do salão. Bem distinto, está na frente do casebre pobre jazido em seu país há anos atrás. Sem entender o que ocorre, adentra a porta a procura de seus familiares.

— Vô? Vó? Estou em casa... — o silêncio é abatido pela caldeira borbulhante. — Iori? — chama por seu irmão, mas só vê toras de madeira.

"Não... Me... Deixe..." o pedido desesperador soa do mais longínquo dos cômodos, e para lá ele anda.

Ao passar da porta, certo cheiro de carne mofada e azeda invade suas narinas, fazendo-o tapá-las com a mão. Na cama, o corpo de sua amiga repousa, e em adjacente seu irmão sentado em um banco.

"Não me deixe"

"Não me deixe"

"Não me deixe".

A frase é repetida com consistência. Os cabelos longos do caçula tapam a visão do rosto. Ele vai até às costas de seu irmão. — Iori? O que está acontecendo? — o questionamento não é respondido, mas próximo a Eloen, ele consegue ver o estômago da garota aberto. Onde dele, vermes e moscas saem comendo a carne dela.

"Não me deixe"

"Não me deixe"

— Iori!? — Ele toca em seu irmão, e ao fazê-lo o caçula de vira, com seu rosto rasgado, mostrando tudo que ultrapassa a face. Deixando sangue e órgãos caírem perante os orifícios.

— NÃO ME DEIXE! — Iori berra.

Quando Dylan fecha os olhos, brada apavorado, levando suas mãos em direção ao rosto. Logo, sem sentir mais aquela presença, tira as palmas da face. Vendo-se num ambiente ensanguentado, onde o líquido banha tudo como um lago raso. No distante há pilhas e pilhas, como se fossem morros.

— O que é isso? — Dylan percebe que não são morros. Deles o sangue escorre, sobre seus desníveis de pele e carne.

Todos aqueles morros são homens e mulheres. De início ele se assusta, mas aos poucos vai percebendo. Algumas armaduras semelhantes aos exércitos que lutou contra. Estandartes das cidades que devastou como viking, aqueles corpos eram...

— meus... inimigos... — ele responde.

O Cão de ValhallaOnde histórias criam vida. Descubra agora