Gram, a cimitarra.

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Os corpos parecem se mover, saindo dos relevos e rastejando em direção a ele. Crimes que cometeu sem hesitar.

"Você matou sem pensar. agiu sem pensar. viveu sem pensar." Uma voz ladra em seu consciente. "Mulheres que tinham filhos, pais que tinham família, anciãos que tinham netos... Não só as vidas que retirou, mas quantas vidas mais você desgraçou por pensar que seus atos não tinham consequência? Apenas por ter sido torturado e estar nas mãos de um general sádico."

Os mortos agarram nas botas de Dylan, e as mãos hasteiam em direção ao seu rosto. Tentando puxá-lo para dentro daquele lago raso. Por distinto, ele não reluta, mesmo com o espanto dos olhos, cada fala fere seu ego. Pela guerra há destruído mais do que deve.

"Julga que agora, evitando a guerra, pode apagar tudo? Todas as milhares de almas que matou sem hesitar?" uma figura de olhos gigantes aparece no céu escuro. O pária de todas as culpas que carrega o rapaz. "Você lutou todas as guerras sem medo, sem vontade de viver. Considera justo a estes corpos? De homens que suavam frio, de mulheres que queriam abraçar seus filhos outra vez."

"Os vitoriosos além de proclamar o fim da guerra, ainda são capazes de se considerar o marco da paz".

Dylan cai ajoelhado, não conseguindo suportar o peso de tantos que se prendem nele. Ele arria os olhos, pensando nas falas duras daquele ser.

— Quem és você? — questiona, encarando a presença.

— Quem sou? — indaga — Sou Gram, a alma da cimitarra, e aqui exponho a ti o peso da tua.

— Nunca quis causar tudo isso, eu só queria ajudar Eloen.

— E para salvar uma pobre elfa matou todo mundo que aparecesse a frente de ti. Ignorando a existência até mesmo dela. Isso soa tão poético quanto patético. — A presença ri. — Para salvar, e honrar, alguém que ama, não lhe importou matar o amor da vida de outras pessoas.

As almas parecem pesar mais, os braços em suas costas se fazem curvar, deixando Dylan de quatro.

— Eu sei dos meus pecados, durmo e acordo com ciência dos meus erros. — ele dá uma pausa — Mas só posso me mudar! — grita, e olha para a presença. — Agora... tenho motivos para lutar... — pensa em Leona.

— Não vejo mentiras em ti — pronuncia Gram — Mas como confiarei que não destruirá mais almas?

Dylan busca a resposta, mas ela não vem. Enquanto seu corpo é forçado a ficar mais pressionado contra o lago, ele pensa. Até se atinar, com o pensamento esbugalha os olhos. O rapaz desembainha sua espada, e a coloca em cima do seu braço direito.

— Meu braço dominante! — ele clama — abdico o braço ao qual tirei todas as vidas!

Dylan começa a gritar, enquanto morde a gola de sua camisa para abafar a dor. Ele cerra seu braço, sentindo a lâmina rasgar cada centelha de sua carne. Vendo o sangue unir-se ao lago. Aquele momento parece não ter fim, e ao chegar ao osso tem mais dificuldades para cortá-lo. Sua carne fica pendurada. O galês berra mais do que pode, e da voz arruma forças para continuar a promessa. Conseguindo arrancar o braço até o último pedaço pendurado de pele.

As almas saem de cima dele, e levam seu braço para a profundo lago sangrento. Gram fica quieto, mas seus olhos parecem expor o desejável.

— Que assim seja, aquele que chamam de Cão.

A visão de Dylan enxerga a escuridão. Ela desce em seus olhos, como uma sujeira gosmenta, e dá espaço a visão de Niðhad. O sacrifício há ocorrido, o sangue pinga do braço, mas o membro não está lá. A perda de sangue o deixa tonto, mas não há volta. A única maneira de derrotar o rei demônio.

— Por que você não morreu? — Niðhad pasma — Por que Gram não te matou?

— Porque ele sabe a verdade da minha alma. — Dylan pega a espada ao chão, e cria uma base de esgrima.

— Que verdade!? Cão sarnento e infeliz!

Niðhad tenta cortá-lo, mas o rapaz desvia, a cimitarra exige força e aberturas. Coisas que Dylan consegue abusar com facilidade.

"Tenho que acabar com isso antes que desmaie". O Cão corta a carne do rei demônio quando pode, evitando a armadura. O rei parece cada vez mais enlouquecido, deixando brechas mais fáceis ao rapaz.

— O que um plebeu como você pode ter de verdade!? — vocifera, enquanto ataca, seus golpes destroem a estrutura do salão. — É um pedaço de merda!

Dylan desvia do corte, e afunila seus joelhos, tendo abertura para perfurar o abdômen do rei. O demônio está descrente, o sangue que sai de seu corpo começa a fraquejar, e incomodá-lo.

— Eu vou proteger a mulher que amo! — lembra-se de Leona — E salvarei o meu amigo do inferno que você levou a mente dele! — se refere à Viðga. — É isso que um plebeu tem como verdade!

Niðhad fica espantado, mas acima disso, a fúria se acumula, para ser deslanchada num último ataque.

Sua cimitarra não é capaz de açoitar o galês, e desta vez, Niðhad o vê de muito alto.

Sua cabeça há sido decepada, e todo o terror do rei demônio, caído junto a ela no tapete carmesim.

"Garoto..." A voz de Gram soa dentro de seu consciente.

— desculpa... Gram... eu acabei errando minha promessa... Matei outro homem.

"Você abriu a mim, sua alma." Gram dá uma pausa. "Aquele não era mais um ser humano. Deixou de ser a muito tempo."

Aliviado, Dylan desmaia, devido ao sangue que há perdido.

O Cão de ValhallaOnde histórias criam vida. Descubra agora