Viðga está um pouco confuso com os acontecimentos recentes. A fala de Alrune não se faz tão branda a seu conhecimento naquele momento. Ainda por cima, tem medo de ser destroçado pelo poder ininterrupto do braço de ferro. A sensação estranha ainda flui sobre seu corpo, e ele consegue ver a magia roxa como labaredas por todo o seu corpo.
"Sinto-me bem, mas isso é tão esquisito". O rapaz olha para a Valquíria, que não esboça menos que um belo sorriso felicito.
— O que é isso Alrune? — questiona — O que é Vanaheim?
— O lar de Freya. — ela responde, fechando os olhos. — Quando Freya morreu, ela escolheu a Valquíria em que renasceria no mesmo instante. Imaginei que isso aconteceria caso Beadohild acabasse por ter um filho. A criança nasceria com o sangue Vanir. Vanaheim é um dos nove mundos, onde residia a família da majestade das valquírias.
O rapaz solta a espada, e caminha para fora do salão, esbanjando mais magia a cada pisada.
"Ele está mantendo o poder Vanir, aprendendo sobre ele, mas não parece nada feliz...Por quê?"
Ela tenta alcançá-lo com a mão, mas ele está muito distante, e já há sumido de sua visão. Alrune fica parada, esperando que sua mente lhe dê a resposta para tais atos.
"Por que humanos são tão complicados?"
— Uma vez ele nos disse que um dos principais motivos para estar aqui é pela oportunidade de ver a mãe. — Bjorn fica ao lado dela. — Não acha que é cruel demais, pensar que o desaparecimento da mãe já fosse algo traçado, e que seu poder provém dessa perda?
Alrune compreende a berserker. Pensando na idiotice que faz em estar tão alegre para algo que Viðga considera um fardo. A Valquíria dá alguns passos a frente, decidida a falar com ele, mas Bjorn segura em seu ombro. Quando se olham a amazona balança sua cabeça em negação, e depois sorri para Alrune.
— Fale com ele mais tarde... prepare o leitão por hora — A berserker caminha para fora do salão.
Bjorn vai atrás do príncipe, e ela sabe onde ele está. Quando sobe ao alto do palácio o acha, cortejando a beleza do lago Müritz enquanto deixa seu cabelo dançar com o vento. Ela consegue ver o ar quente sair de sua boca devido à temperatura baixa do dia ensolarado.
— Meu povo vivia num vilarejo escondido na mata densa. Apenas mulheres que fugiram da guerra. Elas me ensinaram a lutar, para que se necessário pudesse proteger as minhas semelhantes. — Bjorn dá uma pausa — Nunca soube em que momento a selvageria açoitou os homens da Dinamarca. Vikings. Sempre os odiei. Quando nos acharam, numa excursão em ida a Inglaterra, devastaram parte do meu vilarejo no fogo. — A amazona fecha o punho, apertando a própria carne. — Essa forma dentro de mim se apresentou naquele dia. Desde então, quando tomei ciência, tudo havia acabado. Eu nunca soube se foram os vikings que acabaram com meu povo, ou esse urso.
— Como convive com isso? — Viðga a indaga.
— Não posso alterar meu passado. Apenas carregá-lo comigo. — Ela o olha, sorridente. — Mas posso fazer o possível para alcançar minha paz. Encontrar em novas ações um motivo de validar minha vida, até a morte.
— Se sente bem com isso? Saber que daqui a pouco tempo pode não estar mais viva?
— Morte nunca me foi um problema. Viveu-se bem, comi o quanto pude, transei o quanto pude, amei o quanto pude, então o que vêm após não deve ser tristeza, não é? O que fica em nossas memórias são o que importa, não o final. Entende?
Viðga sorri, observando o pulo dos peixes no lago. — Entendi sim Bjorn... — Ele mostra a ela um rosto mais leve — Obrigado.
Ela se aconchega mais próximo, e abaixa seu corpo para ceder a ele um beijo tímido. Como se naquele toque de lábios encerrassem as tristezas do momento. Viðga vê, ao fim do beijo, o corar do rosto da amazona, coisa que é difícil, e nunca há imaginado ocorrer. Bjorn logo estica suas costas e sai de perto.
— Bjorn! — Viðga grita a ela. — Você sente que comeu o tanto pode, transou o tanto que pode, e amou o quanto pode?
A amazona fica contente, uma feição feliz que dá para sentir mesmo de costas. Ela continua seguindo até as escadas e quando desce o primeiro degrau, para, olhando para baixo.
— Estou viva, e você está aqui. — profere — Quando morrer, posso dizer que foi o suficiente. — desce as escadas.
Ele sorri, mais aliviado com a resposta da amazona.
— quem diria que uma mulher dessas consegue se tornar um urso — sussurra para si, rindo das próprias falas.
O príncipe olha para o céu, onde as nuvens parecem andar com velocidade nos ventos alísios. Sua mente pensa no passado, e nos conhecimentos atuais, confuso e aliviado.
"Mãe... sinto que logo nos encontraremos, nem que seja para um último abraço, ou um último adeus. Sua história é mais bela e impactante do que eu jamais poderia imaginar."
Ele se concentra, conseguindo depreender do poder Vanir em seu corpo. A força flui em cada uma de suas veias.
"Acabarei com tudo isso, e nenhuma outra mãe terá de abandonar seu filho. E nenhum outro homem terá de deixar sua família para se matar pelos deuses. Nunca mais".
Uma águia resplandece no cume das nuvens, abrindo suas asas. Dominando todo aquele ambiente azul.
— Precisamos atacar Wolfsburg antes que eles venham até nós.
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O Cão de Valhalla
FantasyA mando de Odin, as valquírias estão contra os homens. Os mortos-vivos. As guerras. Fome. Frio. Tais problemas são explicados pelos xamãs como o início do Ragnarok. Em meio as trevas de uma Alemanha destruída está Dylan. Um galês que desembarcou nas...