Wolfsburg, o último lobo

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Dylan há contado para os elfos que Wolfsburg é um lugar pacífico. Ainda que no limiar do confronto a Valhalla.

A realidade não corresponde aos contos.

Os cavalos bufam cansados, suas respirações são o vapor daquele clima de chuviscos.

Dylan imagina que qualquer lugar pode ser um ambiente de guerra, mas não ali. As casas destruídas. O fogo que ainda sobe nas madeiras carbonizadas. Os corpos pútridos estripados e coberto por moscas.

Ele nunca cogitou um ataque a Wolfsburg. A sua feição de espanto, o rosto paralisado e a boca trêmula são o sentimento mais sincero e descrença que ele pode passar.

Sem explicar aos demais, ele salta da carroça e corre para dentro da cidade. Onde nela uma casa em especial lhe importa. Os elfos o seguem, com retardo de Egill, que prioriza amarrar os cavalos no tronco.

As gotas pingam a cada momento que o galês profere a si — não, não, não... — querendo, crer que o universo gosta dele, e que pode ter uma resposta positiva.

Quando para e vislumbra a casa de Fritz, tem ali a sua resposta do destino.

Ele odeia Dylan.

Os escombros esmagam os membros inferiores do amado mestre, que jogado ao chão, se mantém desacordado. O rapaz vai até ele, desesperado, e tenta tirá-lo, sem sucesso. Ele dá leves tapas no rosto do mais velho, pedindo pelos deuses para que ele responda.

— Vo... Você... — Fritz abre os olhos com dificuldade. A nunca suja o solo com seu sangue. — Atrapalha até meu momento de morte... ga... ro... to.

— Fritz! Para de falar imbecil! Eu vou tirá-lo daqui! — Dylan busca, no alcance dos olhos, algo que possa auxiliá-lo a erguer os escombros.

— Garoto... — Fritz põe as mãos no pomo do aprendiz. Assim que os olhos se cruzam balança a cabeça, indicando-o que não há saída daquele estrago. — Cuide de Leona para mim, por favor. Ela foi uma nora honrosa, com meus dois filhos.

Quando Dylan se toca que Fritz o considera um filho, não consegue conter as emoções. Seus olhos se enchem de lágrimas, mesmo que elas não desçam por seu rosto.

— Quem fez isso Fritz? — Dylan questiona, sentindo na respiração do ancião seus últimos segundos.

— Ele gritava seu nome... — Mal consegue falar. — Tal de... Viðga...

A mão do idoso escorrega sob o tecido do rapaz, mas Dylan, mesmo em choque, evita deixá-la cair no chão. Seus olhos se fecham, e com a força de seus braços e um grito de fúria consegue empurrar a madeira para longe do jazido.

Ele coloca seu amado mestre no colo. Sem dizer uma única palavra com os elfos, trilha o caminho do morro, entrando no caminho da floresta. Egill olha para seu irmão, e percebe que aquele é um momento em que não devem segui-lo.

Quando chega ao jardim em que treinou por tantos meses busca o centro da praça de pedra. Assim que vê a posição ideal, repousa seu mestre no lado e com a nudez das mãos puxa um pedregulho por vez.

As rochas são tão afiadas que cortam a superfície da pele, mas não parece machucá-lo. Pelo contrário, quanto mais cava, mais força enfia as mãos, até que a terra apareça e possa ali criar uma cova.

Ele se ergue, após alguns minutos, com a cabeça cheia de dor e lembranças. Sujo, olha para aquele buraco assustador. Uma sensação que só aqueles que enterraram seus entes queridos sabem.

A brutalidade que é descer o corpo a algo tão rude. — o jardim de seu filho. O lugar que amava. — ele deita o corpo do mestre na cova — descanse ao lado dele, velho resmungam.

A dor não sai, pois, a terra tem mais peso após ter sido tirada. Jogá-la de volta é pior que enfrentar a própria morte. Seus fragmentos descem nos dedos mecânicos do homem. Ele busca forças para fechar à sepultura.

Horas se passam, até que ele deposita naquele recinto, com carinho, e dor, a última pedra. O galês cai ao chão, ajoelhando-se acima do idoso enterrado. Todos os momentos com aquele ancião. Os cuidados e tratamentos que obteve para tornar-se uma pessoa melhor.

É isso?

No mundo de caos, onde todos falam sobre o bem. É esse o tratamento a uma pessoa que pratica o bem?

"Ele não merece ter morrido desse jeito."

Dylan aumenta o timbre do berro. Sua garganta emite um som latente que preenche toda a natureza ao redor. Os elfos ouvem, da cidade destruída, além de ver os passarinhos fugindo daquele ardor.

Egill se atina a outro som, que parece corresponder o grito do galês. O uivo apocalíptico e longínquo. — Não é possível... — sussurra. Enquanto uma sensação estranha faz sua espinha arrepiar-se.

— Quando estava com Loki, ele me disse que a prisão e soltura de Fenrir não passavam de uma alegoria. — Egill incita a conversa, prendendo a atenção de Velent. — Seu filho, de fato, existia, mas o seu crescimento não era em tamanho, mas em poder. Uma força aprisionada que se libertaria quando encontrasse aquele...

— Aquele? — Velent questiona.

Pouco tempo depois, uma energia preta desce dos céus na floresta, como uma jorrada de fogo na direção do seu centro.

— O ser capaz de fazer sua irá contra os deuses se materializar. — Egill pega o cantil com vinho e toma, aproveitando o gole alcoólico. — "Imagina alguém que ama a vida e aqueles que o cercam. Mas sem respostas, ele é torturado, maltratado, aprisionado e lhe tiram tudo. Como ele se sentiria?"

— Um cão que se soltou... — Velent conclui, entristecido.

— Começou irmão... — Egill vê o rapaz descer da floresta, com algo sombrio ao seu redor. Seus olhos não parecem mais humanos, mesmo que ainda seja o mesmo Dylan. — O Ragnarok acabou de começar...

O Cão de ValhallaOnde histórias criam vida. Descubra agora