"Rezaremos por Odin, meu filho."
A pintura que pincela a fala se move enquanto a criança, animada, vai de encontro à mãe. Preparado para expor suas crenças ao altar.
"Mãe, Odin responde aos nossos chamados?"
Ela questiona. Sempre faz essa pergunta. A resposta vem com um sorriso alegre nos lábios rosados iluminados pelo sol da manhã.
— Se você acreditar... — Viðga sussurra.
— Príncipe? — Alrune toca o ombro amolecido do valete assentado ao trono.
Viðga desperta, assustado. Quando vê sua aliada a encara por alguns minutos, até que coça os olhos, tomando ciência do dia.
— Perdão, Alrune.
— Ficar sentado neste trono está lhe fazendo mal. — ela aponta para o enorme portão aberto, que de fora nada vêm além do vento e da luz — Contempla? Não há súditos para que faça o trabalho chato de um nobre.
Viðga se levanta, esticando o corpo e estalando os ossos enferrujados. O garoto olha para o assento quase que por paralisado. A Valquíria quer perguntá-lo, mas teme tirá-lo de um estado de concentração.
— Meu avô ficava assim o dia inteiro... — Viðga se pronuncia. — E sentado no trono ele executava e escravizava. Às vezes ficam sentado ali pensando se eu seria um rei, capaz de proteger os outros... ou acabaria que nem meu avô. Um demônio.
Alrune vê a sinceridade nas falas e o peso dos sentimentos do rapaz, e só tem a sorrir. Quando Viðga a vê sorrindo, fica envergonhado, e foge aos seus olhos. Caminhando para o meio do salão em busca de algo para ser feito. O rei para antes de ultrapassar a porta. Deixando sua sombra ocupar grande parte da parede enquanto o sol irradia toda sua pele.
"De um lado, a bondade Vampirina, do outro... apenas um homem". Alrune caminha atrás do príncipe, esperando ser guiada para o seu próximo passo.
— Como estão Odin e as Valquírias? — Viðga questiona.
— Longe daqui ainda, mas devo alertá-lo. É certo que ele já saiba de você.
— Não tem problema... — Viðga ultrapassa o portão, caminhando pelo enorme corredor. — Eliminaremos um problema por vez. Primeiro, temos que acabar com o exército dos lobos vermelhos. Eles têm minado nossas forças ao sul
— Eles ainda não entraram e Valhalla senhor, quer iniciar uma emboscada?
— Não. — Viðga chega até uma bifurcação, e nela segue o caminho a direita, indo em direção a sacada que dá vista para o jardim. Lá, vê Bjorn, tomando banho no chafariz. — Vamos até Wolfsburg. Lutar com eles antes que tomem o primeiro passo, e destruir aquela cidade até a última centelha de pó.
Alrune se aconchega, e observa a naturalidade da mulher musculosa, que canta em seu banho. Por intuição, a berserker olha para a sacada, e vê que está sendo vigiada. Quando percebe serem seus aliados lança um sorriso e um aceno gracioso.
— Príncipe! Vamos trepar! — Grita, tão alto que até os monstros de Valhalla ouvem.
— Como ela consegue ser tão... natural? — Alrune questiona, risonha pelo pedido da amazona.
— Como nós... que nascemos em mundos cercados pela realeza, não conseguimos ser tão naturais quanto ela... — Um sorriso incontrolável sobe no rosto de Viðga.
— Humpf... de alguma forma... — Alrune olha para os draugs. As criaturas horrendas mantêm distância da Bjorn, mas continuam seus atos comuns. Enquanto não guerreiam por Odin, ou por Viðga, estão duelando entre si. Acumulando o corpo um dos outros e se tornando algo muito distinto do corpo humano. — Essas almas... É doloroso só de olhá-las. Por algum motivo, você parece ter dado sentido à existência delas.
— Isso é um elogio? — O nobre dá um sorriso. — Nunca questionei, mas por que está contra ele?
— Bjorn! — Alrune grita a berserker, mudando o foco da conversa. — Que tal uma batalha contra o príncipe? O vencedor ganha um leitão assado!
O príncipe fica sem entender. Primeiro pela falta de resposta e agora a incitação a uma batalha que ele nem sequer está preparado. A amazona para de se banhar e corre pelada, cheia de animação, para vestir-se pro combate. A Valquíria o olha e começa a caminhar para o distante de seu olhar. Indo onde aquele desafio será resolvido.
Ele a segue. Aquilo há deixado chateado, mas não quer parecer um jovem sensível. Eles entram num enorme salão, dado pelo portão no meio do corredor. Aquele lugar é pincelado com arsenal de armas e alvos em todos os cantos. Um lugar que a Valquíria utiliza para poder treinar suas técnicas de combate.
Ambos esperam a chegada da berserker, enquanto nada falam no silêncio da inquietude. A amazona, eufórica, surge na porta, gritando a plenos pulmões.
— É até a morte!? — ela berra — Há quanto tempo eu estava esperando uma batalha com alguém a minha altura! — Bjorn estala os dedos e os braços, cada barulho mais atormentador do que o outro. — Não é porque eu te acho uma gracinha que não vou afundar seu crânio no chão, neném. — se refere ao rapaz.
O príncipe pega uma espada. Não sentindo confiança, troca por outra, e esta quer empunhar. Ele vai para o centro, esperando o avanço de sua aliada.
— O que é isso Alrune!? — pergunta, ainda chateado.
— Eu sinto o medo em seu coração Viðga. — a Valquíria responde, arrepiando os pelos do príncipe. — Quando enfrentam humanos, está sempre pronto. Como se os subjugasse pela capacidade de não serem tão bons quanto você. E, não está errado. — Seu olhar é seco — mas quando falamos de Odin, Ragnarok, e todos os tormentos que estão por vir, você recua. Quero te mostrar aqui, porque não deve fazer isso. — Alrune olha para Bjorn. — Mate-o se for necessário.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Cão de Valhalla
FantasyA mando de Odin, as valquírias estão contra os homens. Os mortos-vivos. As guerras. Fome. Frio. Tais problemas são explicados pelos xamãs como o início do Ragnarok. Em meio as trevas de uma Alemanha destruída está Dylan. Um galês que desembarcou nas...