Capitulo 1

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Ela estava em uma queda livre de mais de cem metros, e logo abaixo, um chão cheio de pedras, pedras pontiagudas que a perfurariam assim que essa tocasse o chão. Ela não conseguira ver quem havia a empurrado do penhasco, portanto não teve como impedir.

Ela já estava a seis metros de distância das pedras, quando um homem alado veio em sua direção, ele a pegou e a envolveu em seus braços a levando para cima.

— Está tudo bem, está tudo bem — Dizia o homem. — Eu te peguei, e agora você está segura.

E foi isso.

Ao abrir os olhos ela encarou uma parede de pedra embolorada.

— Vamos, levanta! — Gritou o capataz da prisão a chutando.

Tudo não passara de um sonho, e Ariela estava mais uma vez na cela cinza e fétida de sempre. A cela sem nenhuma luz do sol, para a aparentemente, mulher mais perigosa de Cortlend. Ela não sabia o porquê, ela não se lembrava de absolutamente nada sobre sua vida, e não fazia a menor ideia do porquê de ter sido presa.

Diziam a ela que havia assassinado cinco duques em apenas uma reunião, da qual havia se infiltrado, se passando por uma Lady que estava morta a três meses. Ela não sabia se aquilo era verdade, perdera a memória a quase um ano, quando foi presa.

Apesar de não saber se o que diziam era verdade, ela se sentia um ser humano horrível, então não reclamava quando todas as manhãs o capataz a chutava para a acordar. Ou quando levava chibatadas por absolutamente nenhum motivo.

— Levanta! Você vai sair daqui hoje.

— O que vão fazer comigo?

— Não sei. Agora levanta logo.

Ariela se levantou e estendeu as mãos para que o capataz prendesse os grilhões em seus pulsos. Todos os dias era a mesma coisa, ela era acordada com chutes e gritos, depois presa e levada para minas escuras de diamantes, dentro da prisão, onde passava o resto do dia com outros presos e mineravam as  rochas em busca das pedras preciosas.

O capataz a puxou pelas galerias de pedra da prisão, até a saída. Saída. Aquele lugar horroroso tinha uma saída, e ela estava prestes a passar por ela. Ariela estava a poucos passos de um mundo inteiro lá fora, um mundo que não merecia.

Ao sair, se deparou com um grande pátio. Ela nunca havia visto como era a prisão por fora. Não sabia como era Cortlend, sua primeira memória, foi de acordar na cela, e o capataz dizendo que ela havia sido presa.

No grande pátio haviam meia dúzia de guardas e um cavalo. O capataz ainda segurava as correntes que estavam presas aos braços de Ariela quando subiu no cavalo. Dois guardas se posicionaram a frente do cavalo, outros dois se posicionaram um de cada lado do cavalo, mais dois se posicionaram um de cada lado de Ariela, e os outros quatro seguiram atrás deles.

O cavalo começou a andar puxando Ariela para que andasse também, todos seguiram para fora dos grandes portões da prisão e pelas ruas de Cortlend. E apesar de estar acorrentada, Ariela se deliciava com a luz do sol. Não via o sol a meses, e aquela era a melhor sensação que já havia experimentado, durante os meses na prisão, ela se lembrara vagamente da sensação de calor e luz.

                                                                                                   — ◇ —

Eles andaram alguns quilômetros, até chegarem ao centro do reino, Olria, a capital de Cortlend. Conforme andavam pelas ruas, Ariela sentia o olhar de desprezo e julgamento que as pessoas davam sobre ela. Aparentemente todos sabiam quem era ela e o que ela havia feito.

Ela foi arrastada até a praça central de Olria, onde haviam milhares de pessoas ao redor de um homem, com uma coroa na cabeça e.... Ariela engoliu em seco ao ver a enorme forca ao lado do rei. Ela tentou se lembrar de como respirar, estava tudo bem, a hora dela tinha chegado e estava tudo bem, ela merecia aquilo, pois era um ser humano desprezível que não tinha lugar no mundo.

O capataz desceu do cavalo e a puxou até perto da forca.

— Esta é Ariela, a mulher que matou homens inocentes, que arruinou famílias, que deixou um vazio no coração das famílias dos duques e de todo o povo de Cortlend, e agora ela irá pagar por seus crimes! — Anunciou o rei, que recebia vivas e aplausos do povo.

Aplausos.

Muitos aplausos e gritos de felicidade pela morte dela.

Dois guardas a pegaram pelos braços e a arrastaram até a forca, ela se debatia para tentar se livrar dos guardas. Porque não, não estava tudo bem, ela não estava pronta para morrer. Ela não queria morrer.

Por mais culpada que se sentisse, a morte não parecia ser algo agradável, ela sentia que ainda tinha coisas para viver e aquele não poderia ser seu fim. Ela não conseguiu se soltar. Os guardas a colocaram em cima de um banco e o carrasco colocou a corda em seu pescoço. Ela olhou em volta para as pessoas que estavam alegres com sua morte e fechou seus olhos, desejando que aquilo fosse apenas um sonho, e que aquele homem alado a salvasse novamente.

— Ariela, você será enforcada pelos muitos pecados que cometeu, pagará com a vida pela dor que causou aos parentes dos homens que matou. — Anunciou o rei e depois fez um sinal para o carrasco.

Era agora, sua hora havia chegado. O carrasco estava pronto para enforca-la, quando uma moça, saiu da multidão e golpeou o carrasco, fazendo-o cair no chão. Ela tirou a corda do pescoço de Ariela, e os guardas vieram correndo para prender a moça, mas a mulher conseguiu desarmar todos, e deixá-los desacordados.

— Corre! — Disse a mulher puxando o braço de Ariela.

Ariela desceu do banco e saiu correndo atrás da mulher, o rei gritou para que mais guardas as capturassem. As duas saíram em uma corrida desesperada pelas ruas da cidade, as pessoas gritavam assustadas.

Elas correram um pouco, e Ariela já estava cansada, os grilhões ainda estavam em seus pulsos, e a ferida que recebeu do chicote na noite anterior ainda estava aberta, além de ter andado por um tempão até chegarem a praça. Ela sentia o corpo pesado, e começava a andar lentamente. O sol já não parecia mais tão agradável.

— Corre! — Disse a mulher.

— Não consigo. — Respondeu ela arfando.

— Você não está entendendo, ou você corre, ou você morre!

— De verdade, eu já estou cansa...

Ariela desmaiou no meio da rua. A mulher ficou furiosa.

— Droga! Droga, droga, droga! Essa é a pior hora pra você desmaiar. 

Prisão De Asas E MemóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora