Capitulo 5

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Ariela passou a manhã inteira sentada naquela poltrona, apenas repetindo a memória que tivera várias e várias vezes. O sorriso da mulher era reconfortante, como se ela não estivesse mesmo sozinha, e a forma como ela a chamara, Caçadora do Vento, o nome ressoava em seus ouvidos.

Ela observou a casa ao seu redor, ao entrar na casa, você se deparava com um corredor, e virando a direita, entrava na sala, ela não era muito grande, tinha um sofá de três lugares e duas poltronas, cercando uma mesinha de centro. De um lado da sala, havia duas portas que davam para quartos, e do outro, mais duas portas, uma dava para um quarto, e a outra para a cozinha.

Ariela se levantou e foi até o corredor, a esquerda havia o banheiro, e no fim dele, havia uma porta aberta que dava para uma varanda. Ela saiu para a varanda e se apoiou na grade. Lá embaixo haviam dezenas de pessoas que entravam e saiam do que quer que fosse a construção sob a casa.

Um cheiro delicioso de comida assando subiu até ela. Laís dissera que Dália era padeira, provavelmente aquilo era uma padaria, e a casa deveria pertencer a ela. Alguém na rua olhou para cima, e ela rapidamente se afastou do parapeito. Não podia correr o risco de ser vista.

Ela escutou o barulho de uma porta se abrindo, e logo depois um "Droga!", em seguida, Laís apareceu ali na varanda com uma expressão de alivio.

— O que foi?

— Nada, não foi nada.

— Achou que eu tinha fugido?

— Não... Achei.

— Não se preocupe, eu não tenho nenhum lugar pra ir, e não quero arriscar ser morta.

— Olha, eu fui sincera com as desculpas, sinto muito, muito mesmo por você ter sido presa em meu lugar.

— Está tudo bem, consegui me lembrar de algo hoje.

— Sério? O que foi?

— Nada que me de alguma clareza sobre o que aconteceu, mais que me ajudou... — Ela parou de falar por um segundo para olhar para a rua abaixo.

— O que foi?

— Imagino que terei que ficar trancafiada aqui todos os dias.

— É claro que não.

— Então o que vou fazer para não me reconhecerem?

— Nada que uma tinta de cabelo não resolva.

— Não!

— O quê?

— Não vou pintar meu cabelo.

— Acho que você não tem muita opção de escolha.

— Não vou pinta-lo.

— Por que?

— Porque... — Ela suspirou. — Porque quando acordei naquela cela, e não me lembrava de nada, a única coisa que consegui ver, foi meu cabelo, e tive a certeza de que eu ainda era eu mesma, seja lá quem eu tenha sido, minha personalidade, meus sentimentos, não haviam mudado.

Ela olhou novamente para Laís, a assassina tinha lagrimas nos olhos, e parecia querer chorar.

— Você está bem? — Perguntou Ariela, pressionando os lábios um contra o outro para evitar rir.

— Estou, é que... — As lagrimas começaram a escorrer pelo rosto de Laís.

— Tem certeza de que é uma assassina? — Ela perguntou rindo.

— Tenho, e juro que se contar isso pra Leo, eu te mato na mesma hora.

Ela secou as lagrimas.

— Eu já volto.

Laís entrou novamente na casa, e ela se sentou em uma das cadeiras espalhadas pela varanda. Em alguns minutos, Laís apareceu segurando uma peruca nas mãos, ela a deu para Ariela.

— Já que não quer pintar o cabelo, acho que isso irá servir. Só precisa se lembrar de coloca-la antes de sair.

— Obrigada.

— Não tem de quer.

                                                                                                   — ◇ —

Ela se sentou ali ao lado de Ariela, as duas olhando para o nada. Até que ela escutou um barulho, um ronco. Era o estomago da garota ao seu lado, Laís se lembrou de que não havia oferecido comida a ela em nenhum momento, e ela não deveria comer muito na prisão. Ela desceu até a padaria para pedir que Dália preparasse um almoço para as duas. Ela nunca mais arriscara cozinhar desde que havia tentado fritar panquecas e quase incendiou a casa inteira.

Alguns minutos depois ela subiu de novo com uma bandeja, com alguns pratos tampados.

— O que é isso?

— Não perguntei a Dália o que ela colocou aqui, mas é para ser comida.

Ela apoiou a bandeja em uma mesa e destampou os pratos. Os olhos de Ariela pareciam brilhar diante de uma torta de carne, pão, uvas e uma torta de limão. Em segundos as duas já estavam devorando a comida.

— E então? O que achou?

Considerando que Ariela recebia um pão duro, ou uma tigela de uma gororoba cinzenta uma vez por semana, aquela era a melhor comida do mundo, mas ao invés de dizer isso ela apenas respondeu:

— Está espetacular.

— Que bom. Dália vai ficar feliz com isso.  

Prisão De Asas E MemóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora