Ariela passou a manhã inteira sentada naquela poltrona, apenas repetindo a memória que tivera várias e várias vezes. O sorriso da mulher era reconfortante, como se ela não estivesse mesmo sozinha, e a forma como ela a chamara, Caçadora do Vento, o nome ressoava em seus ouvidos.
Ela observou a casa ao seu redor, ao entrar na casa, você se deparava com um corredor, e virando a direita, entrava na sala, ela não era muito grande, tinha um sofá de três lugares e duas poltronas, cercando uma mesinha de centro. De um lado da sala, havia duas portas que davam para quartos, e do outro, mais duas portas, uma dava para um quarto, e a outra para a cozinha.
Ariela se levantou e foi até o corredor, a esquerda havia o banheiro, e no fim dele, havia uma porta aberta que dava para uma varanda. Ela saiu para a varanda e se apoiou na grade. Lá embaixo haviam dezenas de pessoas que entravam e saiam do que quer que fosse a construção sob a casa.
Um cheiro delicioso de comida assando subiu até ela. Laís dissera que Dália era padeira, provavelmente aquilo era uma padaria, e a casa deveria pertencer a ela. Alguém na rua olhou para cima, e ela rapidamente se afastou do parapeito. Não podia correr o risco de ser vista.
Ela escutou o barulho de uma porta se abrindo, e logo depois um "Droga!", em seguida, Laís apareceu ali na varanda com uma expressão de alivio.
— O que foi?
— Nada, não foi nada.
— Achou que eu tinha fugido?
— Não... Achei.
— Não se preocupe, eu não tenho nenhum lugar pra ir, e não quero arriscar ser morta.
— Olha, eu fui sincera com as desculpas, sinto muito, muito mesmo por você ter sido presa em meu lugar.
— Está tudo bem, consegui me lembrar de algo hoje.
— Sério? O que foi?
— Nada que me de alguma clareza sobre o que aconteceu, mais que me ajudou... — Ela parou de falar por um segundo para olhar para a rua abaixo.
— O que foi?
— Imagino que terei que ficar trancafiada aqui todos os dias.
— É claro que não.
— Então o que vou fazer para não me reconhecerem?
— Nada que uma tinta de cabelo não resolva.
— Não!
— O quê?
— Não vou pintar meu cabelo.
— Acho que você não tem muita opção de escolha.
— Não vou pinta-lo.
— Por que?
— Porque... — Ela suspirou. — Porque quando acordei naquela cela, e não me lembrava de nada, a única coisa que consegui ver, foi meu cabelo, e tive a certeza de que eu ainda era eu mesma, seja lá quem eu tenha sido, minha personalidade, meus sentimentos, não haviam mudado.
Ela olhou novamente para Laís, a assassina tinha lagrimas nos olhos, e parecia querer chorar.
— Você está bem? — Perguntou Ariela, pressionando os lábios um contra o outro para evitar rir.
— Estou, é que... — As lagrimas começaram a escorrer pelo rosto de Laís.
— Tem certeza de que é uma assassina? — Ela perguntou rindo.
— Tenho, e juro que se contar isso pra Leo, eu te mato na mesma hora.
Ela secou as lagrimas.
— Eu já volto.
Laís entrou novamente na casa, e ela se sentou em uma das cadeiras espalhadas pela varanda. Em alguns minutos, Laís apareceu segurando uma peruca nas mãos, ela a deu para Ariela.
— Já que não quer pintar o cabelo, acho que isso irá servir. Só precisa se lembrar de coloca-la antes de sair.
— Obrigada.
— Não tem de quer.
— ◇ —
Ela se sentou ali ao lado de Ariela, as duas olhando para o nada. Até que ela escutou um barulho, um ronco. Era o estomago da garota ao seu lado, Laís se lembrou de que não havia oferecido comida a ela em nenhum momento, e ela não deveria comer muito na prisão. Ela desceu até a padaria para pedir que Dália preparasse um almoço para as duas. Ela nunca mais arriscara cozinhar desde que havia tentado fritar panquecas e quase incendiou a casa inteira.
Alguns minutos depois ela subiu de novo com uma bandeja, com alguns pratos tampados.
— O que é isso?
— Não perguntei a Dália o que ela colocou aqui, mas é para ser comida.
Ela apoiou a bandeja em uma mesa e destampou os pratos. Os olhos de Ariela pareciam brilhar diante de uma torta de carne, pão, uvas e uma torta de limão. Em segundos as duas já estavam devorando a comida.
— E então? O que achou?
Considerando que Ariela recebia um pão duro, ou uma tigela de uma gororoba cinzenta uma vez por semana, aquela era a melhor comida do mundo, mas ao invés de dizer isso ela apenas respondeu:
— Está espetacular.
— Que bom. Dália vai ficar feliz com isso.

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Prisão De Asas E Memórias
FantasyAriela, acusada de assassinato e sem memória, está prestes a morrer enforcada, quando é salva por uma mulher que nunca viu antes. Agora fugitiva e sendo procurada pelo rei, ela se junta a verdadeira assassina, uma ladra de joias, uma padeira e o pr...