Capítulo 06 = Caio =

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Fico pensando qual o propósito da vida das pessoas. Por exemplo, a pessoa nasce, cresce e morre, mas o que irá fazer do decorrer desse tempo?

Vou me apresentar, sou o Caio, tenho 18 anos, estou no terceiro ano do colegial e faço uns bicos no lava rápido e entrego panfleto nas casas. Amo capoeira e adoro correr, participo de todas as maratonas que eu posso. Sou filho único e moro com os meus pais. Não me acho um cara bonito, sou como qualquer outro.

Minha família me odeia por eu ser gay, minha tia Dulce irmã da minha mãe me proibiu de entrar na casa dela alegando que eu sou péssima companhia para o Renam e o Ruam, eles são meus primos e são insuportáveis, homofóbicos e estilo Bady boy. O único que me trata bem é o meu tio e mestre Janjão, ele já abriu mão dos filhos porque eles são terríveis mesmo. Ele diz que não aguenta mais a minha tia e os meninos, que qualquer dia vai sumir de casa. Eu mesmo nem imagino o que ele deve passar.

Minha mãe... ai esta o problema maior, ela só grita comigo, diz que se descobrir que sou gay, ela me mata. Exatamente isso, ela disse assim " não pari e nem criei filho para ser viado, eu te mato antes de me dar esse desgosto ". Isso é só um pouquinho do que ela fala comigo, e tudo isso gritando.

Meu pai só olha e não faz nada, ele finge que não vê e nem ouve nada. Eu tenho medo da minha mãe, e acho que meu pai também, porque ele nunca me defendeu.

Eu sou apaixonado por cozinhar, adoro inventar pratos diferentes, misturar sabores, tenho um prazer incrível em ficar no fogão, quando termino um prato que fica perfeito eu me emociono, porque foi eu quem criei. Minha mãe mandou eu escolher um curso qualquer, disse que filho dela terá faculdade, assim os vizinhos irão saber que ela tem dinheiro para pagar.

Escolhi fazer Gastronomia, e meu maior sonho é abrir um restaurante pequeno mesmo. Mas desanimei total, fui falar para a minha mãe e ela proibiu, disse que macho não pilota fogão, que isso é coisa de mulher. Mandou eu escolher outra coisa, minha segunda opção é fazer Moda, mas acho melhor eu nem falar nada, na realidade não quero mais estudar. Só quero arrumar um emprego e ir embora daquela casa.

Tenho três melhores amigas, a Tata, a Bia e a tia Ju. Amo demais elas, considero elas minha única família, fui praticamente criado na casa delas, Tia Ju e tio Paulo me tratam como um filho, fazem bolo de aniversario pra mim, me levam no médico, a tia vai nas minhas reuniões da escola, viajo com eles, até roupa a tia compra pra mim. Não sei o que seria da minha vida se não fosse eles.

A única alegria que tenho é quando vou para a capoeira, lá eu me sinto livre, sou uma pessoa calma, nunca briguei com ninguém, não acho certo bater em uma pessoa, acho um absurdo você tocar em uma pessoa sem permissão, não sei se vocês concordam.

Nesse momento estou na cama de um hospital, olhando para o teto e pensando na minha vida inútil, aonde eu volto ao assunto, qual o propósito da vida.

Estou aqui porque apanhei feio do Renam, ele todo homofóbico veio me agarrando na praça, acreditem que ele disse que sempre me olhou mas ele tem raiva porque eu sempre ignoro as investidas dele.

Eu juro que nunca percebi nada, afinal, eu nunca namorei, nunca beijei na boca de ninguém. Sei que sou gay porque nunca senti atração por mulher nenhuma, e olhem que a minha melhor amiga Tata é uma gata, e a Bia apesar de ter só 12 anos nem parece, é outra gata. Já  cansei de ver as duas de calcinha e sutiã e não sinto nada. Agora, vai um homem ficar de cueca na minha frente, só falto entrar em combustão, meu corpo inteiro reage.

Não pedi para ser assim, me controlo como posso,  vou na psicóloga da escola de 15 em 15 dias, ela diz que tenho que me aceitar como sou, só assim conseguirei seguir minha vida. Que eu não posso entrar em depressão.

Destravei meu celular e estou vendo uma foto minha e da Tata (mídia), foi no dia que nós passamos no teste da escola e conseguimos uma vaga para a maratona escolar. Nesse dia eu fiquei em primeiro lugar no masculino e a Tata em segundo no feminino. Fomos para a pizzaria comemorar, esse dia foi o melhor e o pior da minha vida.

Quando cheguei em casa, os meus primos e tia estavam lá, já imaginei que seria um inferno minha noite, mas não imaginava que seria tanto.

Meus primos inventaram que me viram na escola beijando com outro cara. Não precisei falar nada, porque ela não iria acreditar mesmo, minha mãe mandou meu primo Renam me bater, ensinou ele a não me bater na cara para ninguém ver que apanhei. 

Nesse dia eu levei muitos chutes e socos na barriga e nas costas, deixei a barriga dura para a pancada não afetar meus órgãos, aprendi isso na capoeira. Minha mãe ligou para o meu vô e disse que eu iria passar um tempo por lá, segundo ela era para eu aprender a virar homem.

Meu avô que é pai da minha mãe, acho que é o sangue deles que são ruim mesmo, só pode. Ele mora sozinho, a minha avó cometeu suicídio a alguns anos, eu até imagino o porque. Cheguei na casa dele no litoral de São Paulo, ele mandou eu ir dormir no quartinho da edícula que ele tem no terreno dele, ele nunca me bateu, mas me humilhava, fez eu limpar a casa, fazer almoço, janta e café da manhã, lavava roupa, fazia de tudo em casa. Fiquei lá por 6 meses e ele não trocou uma palavra comigo. Tudo que ele queria era deixando um bilhete escrito.

A coisa boa disso tudo é que eu sei fazer de tudo em uma casa, posso morar sozinho de boa que me viro.

Eu fiquei 6 meses trancado em casa, não podia chegar perto do portão e nem falar com ninguém. Ele pegou meu celular e tirou a bateria, eu fiquei desesperado querendo mandar mensagem para a tia Ju, para ver se ela me ajudava. Mas minha mãe e meu vô fizeram tudo direitinho.

Repeti de ano, perdi meu batizado e não consegui fazer a troca do cordão na capoeira. Hoje era para eu estar na faculdade e seria professor de capoeira.

Quando cheguei em casa, meu pai veio perguntando como estava a praia e porque eu não estava queimado, já que passei férias com meu avô. Ele não soube do que aconteceu comigo até hoje, na verdade nem minhas amigas souberam.

Resumindo, q minha vida só não é toda ruim porque eu tenho as minhas duas princesas e a minha rainha. Amo de paixão essas mulheres. Eu sei que se um dia eu precisar elas estarão comigo.

Saindo desse hospital eu não vou voltar para casa, mas o que farei?

Preciso terminar meu colegial e tentar um emprego aonde eu possa dormir no serviço ou alugar um quarto em alguma pensão.

Vamos ver o que Deus prepara para mim. Só quero ser feliz só isso.

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Arquitetura da Vida - Livro I (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora