Capítulo 2 - carnaval

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O carnaval chegou e a casa já está cheia, as meninas estão felizes, tem espuminha e confete para todo lado, o pessoal da capoeira acabou de chegar e estão atacando a bandeja de coxinhas.

Não tem bebida alcoólica, a festa é das meninas que são de menor, as amigas também não bebem. Então tem muita comida e refrigerante. O bom da vida é comer, para que encher a cara com cachaça se você pode comer?

- oi tia, a festa está muito top. Eu queria que a minha mãe fosse parecida com a senhora.

Caio é o melhor amigo da Tatá, ele tem 18 anos, é sobrinho do Janjão o mestre de capoeira, eles se conhecem desde os 04 anos.
Ele é filho único e os pais desconfiam que ele é gay, eles falam para todos que nunca aceitariam um filho gay, por isso o Caio vive no armário e infeliz. Pois se fosse o meu filho eu daria o maior apoio.

- Oi meu amor, eu não sou a sua mãe mas poderia ser, estou aqui para o que você precisar. Aconteceu alguma coisa? Estou vendo que você está tristinho.

- ah tia o de sempre,  meus pais não falam direito comigo, minha mãe só fala gritando,  regula meus horários, passeios, trabalho, tudo. Agora implicou comigo porque eu quero fazer faculdade de gastronômia.
Minha mãe falou que homem não pode estudar para ser cozinheiro, que isso é coisa de mulher.

- olha Caio, você me desculpa mas, ô mulherzinha insuportável é essa sua mãe.  Você pode e deve estudar o que você quiser.

- eu sei tia, mas é ela que vai pagar meu curso, e se recusou a pagar gastronômia. Mandou eu escolher qualquer outra coisa. Imagina se eu falar que minha segunda opção é fazer moda!

- misericórdia, aí ela infarta, ter que escolher que o filho seje cozinheiro ou costureiro.

- pois é tia, a coisa não está fácil pra mim.

- porque você não tenta uma bolsa em alguma faculdade?
A Tata falou que em Junho as vagas estão aberta e ela vai tentar uma bolsa nos EUA.

- Ela já falou isso pra mim, eu não queria mas, eu decidi ontem que vou sim.
Vou estudar bastante com ela esse ano para tentar.
Vai que eu consiga e vou embora com a Tata.  Podemos morar juntos,  trabalhar juntos, estudar juntos. Vou ficar livre da minha mãe,  e se eu for para outro País poderei ser eu mesmo. Será o meu máximo.

Fui até ele e o abracei, eu amo esse menino. Eu e Tata já defendemos muito ele. A família dele é uma porcaria, só se salva o tio Janjão.
Ele morre de medo da mãe, ela é uma bruxa que não respeita e não valoriza o ótimo filho que tem em casa. O pai não faz Nada, só fica calado.
Tata já levou uma suspensão de 15 dias na capoeira porque bateu nos dois primos do Caio.
Ofenderam e humilharam ele no meio da rua e o povo só ficava rindo, Tata não aguentou e tirou sangue dos dois ao mesmo tempo.
Ela mesma foi no Mestre e falou o que aconteceu, mesmo sendo o tio do Caio e querer ter feito o mesmo,  ele teve que suspende-la, não pode brigar na rua a não ser para se defender. Ela disse que não se arrepende porque não irá ver calada alguém humilhar outra pessoas ainda mais sendo seu amigo.

- Caio, presta atenção no que eu vou te falar.
Eu tenho você como meu filho. Você tem que se assumir, enquanto estiver escondido será infeliz. Eu quero te ver feliz, com o seu sorriso lindo no rosto, não interessa o que as pessoas vão pensar, muito menos a sua mãe.
Se algum dia você falar para ela, e ela te bater ou mandar você ir embora sabe o que você vai fazer?

- chorar muito e pensar que a minha vida acabou?

- NÃO!!! você vai pegar as suas coisas, irá bater na minha porta, eu vou mandar você entrar, e aí sim você poderá me abraçar e chorar muito, mas vai chorar bastante. E no outro dia irá acordar de cabeça erguida e lutar por tudo o que você quiser.

- mas no outro dia a minha mãe não vai me aceitar também.

- mas quem disse que você precisa que ela te aceite?
Você já tem 18 anos e irá morar comigo.

- mas o tio Paulo não vai gostar disso. Ele é amigo do meu pai.

- O Paulo te adora. Ele acha um absurdo o que sua mãe faz com voce. Ele mesmo já me disse que se acontecer algo é para trazer você aqui pra casa.
Agora vai lá se divertir, vai rebolar essa bunda garoto.

Ele me deu um beijo e foi dançar. Deus foi generoso em dar tanta bunda para esse menino.

De longe vi a Bia sentada perto do portão de cabeça baixa. Percebi que ela está assim desde ontem, com cara de quem está meia perdida na vida. Vou ver o que está acontecendo.

- oi gatinha.  Porque está aqui sozinha?

- só não estou com vontade de dançar.

- já comeu alguma coisa Bia?

- tô sem fome mãe.

Opa, para tudo Brasil! A Bia sem fome é porque alguma coisa está acontecendo. Aí tem.

- O que aconteceu?

- não sei mãe, estou com uma sensação ruim, parece que alguma coisa vai acontecer e não é nada bom. É horrível ter essa sensação e não saber o que é, e nem poder fazer nada.

Abracei ela, se tem uma coisa em qual eu confio é nas intuições da Bia.  Ela acerta tudo, desde pequena ela é assim.
Então é bom eu ficar em alerta.

- Bia, vou fazer uma pratinho cheio de besteiras para você comer, não vi você almoçando e eu achei que era por estar empolgada arrumando a festa.
Tenta ficar mais calma, eu vou fica em alerta, vou ver se está tudo bem aqui em casa, se o gás está fechado, se o Bolota está bem lá no meu quarto, e vou ligar para o seu pai para ver se está tudo bem tá?

- tá bom mãe. Eu te amo muito e obrigado por sempre acreditar em mim.

- eu sei a educação que dei para vocês duas, sempre confiei em vocês.
Tenta interagir com seus amigos, eles não tem culpa das suas intuições, você tem que aprender a separar seus sentimentos. Vai lá, estão sentindo a sua falta.

Ela me deu um beijo e foi dançar com o Caio que nesse momento parecia uma minhoca tendo convulsões de tanto que se remexia, esse é o verdadeiro Caio, feliz e doido.
Deixa eu ir lá ver se o gás está fechado e fazer um pratinho pra ela.

A molecada está se divertindo muito, fui ver o Bolota, deixei ele no meu quarto com o ventilador ligado, o folgado está de barriga pra cima bem na frente do ventilador. Esse cachorro não tem jeito, parece morto.

Não consigo falar com o Paulo. Era para ele estar aqui, ele não perde uma festinha... Falando nele, acabou de chegar.

- oi Paulo, demorou hoje, algum problema?

- Ju, precisamos conversar.

Ele está com uma cara estranha. Na hora lembrei da intuição da Bia.  Lá vem bomba.

- quer conversar agora lá no quarto ou quer esperar acabar a festa das crianças primeiro?

- deixa as meninas se divertirem,  amanhã conversamos, vou comer alguma coisa, falar com o pessoal e depois ajudo vocês a arrumarem tudo.

Me deu um beijo na testa e foi dançar com a molecada.
Vamos ver o que vai acontecer, mas acho que algo muito sério vem por aí.
Será que ele arrumou outra mulher? Será que quer separar? Ou será que ele quer mudar de cidade?
Sabem como é a cabeça da gente né,  mil teorias.

Sempre esperei o dia para saber quem seria o primeiro a terminar o casamento. 
Não temos uma vida sexual ativa, na verdade nem temos.  Nos tratamos como irmãos, com muito amor e respeito. Se ele quiser terminar que assim seja,  temos 2 filhas juntos e sempre serenos amigos.

Que seja feita a vontade de Deus.

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Oioiii.
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Arquitetura da Vida - Livro I (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora