Prólogo

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1520, Itália 

A neve cobria as terras naquela época, um inverno longo e sem previsão de quando se encerraria. As botas de couro afundaram na neve, a capa jogada sobre os ombros largos tremulava com o vento gélido da manhã de inverno, as mãos fechadas juntas ao corpo cobertas pelas luvas finas da nobreza, o homem trazia no rosto um olhar frio e misterioso. Parando próximo a uma árvore ele esperou, e logo a silhueta de outro homem surgiu, seus cabelos dourados estavam cobertos pela neve e assim como o primeiro este também tinha vestes nobres, o mesmo parou embaixo da árvore a frente do primeiro.

— Giovanni, estou aqui para dizer que minha filha não se casará com seu filho. — disse o loiro lançando um olhar de superioridade ao outro homem

— Sabe que isso ajudaria todos nós não é mesmo Erick? Uma aliança entre nossas famílias nos fortaleceria e nenhum caçador ousaria se colocar contra nós. 

— Nós bruxos não precisamos de proteção e muito menos da ajuda de criaturas sangue sugas como vocês vampiros. — retrucou o loiro ainda mantendo um tom de arrogância .

O moreno por sua vez umedeceu os lábios frios e semicerrou os olhos encarando bem o loiro arrogante parado a sua frente, ele simplesmente afirmou com a cabeça e virou-se dando as costas ao outro caminhando para longe, sumindo na neve que caia com vigor. 

Havia caçadores na região, que vieram com um único propósito, eliminar todos os sobrenaturais da Itália, e consequentemente não muitos dias depois tudo o que era oculto começou a se revelar nas terras italianas, quando o corpo de uma mulher foi achado queimado na floresta sobre uma pira de madeira e isso bastou para que corpos de nobres, da casa mais rica da região, começassem a ser achados na mata com estacas cravadas em seus corações, deixando os humanos da região aterrorizados, a guerra entre as espécies era eminente. Para os vampiros esta havia sido a gota d’água. 

Mas o que os vampiros não esperavam, era que bruxos são bastante espertos e quando se tratava de proteção a espécie usavam toda magia presente na face da terra e podiam até mesmo serem cruéis e violentos em suas ações. Ao cair da noite mais fria daquele inverno os vampiros sentiram a fúria dos bruxos, quando um incêndio começou bem no centro da mansão e se espalhou com velocidade pelas cortinas da casa, Giovanni andava de um lado para o outro na biblioteca da mansão, tentando e falhando perfeitamente em estratégia de batalha contra os bruxos. Foi quando seu olfato apurado sentiu o cheiro de queimado e seus ouvidos captaram os gritos dos empregados, ele saiu como um raio da biblioteca e não pensou duas vezes em salvar o seu bem mais precioso do fogo que consumia tudo, Adrian, seu filho que ainda era bebê. Agarrado a Adrian, que chorava com toda aquela agitação e gritaria, Giovanni correu para os andares de baixo da mansão dando de cara com a governanta de Adrian.

— Meu senhor eu os vi! Estão vindo para a mansão, vai matar todos nós que sobrevivermos ao incêndio, o que faremos?. — a aflição na voz da pobre mulher fez Giovanni tomar uma decisão 

— Esses bruxos não irão destruir minha linhagem hoje! Pegue Adrian e o leve para longe daqui, jamais esconda quem ele é. — ele deu a criança nos braços da mulher e a viu partir com seu filho.

Giovanni saiu da mansão passando pelo fogo e colocou-se frente a frente com os bruxos, ele fitou Erick dentre os bruxos e seus olhos mudaram de cor, passando do castanho claro para o vermelho sangue ele mostrou as presas e avançou para cima dos homens com o intento de pegar o líder, Erick, mas foi uma ação sem sucesso, pois somente com um aceno de mão e algumas palavras sussurradas por Erick, Giovanni foi jogado contra uma árvore levando assim uma estaca no coração. A vida saiu dele lenta e dolorosa enquanto seus olhos recaíram sobre a casa em chamas, um suspiro aliviado saiu de seu peito, pois ele sabia que Adrian estava vivo, seus olhos se fecharam lentamente e ele descansou deixando este mundo, desta vez para não mais voltar.

Longe de tudo isso, da arrogância dos bruxos Silvain e de sua cobiça por poder, Mary a governanta, assumiu a missão de manter o jovem Adrian Ferrero vivo. E ela cumpriu este papel com muito orgulho, sendo mãe, pai e amiga do menino. Numa fazenda afastada da região, Adrian crescia sendo ensinado por Mary, sobre suas origens de onde veio e como chegaram até onde eles estavam agora. O tempo passou, Adrian cresceu se tornando um homem educado e cheio de sonhos, retomou suas terras e sua herança de família, mas diferente dele, que não envelhecia quando chegava a uma certa idade, Mary envelheceu e morreu o deixando só no mundo. Adrian então, solitário, deixou a Itália e se instalou na américa do norte, onde começou a investir em vários lugares, construindo assim uma carreira para si, mas mesmo sendo rico e tendo tudo o que desejava, ele jamais esqueceu o que aconteceu com sua família e por isso ele se manteve longe da sociedade, escondido entre as sombras de sua sala escura remoendo o passado em sua cabeça, e assim ele ficou pelos longos quinhentos anos de sua vida imortal.

Entre o Sangue e a Magia |Concluída|Onde histórias criam vida. Descubra agora