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- Meio que... você dormiu por duas semanas em meia, um coma induzido, ainda tinha balas alojadas em seus costas e elas poderiam te matar...

- Duas semanas e meia?! - ela assentiu - E-eu não me lembro de muitas coisas, apenas...

- Não se force, Tzuyu. O que importa é que você acordou agora.

- Sana? - perguntei quando tentei me sentar, mas ela não deixou - Porque... eu não sinto as minhas pernas?

- Deve ter sido o analgésico, você poderia realmente ter morrido, Tzuyu, o seu corpo ainda está se adaptando.

- É assustador... aonde você e Momo estão ficando?

- O seu pai nos permitiu ficar na sua casa até que Momo consiga um trabalho, está difícil por contas das provas ela não tem tempo para entregar currículo então acho que irei precisar ir atrás de alguns trabalhos temporários para pagar o seu pai, por tudo que estamos gastando na casa dele.

- Hey não. Meu pai não é desses de ficar cobrando, ele está apenas ajudando e você não precisa se preocupar com isso, amor. Quando eu voltar para casa nós resolveremos tudo, ok?

- Acho que sim... - sorri beijando a sua cabeça, mas ainda incomodada com a falta de movimentos em minhas pernas, porque eu não as sentia? Dês que acordei não as sentia, não é possível um analgésico demore tanto tempo assim para passar o efeito - Eu perdi muita coisa na escola, não foi?

- Sim, algumas coisas. Jihyo falou que irá vir te visitar.

- Jihyo? - perguntei surpresa - Esperava todos, menos ela.

- O que tem contra Jihyo, Tzuyu? Ela é a minha melhor amiga, a única que não me julgou no começo.

- Não tenho nada contra ela, só fiquei supresa, anjo, só isso.

Ela murmurou se desgrudando de mim e se sentando na minha frente, eu reclamei e tentei puxa-la para perto mais uma vez, mas ela recusou.

- Ainda está de tpm?

- Não, Tzuyu, só estou pensando em algumas coisas.

- Que coisas?

- Mina e Momo não são minhas irmãs... eu cresci na família errada, e nenhuma das duas me contou isso.

- Não cresceu na família errada, Sana, e se elas não te contaram foi porque não era preciso.

- Pra elas não poderia ser preciso, mas pra mim sim, passei dezessete anos da minha vida achando que elas eram as únicas pessoas que se importavam comigo-

- Está pensando errado, anjo. Elas se importam sim com você, se não teriam de deixado. Não importa se você tem o mesmo sangue ou não, não importa se você veio da mesma mãe ou de mesmo pai, o que importa é que elas cuidaram de você, te educaram, te formaram. Você não pode guardar mágoa das duas, nunca foi para o seu mal, entendeu? - ela deu uma leve acenada com a cabeça sorrindo quando eu toquei o seu rosto, até que por fim o médico entrou junto a Momo e ao meu pai, os três não tinham uma cara muito boa.

- Céus, Tzuyu, você poderia ir presa! - meu pai disse me abraçando fortemente, não havia passado aquela probabilidade na minha cabeça ainda, mas era bom ter o seu abraço - Como está?

- Dor nas costas... e eu não sinto as minhas pernas.

Ele se afastou, e eu pude perceber quando Momo segurou a mão de Sana, que também a olhava confusa, os três nos escondia alguma coisa e eu começava a ficar preocupada com isso.

- Tzuyu, o que temos para te falar agora talvez seja um pouco difícil - o tal médico começou. Sana o encarou voltando a se sentar ao meu lado podendo entrelaçar a minha mão na sua, aquilo me passava segurança - Você levou seis tiros em sua coluna vertebral, os seis, sem excessão, a perfuraram de uma forma grave te impossibilitando de mover suas pernas. Sinto lhe informar que pelo o que eu constatei e pela a cirurgia, a senhorita não poderá voltar a andar.

Eu estremeci dos pés a cabeça ao escutar aquilo, apertei a mão de Sana com tanta força que poderia ter machucado-a. Ela olhou pra mim, porém eu olhava para o nada tentando digerir a informação "eu não voltaria a andar"

Eu... não voltaria a andar.

Foi como um botão ativado em meu cérebro, as primeiras lágrimas caíram dos meus olhos, quais eu limpei rapidamente, mas foi em vão, pois mais e mais começavam a cair sem controle algum. Senti a mão do meu pai em meu ombro, mas eu a tirei, não queria.

Olhei para Sana que também chorava, silenciosamente para não me afetar, pela primeira vez foi ela que me envolveu em seus braços, acariciando meus fios enquanto sussurrava que tudo ficaria bem, nada ficaria bem.

Aquela frase era tão idiota.

Agarrei a sua cintura podendo soltar os diversos soluços acumulados em minha garganta, eu tentava disfarçadamente mexer as minhas pernas, mas eu não conseguia, nem ao menos um dedo do pé. Eu não conseguia. Não sei quanto tempo fiquei naquele estado de transe, em uma bolha de dor e vergonha que apenas eu sentia, mas quando finalmente abri os olhos estavam apenas eu e Sana no quarto. Ela segurou o meu rosto limpando as minhas lágrimas restantes, ela também chorava, eu percebia isso.

- Irá me deixar não é? - perguntei com a voz rouca por conta do choro - Agora que sou um fardo, não tem o porque você ficar comigo.

- Para, Tzuyu - pediu seriamente - Pare de falar coisas que não são verdades, pare de achar que eu irei agir como você agiu comigo um dia, pare de achar que eu irei te deixar por conta disso. Eu sei que a sua cabeça está uma confusão, pensamentos que não deveriam estar aí, estão. Eu sei como é pois eu já passei por isso, fui cega por dezessete anos da minha vida, Tzuyu.

- Mas é diferente...

- O que exatamente é diferente pra você?

- Você tinha as suas irmãs para cuidar de você. Meu pai vive viajando, e as minhas irmãs mais novas não saberiam fazer isso.

- E você tem a mim - eu me calei após ouvir aquilo, ela estava dizendo aquilo da boca pra fora eu tinha certeza - Ou não me ama mais?

- É claro que eu te amo, Sana... - sussurrei voltando a deitar a cabeça em seu peito.

- Então está tudo bem, Tzuyu, você precisa acreditar em mim dessa vez, agora eu irei cuidar de você e se reclamar iriei encher ainda mais o seu saco.

Ri baixo por mais dolorido que estivesse, ela poderia me concertar novamente.

...

Labirinto (Satzu)Onde histórias criam vida. Descubra agora