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"Sana"

- Quer jantar, meu bem?

- Não, Mina, estou sem fome. Vou para o meu quarto.

Não havia sido péssimo, ela não havia sido rude comigo quando me deixou na frente da escola, ela se despediu de mim e seguiu de volta para casa.

Fiquei inquieta naquela noite, talvez uma leve animação, porém uma restrição de não criar expectativa de um melhor tratamento no dia seguinte, eu havia percebido que Tzuyu era uma bomba relógio, e na maioria do tempo, explodia, e a sua explosão era dolorosa.

Ela precisava de ajuda, mas eu tinha medo de ajudá-la, muito medo.

- Hey! - ela falou assim que se sentou ao meu lado, eu tremi, não sabendo como seria o seu comportamento dali pra frente.

- Oi, trouxe o nosso trabalho?

- Claro! Só espero que... a professora entenda a minha letra.

O cheiro quase inexistente de maconha chegou as minhas narinas, por conta da cegueira os meus outros sentindo eram extremamente aguçados, me fazendo sentir cheiros quase nulos, toques mais intensos, e sons mais altos que o normal.

- Uau, fizeram o trabalho manuscrito? A capa está muito boa, meus parabéns... hum, Tzuyu, você podia melhorar essa letra não?

- Eu dei o meu melhor - ouvi quando a professora passou para as carteiras de trás, Tzuyu tocou no meu braço me fazendo virar para a sua direção - O A no nosso boletim está garantido! - ela sussurrou com um fio de risada, que me fez sorrir também.

Não conversamos muito, apenas entre um intervalo ou outro quando a troca dos professores acontecia, ela não parecia rude aquele dia, nem parecia que faria alguma brincadeira de mal gosto comigo, se aquilo não acontecesse eu já estava mais do que feliz.

Na hora da saída, junto a minha irmã, fiquei parcialmente triste pois... eu não mentira sobre a tarde passada, ela havia sido tão agradável que eu até pediria em segredo para que os professores, quando passassem trabalhos novamente, deixasse eu e Tzuyu juntas. Era besteira.

- Hey, Sana, poderia me ajudar em uma lição em um dever? Pode deixar, Momo, que eu a levo para casa.

- Olha, a minha irmã vai ficar com ciúmes de tanto que você está roubando ela de nós! - eu achei estranho o pedido de Jihyo, aliás, pra que ela iria querer a minha ajuda? Ainda mais pra lições sendo que ela era uma menina completamente inteligente - Tudo bem pra você?

- Ah, sim, sim. Não se preocupe.

Jihyo passou seu braço entorno do meu e juntas caminhamos até certo lugar que eu ainda não sabia aonde era.

- Digamos... que eu contei uma mentirinha para a sua irmã. Quem quer ajuda no dever de casa é a Tzuyu, mas como ela sabe que a sua irmã não vai muito pra cara dela, me pediu ajuda.

- Tzuyu? O que ela quer comigo?

- Eu te faço a mesma pergunta.

Então Jihyo me levou até o estacionamento, minhas dúvidas eram claras, tinha a total certeza que a minha feição era a mais confusa possível.

- Não precisa ficar esperando ela, Jihyo, eu mesma a levo para casa.

- Como se eu confiasse em você - minha amiga rebateu.

- Não preciso da sua confiança, sua cdf idiota.

- Não fala assim com ela! - eu sabia, sabia que em uma hora ou outra ela faria aquilo.

- Tanto faz - senti a mão de Tzuyu na minha, mas eu soltei, cruzando os braços em seguida.

- Tzuyu, peça desculpas para a Jihyo.

- Porque eu faria isso?

- Sana, deixa isso-

- Tzuyu, eu quero ouvir você pedindo desculpas para a Jihyo, agora - eu falei calmamente, erguendo uma sobrancelha, ouvi um suspiro tão profundo que poderia ser escutado de longe.

- Me desculpe, Jihyo. Está feliz, Sana?

Eu estiquei a minha mão, esperando para que Tzuyu a pegasse e não demorou para mim senti-la. O silêncio sempre presente no carro, e eu acho que nós duas gostávamos daquele silêncio. Eu já conseguia reconhecer o local aonde a sua cama ficava, sentia ao lado dela uma escrivaninha e aos poucos eu me localizava naquele lugar.

- Sobre qual lição você quer ajuda?

- Hum, nenhuma.

- Como assim nenhuma? Jihyo me disse-

- É eu menti. Só queria que... - ela parou brutalmente, não entendi o porque mas fiquei aguardando uma resposta convicta - E importa?

- Vai me sequestrar?

- Ah vou, mãos para o alto, Minatozaki Sana, estou te sequestrando!

- Ah, me diga o motivo por esse sequestro - eu ri tirando os meus tênis enquanto tateava a cama para me sentar ali mais confortavelmente.

- Estou te sequestrando por me ajudar a tirar uma nota boa! E agora você irá fazer todos os trabalhos comigo!

- Pra ficar ouvindo as suas reclamações? Não, obrigada.

Ela gargalhou, sua risada estava perto de mim, a cama afundou na minha frente e eu senti a sua cabeça deitada em meus pés. Conversamos sobre algumas coisas, como se ela não fosse aquela garota idiota que agia como uma babaca com qualquer pessoa que não merecia. Ela era só uma menina que gostava de fazer piadas ruins, gostava de me fazer rir e me escutava sem me interromper, e eu gostava daquela atenção.

- Me conte mais sobre o Japão, como era a sua vida lá?

- Hum, acho que não tem muito o que dizer, talvez por eu não saber ao certo como era. Eu gostava da minha escola, da minha antiga casa, pelo menos lá eu sabia aonde tudo estava. Conseguia pegar um copo sem derrubar milhões de coisas... é difícil, sabe, se adaptar saber aonde tudo fica, não só em casa, mas como... como se eu não fosse daqui, eu não me encaixasse aqui. É tão... difícil não sei...

- Tudo sempre é difícil, Sana, muitas coisas pra mim são difíceis acredite, mas cada um lida de um jeito.

- É... eu sei como você lida com o seus problemas, não é o melhor jeito, Tzuyu.

- Ok, todo mundo me diz isso, não preciso mais do seu sermão.

Eu me calei, não queria quebrar o clima legal que havíamos construído, passaram-se alguns minutos de silêncio até que ela se levantou, me fazendo dar um pequeno pulo pelo o susto, não sabia ao certo o que ela estava fazendo.

- Como você me enxerga, Sana? Digo, como me imagina?

- Hum... pode chegar mais perto? - senti a sua respiração se chocar em meu rosto, eu engoli seco e toquei o seu rosto, quente e macio, meu dedão contornou a sua sobrancelha descendo devagar até os seus olhos, seu contorno puxado me fez imaginar olhos escuros e adoráveis, seu nariz era pequeno e me parecia bem desenhado, meus dedos tocaram as suas bochechas, as apertando de leve e a fazendo sorrir, até que eu toquei os seus lábios finos, havia um pequeno sorriso ali, eu acariciei aquele local ouvindo o seu suspiro em seguida.

- E então...?

- Acho que... você é... bonita...

Após sussurrar aquilo, os lábios de Tzuyu tocaram os meus, tão novo e estranho que... tão estranho que eu havia gostado, minhas mãos permaneceram em seu rosto até quando ela se desgrudou.

- Você também é... bonita...

...

Labirinto (Satzu)Onde histórias criam vida. Descubra agora