Não tinha ideia do que pensar naquele momento, estávamos naquele longo corredor, frio, abraçadas chorando como se alguém tivesse arrancado alguma parte de nós. E de fato sim, Mina era uma parte de nós. Momo tentou no começo, tentou ser forte e não chorar, porém acho que os meus soluços altos não a deixaram tão firme assim.
- Meninas? - a voz grossa do médico chamou a nossa atenção, Momo se levantou já pronta para o pior - Eu sinto muito pela perda de vocês, o quadro dela já estava bem avançando, a parada cardíaca foi repentina, não conseguimos fazer nada a tempo.
- Mina... - eu me encolhi no canto enquanto as vozes do médico e de Momo ficavam distantes.
"- Calma, meu bem! É só um machucado! Você só ralou a perna!
- Está doendo, Mina! Porque tem que doer tanto?
- Nada na nossa vida é sempre bom, Sannie, coisas, pessoas, quedas sempre irão nos machucar.
- Eu já te machuquei, Mina?
- Ah, meu bem - ela riu, a sua risada era a minha favorita, claro que era a minha favorita, eu tinha apenas oito anos, não conhecia muito bem o mundo - Você nunca me machucou, e nunca irá, nem você e nem Momo.
- O que tem eu?
- Estava falando para a Sana que vocês nunca me machucaram.
- Você também não! - Momo falou, senti o seu braço ao redor do meu pescoço - A gente é uma família, e seremos uma família pra sempre.
- Irá ficar com a gente pra sempre, Mina?
- É claro que sim, eu amo vocês, e não pretendo ir a qualquer lugar sem vocês duas!
- Nós te amamos, Mina - eu falei tocando o seu rosto ainda imaginando que a minha irmã era uma fada. Mina envolveu nós duas em seu abraço confortável beijando o tipo de nossas cabeças.
- Eu também amo vocês duas, amo muito!"
As lágrimas vieram com mais força, eu não conseguia controlar, era lembranças vagas, de coisas que eu não tinha certeza, imagens que eram para ser reconfortantes, mas só doía. Momo se abaixou ao meu lado, me abraçando, mas eu a empurrei, não queria o seu abraço, eu queria apenas Mina ali.
Eu me levantei e corri pelo o corredor até o lado de fora do hospital, atravessando a rua e me sentando debaixo de uma árvore, Mina era tudo pra mim, minha irmã, minha amiga, minha mãe, ela era tudo o que eu tinha. Agora eu não tinha nada, eu não tinha ninguém.
A brisa fria me trouxe de volta a realidade, me fazendo levantar a cabeça e olhar para a frente do hospital, vendo uma ambulância chegando de uma forma rápida e desesperada, vi quando os médicos empurram uma maca para a ala da emergência, e por algum motivo, meu peito apertou. Voltei ao hospital, Momo continua conversando com um médico mas agora parecia aflita, quando me viu correu em minha direção. Momo segurou os meus ombros e olhou no fundo dos meus olhos, como se fosse dar uma notícia trágica, mais uma no caso.
- Você tem que ser forte, Sannie...
- Porque? A Mina se foi, Momo, porque eu tentaria ser forte?
- Tzuyu... Tzuyu levou um tiro e está em estado muito grave agora.
- O q-que...?
- Eu não sei o que aconteceu, encontraram o nosso pai... morto, Sana-
- O seu pai - murmurei.
- Tinha indícios de luta na nossa casa, mas de fato eu não sei o que aconteceu.
Eu não aguentaria tanta notícia ruim em um dia só, acho que eu não tinha mais lágrimas para chorar, porém achei errado. Quando tudo veio à tona, me pus a chorar mais uma vez, não poderia perder a Tzuyu também, por mais errada que ela fosse, por mais que já tenha me feito chorar, ela me proporcionava alegria, me fazia sorrir, me fazia sentir coisas verdadeiras, eu... eu a amava demais para perdê-la também.
"- Hum, acho que quero acordar mais vezes assim... agarrada com você...
A voz de Tzuyu era rouca em meu ouvido, por mais que eu não tivesse enxergado nada do que fizemos na noite passada, eu havia sentindo cada toque dela, carinhoso, intenso, sabia que em algum momento eu teria que contar para Mina que havia perdido a minha virgindade, mas naquele momento, eu queria apenas ficar abraçada ao seu corpo quente.
- O que... achou de ontem, anjo?
- O que quer saber exatamente? - ri baixo quando ela se remexeu, acho que ela estava envergonhada - Se eu gostei?
- É pode ser isso...
- Eu adorei, Tzuyu... você foi incrível... - o seu corpo relaxou um pouco, e eu pude voltar a sentir os seus carinhos em meu coro cabeludo - Mina falou que o sexo só acontece quando duas pessoas se amam muito - sussurrei erguendo um pouco as minhas mãos e tocando o seu rosto, tinha alguns fios que me impediam de tocar as suas bochechas então calmamente eu os tirei, contornei o seu nariz devagar, descendo pela a sua mandíbula, subindo mais uma vez até os seus olhos - Ela está errada?
- Não exatamente.
- Já fez sexo com alguém que não amava?
- Já - respondeu simplista - Muitas vezes.
Eu arqueei as sobrancelhas, deixando que as minha mãos abandonassem o seu rosto, eu fiquei incomodada com aquilo, afinal eu poderia ser só mais uma, só mais uma garota qualquer na vida dela.
Mas meus pensamentos foram afastados quando Tzuyu segurou a minha mão novamente as levando para o seu rosto, pude sentir um sorriso ali.
- Mas com você é diferente, anjo.
- Diferente? Qual é a diferença?
- A diferença é que eu amo você, e não quero que seja só mais uma na minha vida, eu quero que você seja a única na minha vida a partir de agora.
- Você me ama...?
- Amo - respondeu deixando um beijo carinhoso em minha testa - Agora fica quieta quero aproveitar mais dos seus carinhos antes que você tenha que voltar para casa"
- Ela vai ficar bem, Sana...
- Ela não pode me deixar, Momo... - eu soluçava entre uma palavra e outra, seria demais para mim.
- Ela não irá te deixar, Sannie, ela não irá te deixar... por favor se acalme, respira...
Era muita ousadia dela pedir isso, eu não conseguia respirar, o ar havia sido arrancado de mim assim que vi a minha irmã mais velha estirada no chão, e agora meu coração estava sendo arrancado aos poucos em saber que Tzuyu também corria risco de vida, ela era a minha vida.
...

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Labirinto (Satzu)
FanfictionTudo poderia ser escuro para a pequena Sana, até que a sua luz surge de um simples trabalho de escola, com a pessoa mais complicada, mas que apenas precisava ser moldada e amada juntamente.