Acordei sozinha no sofá juntamente as vozes de Mina e Momo vindo da cozinha, eu ainda enrolei ali pois o meu sono estava extremamente confortável e eu não queria sair dali tão cedo.
- Sana, você já está atrasada.
- Como se eu me importasse em ir para a escola nova... - murmurei ao lembrar das palavras de Mina, a qual pediria a minha transferência em pleno mês de novembro.
- Deu sorte, eu não consegui a sua transferência, e acho que não irei mais atrás dela. Não esse ano.
Em um pulo eu estava de pé, sorrindo para a mulher dando abraços em Momo em pura felicidade, pelo menos algo havia dado certo.
- Cadê a Tzuyu?
- Precisou sair, não explicou o motivo, mas disse que te encontraria na escola.
Eu dei de ombros caminhando até o meu quarto, fiquei um tempo encarando o meu uniforme, e depois que o vesti, fui até o banheiro do meu quarto dando uma boa olhada em como eu ficava nele, tenho certeza que outras meninas ficaram melhor nele do que eu. Eu não era tão bonita assim.
Esperei por Jihyo naquela manhã, mas ela não passou para ir junto a mim e Momo, o que já foi bem estranho. A escola estava estranhamente quieta, ou eu estava estranhamente ansiosa demais para ver a minha melhor amiga. O que mais achei estranho foi ver que o pátio externo e o estacionamento estavam vazios, haviam carros ali de fato, mas não havia alunos, pelo menos antes daquilo eu escutava muitos deles antes do sinal bater. Até que finalmente ouvi uma voz familiar, minha melhor amiga.
- Hey, Sana, desculpe não passar na sua casa, acabei me atrasando! - eu a encarei sorrindo, suas bochechas eram gordinhas, seu sorriso era lindo e os seus olhos encantadores, Jihyo era maravilhosa - Porque está... olhando pra mim...?
- Digamos que... a deficiente não é mais deficiente, Jihyo...
- TÁ BRINCANDO? - acabei gargalhando quando ela me abraçou fortemente segurando o meu rosto entre as palmas das suas mãos, haviam lágrimas em seus olhos, mas o que se destacava ali para mim, era aquele sorriso - Quando? Como? Me conte tudo! Não! Espera, antes você precisa ver uma coisa - Momo e Jihyo trocaram um leve olhar antes de me puxarem para dentro da escola.
Não havia ninguém ali, corredores vazios, tudo silencioso, a não ser por um caminho feito por pétalas de rosas, eu segui aquele caminho dando de cara para um dos armários que ali haviam.
"O melhor anjo"
Não foi difícil ler aquilo, e nem entender que aquele armário tinha que ser aberto, e se não fosse, já era tarde demais. Coloquei as duas mãos na boca assim que vi algumas fotos minha e de Tzuyu pelo o interior do armário, mas meus olhos caíram mesmo para a pequena caixa que havia um delicado anel dourado, ele era simples, de aro fino e bem discreto, mas era lindo.
- Quem disse que todos os anjos precisam vir do céu, ou ter asas? O meu mesmo veio do Japão, não tem asas, mas tem o sorriso mais lindo do mundo, a risada mais linda do mundo, os olhos mais lindos do mundo - a voz de Tzuyu surgiu atrás de mim, eu me virei vendo muitos alunos ali, borrados, pois a minha visão estava toda em Tzuyu - Deixe-me cuidar de você, anjo? Você quer namorar comigo?
Eu olhava tão fundo em seus olhos que poderia ver a sua alma se quisesse, queria ver se havia algum rastro de mentira, incerteza, ou até mesmo algum tipo de brincadeira, mas eu não achei isso... só achei uma Tzuyu que me parecia cem por cento honesta. Todos os alunos me encaravam, minha melhor amiga me encarava, minha irmã me encarava, minha... minha namorada agora também me encarava, e sorria, pois eu balancei a cabeça freneticamente em positivo correndo até ela, soltando o soluço preso na minha garganta quando ela me abraçou, um abraço capaz de me proteger de tudo, eu queira que ela me protegesse de tudo, precisava que ela me protegesse.
- Levo uma meia estrela por isso? - ela perguntou, relembrando da nossa "piada" nada engraçada.
- Cinco estrelas, Tzuyu...
Acho que mais nada importava a partir do momento que aquele anel foi colocado em meu dedo.
"Mina"
- Seja rápido.
- Você está realmente diferente, Mina, faz o que? Treze anos?
- Dezessete anos, Yuri, dezessete anos.
- Realmente... muito tempo... - ficar ao lado dele era desconfortável, ver ele era desconfortável, saber que ele estava aqui era apavorante, mas o que eu poderia fazer? - Momo, Sana? Cadê elas?
- Isso não é da sua conta, o seu problema é comigo e não com as minhas irmãs.
- O meu problema é com você e com Momo, podemos resolver o problema de Sana depois.
- Problema? Que problema? Agora a sua filha é um problema?
- Mina... pelo amor - ele fechou os olhos massageando a lateral da sua cabeça - Sabemos muito bem o que aconteceu, ainda insisti nisso? Cuidar de uma pessoa que nem mesmo é do seu sangue? Sana não é a sua irmã, e você sabe muito bem disso.
- Cala a boca! Sana está conosco desde sempre, claro que ela é a nossa irmã!
- Como pode considerar tanto uma criança que foi retirada do lixo? Literalmente!
- A mamãe só estava tentando ajudar, e você sabe disso!
- Só trouxe um fardo para a nossa casa! Me diga como foi cuidar de alguém como a Sana?
- Você é um idiota, Yuri... Sana foi muito bem cuidada, mesmo com toda a nossa dificuldade, aliás não é fácil cuidar de uma criança de dois anos e de um bebê de nove meses quando se tem quatorze anos - murmurei amargamente ao relembrar tudo que passamos - Eu só tinha quatorze anos quando você matou a nossa mãe, Momo só tinha dois anos quando a nossa casa foi incendiada graças a você e o seu vício idiota, Sana só tinha nove meses quando viu o seu pai virar as costas e ir embora! Quer saber mesmo como foi lidar com tudo? Eu te conto, Yuri. Graças ao incêndio, eu tenho câncer nos pulmões e luto a dois anos contra isso sem as minhas irmãs saberem, meu caso é terminal e creio que não ficarei aqui por tanto tempo. Graças ao incêndio, Momo tem crises de ansiedade, pânico noturno e morre de medo do escuro. Graças ao incêndio, Yuri... a Sana ficou cega! E isso tudo foi culpa sua e do seu vício com essas porcarias que você chama de drogas! Está satisfeito com tudo? Pois agora você... pois agora você não tem mais nada além dessa cocaína que carrega nos bolsos, e de verdade, espero que você morra sozinho, assim como a minha mãe morreu.
...
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Labirinto (Satzu)
ФанфикTudo poderia ser escuro para a pequena Sana, até que a sua luz surge de um simples trabalho de escola, com a pessoa mais complicada, mas que apenas precisava ser moldada e amada juntamente.