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Vi Sana se aproximar junto a Jihyo pelo o estacionamento, joguei o resto do maço de maconha que fumava naquele momento logo pegando uma bala do meu bolso tentando de alguma forma ocultar o cheiro que sairia da minha boca. Abri a porta do carona quando Jihyo se afastou, mas Sana dessa vez pareceu tentar sozinha.

- Cuidado! - eu falei colocando a mão na sua cabeça, mais um pouco ela poderia bater e não seria agradável. Eu a ajudei mesmo sabendo que não era o que queria naquele momento, com a concentração quase nula coloquei o seu cinto, andando quase correndo até o outro lado do carro.

Em silêncio apenas com a música que tocava na rádio segui para a minha casa, as vezes encarava Sana, suas mãos descansadas em seu colo batucavam em sua bengala, o que parecia excesso de estresse, e eu sabia que havia sido causado por mim. O mesmo trajeto foi feito até o meu quarto, ela fez o mesmo que a tarde passada, passou as pontas dos dedos pela minha cama se sentindo segura para sentar e quando fez isso, suspirou de uma forma profunda.

- Vamos logo acabar com isso, já que você quer se ver livre de mim logo, não é?

Valeria a pena eu tentar me explicar? Dizer que não era bem aquilo, sua presença era bem tolerável até, não incomoda.

- Tzuyu?

- Ah s-sim... - peguei o trabalho que estava em cima da escrivaninha me sentando na sua frente como a tarde anterior, Sana procurava as respostas enquanto eu copiava e as vezes opinava sobre algum outro ponto de vista. Dessa vez não ouve piadas, ou qualquer risada da parte dela, o que me fez retroceder, pois eu havia gostado daquele som.

- Quantas perguntas faltam?

- Hum... acabamos! - falei sorrindo - Uau até que foi rápido! Vamos dar uma revisada? Para ver se está tudo certo.

- Você pode fazer isso sozinha - ela falou, guardando as suas coisas, aquela era uma desculpa idiota, era uma tentativa de mantê-la um pouco mais ali.

- Não eu não posso - segurei os seus pulsos obviamente não aplicando força, naquele pequeno toque, eu senti como se fossem choques por várias partes do meu corpo, como se eu tivesse pisado em uma poça aonde havia um fio desencapado, mas não era ruim, era longe de ser ruim - Me ajude com isso por favor?

- Olha, Tzuyu, eu soube dês do começo que fazer esse trabalho com você foi um erro, por um lado até achei que você fosse uma pessoa legal, mas de verdade... eu estava errada. Então eu prefiro tirar uma nota péssima, do que ficar perto de você-

- Eu não quis dizer aquilo ontem, Sana - a interrompi - Não exatamente, só não fique com raiva de mim.

- Isso é meio difícil, ainda mais se tratando de você, Tzuyu.

- Me ajude apenas com isso que eu te levo pra casa ou pra escola não sei.

A olhei, ela permaneceu em silêncio, fechando os lindos olhos castanhos claros, ela assentiu por fim me fazendo abrir um sorriso tão idiota que mesmo sabendo que era errado eu agradeci por ela não ver aquilo.

- Espere, você quer comer algo? Está com sede? Está aqui a horas e eu não te ofereci nada.

- Não, estou bem.

- Sei que Jihyo te disse para não aceitar nada que venha de mim, mas pode ficar tranquila, eu não vou te drogar nem colocar veneno em nada que vou digerir - ela riu baixo, meu coração ficou meio fora de ritmo quando ela riu, pelo o jeito ela não estava mais brava comigo, eu torcia para que ela não tivesse brava comigo.

- Tudo bem então, eu aceito um suco.

- Suco não mata a fome, Minatozaki Sana. Me dê um minuto.

Eu corri pelo o corredor, podendo cair na escada pela a velocidade que descia os degraus pulando uns quatro antes daquilo. Me concentrei no que fazia, retirando as bordas do pão de forma, pois não sabia se ela gostava ou não, cortei tudo perfeitamente e depois de minutos que pareceram horas com a minha cara enfiada na geladeira, peguei o suco de laranja colocando tudo em uma bandeja e subindo novamente.

- Aqui... - segurei a sua mão com cuidado entregando-lhe o sanduíche de pasta de amendoim com geleia de morango - A minha especiaria na cozinha!

- Uau, chefe Chou, isso está esplêndido!

- Claro que está, foi eu que fiz.

- Convencida demais, meia estrela!

- Meia estrela?

- O ambiente é agradável.

- Vou me lembrar disso futuramente, não se preocupe.

Ela gargalhou agora, jogando a cabeça para trás em uma risada sincera, eu sorri pegando a outra metade do sanduíche e a acompanhando no lanche. Quando terminamos, arrumamos tudo porém ela não pareceu desesperada para ir embora, o que me deixou feliz.

- Acha que vamos ganhar uma boa nota?

- Ah mas aquela velha vai ter que dar pelo menos uma A, minha mão quase saiu do meu corpo por vida própria!

- Você é bem dramática, não é?

- É o meu dom.

- Um dom bem engraçado!

- Além de atriz eu sou comediante, eu tenho várias qualidades, senhorita Minatozaki. E você? Me diga as suas qualidades.

- Eu sou boa em... - ela suspirou - Em fazer todos terem pena de mim. Mesmo não sendo por querer, todos sentem pena de mim - acompanhei quando os seus olhos se encheram de lágrimas e um tremor percorrer o seu corpo - Todos se aproximam de mim por dó, nunca foi e nunca será diferente.

- Não me aproximei de você por dó.

- Mas se aproximar de mim nunca foi uma opção pra você, a não ser pra... fazer o que você faz - a sua voz era tão baixa e falha que se eu não tivesse tão concentrada nela, não teria entendido. Eu tirei a bandeja do nosso meio, levantando as mãos com um pouco de incerteza, mas sentindo o meu coração arder de dor ao vê-la chorar, descansei minhas mãos em sua bochecha passando os dedões em cada lágrima que caia.

- Não... não chora.

- As vezes chorar é bom, me faz aguentar a dor por mais tempo antes de desabar em outro momento de fraqueza.

- Eu te acho uma garota forte - ela riu nasalmente, negando com a cabeça, minhas mãos continuaram no conforto que era a sua pele lisa meio molhada, mas macia e acolhedora para as minhas mãos - Acho que mereço uma estrela agora, não é? Além de ótima chef, minhas mãos são ótimos lencinhos para lágrimas.

- Você é muito boba, Tzuyu.

Por fim acabou por ela rindo daquele comentário, e eu não controlando o pequeno sorriso que nascia no canto dos meus lábios. Era agradável, tolerável, e fácil, extremamente fácil ficar ao seu lado, sorrir ao seu lado e tremer ao seu lado.

Labirinto (Satzu)Onde histórias criam vida. Descubra agora