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- Você sabe que podia ser presa por isso, não sabe, Tzuyu?

- Tanto faz... - eu murmurei enquanto encarava a rua e os carros passando, depois de duas semanas eu recebi alta, eu ainda tentava lidar com tudo, Sana não pode ir naquele dia por conta das provas da escola, já estávamos na reta final e eu torcia para não repetir, não queria que ninguém me visse, não naquele estado.

- Eu pedi para arrumarem o quarto debaixo para você, todas as suas coisas estão lá, ficará mais fácil, ah e o banheiro está adaptado para você também.

- Só te peço uma coisa, pai.

-O que?

- Não deixe a Sana ir embora, por mais que a irmã dela ache um emprego, eu não vou saber fazer isso sem ela - ele me olhou pelo o retrovisor dando um sorriso e assentindo com a cabeça.

Ele empurrou a minha cadeira de rodas até a grande sala, qual foi a minha surpresa em ver Sana, Momo, Dahyun e Chaeyoung ali, com uma enorme faixa escrita "seja bem vida de volta" algumas bexigas e besteiras que eu eu gostava em cima da mesa do jantar. Eu ri negando quando Sana se aproximou dando pulinhos fofos, ela se inclinou deixando um selinho em meus lábios e assumindo o controle da cadeira.

- Como você está, unnie?

- Não sei, Chae... mas vou ficar bem.

- A gente vai cuidar de você!

- Obrigada, Dahyun.

- Deve estar cansada não é? Vou te levar ao seu quarto, depois você pode comer tudo o que estiver na mesa.

- Você vai estar na mesa também? - Sana corou no mesmo segundo que eu ri, recebi um tapa no ombro quando entramos no corredor, o quarto parecia bom, apropriado no caso.

Sana me ajudou e com isso eu me sentei na cama, meus olhos fitavam o chão, ainda tinha uma certa resistência sobre aquilo, Sana percebeu o quão incomodada eu estava, se sentando ao meu lado em silêncio, apenas ficando ali comigo.

- É estranho...

- A culpa é minha, Tzuyu... eu não deveria ter te deixado lá sozinha... com ele...

- Não... não se culpe, nunca se culpe por isso, anjo. Eu estava lá pra defender você e a sua irmã daquele... cara. Não me arrependo de ter matá-lo, e passaria por isso mil vezes se for para te defender.

- Você fala isso, mas está aí... com essa cara emburrada - eu ri pelo o nariz negando.

- Só estou... tentando entender o que está acontecendo, amor, que eu não vou poder mais andar...

- Vai deixar mesmo isso te abalar, Tzuyu?

- É difícil, Sana-

- Não quero mais ouvir você se lamentando ou meu dizendo o quão difícil é, eu quero a Tzuyu de antes, a Tzuyu que fazia piadas idiotas, a Tzuyu que por qualquer coisa era motivo de beijos e abraços, a Tzuyu que me falava o tempo todo que me amava. É essa Tzuyu que eu quero, e não essa toda triste.

- Acho que vai demorar um pouco para essa Tzuyu voltar, anjo. Acho que até ela voltar... você já achou outra pessoa para te fazer feliz-

Ela me calou entrelaçando as mãos em meus fios e me puxando de uma forma violenta para um beijo. Minhas emoções afloraram assim que Sana me beijou, um beijo tão perfeito que parecia ser feito idealmente para aquele momento, para me dizer que ela não sairia dali, para me dizer que iríamos passar por tudo aquilo juntas, eu queria acreditar naquilo.

Eu precisava acreditar naquilo.

Desci minhas mãos até a sua cintura, deixando que ela mesmo controlasse tudo, não estava preocupada com controle naquele momento, minha vida estava em suas mãos, ela me tinha em mãos, pra que eu lutaria contra?

Tudo nela, seu sorriso, seus olhos, suas bochechas, seu nariz, e até as suas manias mais chatas me encantavam. Pois eu a amava.

Amava arrancar uma risada sincera dela, amava deixá-la corada, amava falar que a amava. Pois era verdade. Não queria que fosse apenas um relacionamento bobo do colegial, queria que fosse eterno... mesmo não existindo o eterno, eu queria que fosse. Pessoas e mais pessoas já passaram pela a minha vida, mas nenhuma foi tão intensa quanto Sana.

Me separei lentamente do seu beijo, arrancando de qualquer jeito o anel que eu guardava em meu bolso, o coloquei em seu dedo, local no qual nunca deveria ter saído.

- Você é minha, Sana, e esse anel aqui será o primeiro... depois o nosso anel de noivado e depois a nossa aliança de casamento.

- Não quero que acelere as coisas, Tzuyu, a gente pode não dar certo-

- A gente vai dar certo. Porque eu quero que de certo, e eu vou fazer o possível e o impossível para dar certo - ela suspirou, deitando a cabeça em meu ombro, senti as suas lágrimas ali, me fazendo prestar atenção nela - O que foi? Porque está chorando?

- Será que os meus pais biológicos... sabem que eu estou viva? Será que algum dia irei conhecê-los?

- São perguntas nas quais eu não irei saber te responder, anjo. Porque não tenta pensar em outra coisa? Quando tudo estiver em seu lugar pensamos nisso juntas, pode ser?

- É acho que sim...

...

- Se sente pronta pra isso? - Sana perguntou assim que o motorista parou em frente ao prédio da escola. Não me sentia pronta, mas faltava muito pouco para as aulas acabarem, eu iria me esforçar, era o meu último ano, eu queria sair daquele lugar o mais rápido possível - Tzuyu?

- S-sim... sim, estou pronta pra isso.

- Então podemos ir.

Momo e Sana saíram primeiro, e quando minha namorada começou a empurrar a minha cadeira em direção a entrada, os alunos me olharam como se eu estivesse pintada de ouro. Fechei os olhos por um momento, o julgamento silencioso era o pior que tinha, e ele doía muito, agora eu entendia completamente Sana, entendia muito bem. Momo tocou em meu ombro, sorrindo pra mim quando eu a olhei, me senti segura com as duas atrás de mim.

- Está tudo bem, Tzuyu - Momo disse - Estamos aqui para te apoiar.

- Não se esqueçam de mim! - Jihyo correu em nossa direção com um sorriso tão largo no rosto que me fez sorrir também. Ela abraçou Sana, Momo, e depois estendeu a mão para mim - Estaremos aqui com você, Tzuyu, por mais idiota que você seja, infelizmente a minha melhor amiga ama você.

- Palavras profundas, Jihyo - murmurei rindo - Obrigada... a todas vocês, por estarem comigo. Eu não merecia ser apoiada-

- Não mesmo - Jihyo argumentou

- Para, deixa ela falar!

- Não tenho muitas coisas a falar, anjo - segurei a sua mão - Só agradeço por estarem ao meu lado, apenas isso.

Tinha muita coisa a falar, mas naquele momento, aquilo bastava.

...

Labirinto (Satzu)Onde histórias criam vida. Descubra agora