A sensação era como se eu tivesse sido atingido por uma bala; quanto mais tentava tirá-la do meu peito, mais ela se afundava
O Sr. Klein já me aguardava na varanda. Eram oito horas da manhã de um sábado, e ele provavelmente tinha dormido tarde por causa da visitinha que recebeu em sua casa na noite anterior.
Dormi no tapete, claro, e acordei cedo porque era o que me restava. As reflexões que me acometeram foram variadas. Terminei a noite compreendendo que era,antes de tudo, um homem de luto. Não podia sair por aí frequentando festas e dando para qualquer sujeito (respeito o meu corpo e a memória da minha avó), até porque isso não faz o meu estilo. Além do mais, se gosto de um cara, se o quero para mim, então para quê procurar por outro? E de que me adiantaria mesmo? Minha solidão é escolha.Se o Calvin não me quiser como sou, paciência.
Descobri mais duas coisas sobre mim: a primeira é que eu gosto demais de mim mesmo para deixar de ser quem sou por causa dos outros. A segunda é que não me contento com qualquer coisa.Quero dizer, eu tinha demorado anos para juntar grana para comprar aquela casa. Aconteceu com o carro, com meu computador e, aos quinze anos, com o novo CD do Backstreet Boys (precisei vender muito papel de carta para minhas amigas por causa deles). Sou uma pessoa incapaz de desistir de algo que quer muito.
Pode ser uma qualidade, porém, naquela semana, mais me pareceu um defeito.– Bom dia, vizinho! Ia bater na sua porta agora mesmo. – E eu me perguntei como, pois ele segurava uma travessa de vidro enorme com as duas mãos.
– Bom dia... – Aprumei a minha roupa, verificando se não estava desarrumado demais. Trajava uma calça jeans velha, blusa de manga curta e chinelos, enquanto ele vestia calça, camisa pólo e tênis.
–Tem certeza de que vai assim?– Assim como? – Abriu um sorriso. Estava demorando... Eu tinha até estranhado a ausência dele.
Foi uma pena ter ido embora tão depressa.– Você está muito arrumado, Calvin! Coloca uma bermuda e chinelos, ficará mais confortável para passar o dia... Lá em casa não tem frescura!
Calvin afastou a travessa para olhar a si mesmo, analisando seus trajes com atenção.– Volto em um minuto. Segure isto.
Segurei a travessa. Que troço pesado! Enquanto ele ia atender às minhas recomendações, tentei saber do que se tratava o conteúdo dela, mas a presença de um papal alumínio a circundando dificultou bastante. Terminei sem descobrir o que era, só senti um cheiro divino (para variar, já que tudo o que aquele homem prepara é divino).
Calvin retornou depois de alguns poucos minutos, trajando exatamente o que eu lhe disse. Sorri.– Pronto? – perguntou apontando para si mesmo, buscando a minha aprovação.
– Está ótimo. Vamos?
– Pode ser no meu carro? – Pegou a travessa de volta.
Ele estava tão sério! Sei lá... Muito esquisito. Não havíamos nos visto ao vivo nem uma vez durante a semana inteira, e era como se fizesse anos. A saudade que eu sentia era enorme, só Deus sabe o quanto esperei por aquele sorriso. Não tê-lo com facilidade me desanimou.– Por mim, tudo bem – concordei.
– Ótimo.
Era oficial: Calvin não estava como sempre. Cadê o maldito sorriso safado? Onde estavam seus olhares maliciosos apontados para mim? E as piadinhas? As indiretas? As frases de duplo sentido?
Poxa vida...
Seguimos em silêncio em seu carro, exceto pelas informações curtas que eu lhe dava sobre a localização. Foi a coisa mais esquisita do mundo, por três motivos: eu estar novamente em seu carro, estarmos indo à casa dos meus pais (sério, isso era uma piada) e a sua seriedade incomum.
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𝘖 𝘎𝘰𝘴𝘵𝘰𝘴𝘢𝘰 𝘋𝘰 105 ꧁☟︎︎𝕵𝖎𝖐𝖔𝖔𝖐꧂
Fanfiction{CONCLUIDA} Park Jimin é um garoto que sempre sonhou com sua liberdade e independência e que finalmente as conquistou quando comprou sua casa própria. Mas junto ao pacote, ele ganhou também um vizinho fora do normal. A única casa colada a sua era...