𝑬𝒍𝒆 𝒔𝒂𝒃𝒆 𝒐 𝒒𝒖𝒆 𝒑𝒓𝒆𝒄𝒊𝒔𝒐 ✰

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Amizade não é troca de favores, tampouco é uma troca; amizade é uma espécie de amor incondicional que não sinto por ninguém.

A semana foi muito corrida,tudo por  causa de um novo cliente, dono de uma  empresa muito famosa na cidade. Ele queria um sistema bem diferenciado para a melhoria dos processos, e precisei quebrar a cabeça junto com os desenvolvedores. O meu chefe estava uma pilha de nervos, morrendo de medo de  que algo desse errado. A grana era tão  preta que ele até me ofereceu uma  bonificação maravilhosa caso tudo ficasse nos conformes. O meu dinheiro dava exatamente para tudo o que precisava pagar, mas a minha avó costumava dizer que “abraço e bufunfa  nunca são demais”. 

Fiz o possível para seguir cada  recomendação do chefe e dos programadores, estudando o projeto com afinco para conseguirmos liberar a tempo. Levei trabalho para casa na segunda e na terça-feira. Na quarta e na quinta, fiquei diante da minha mesa até quase dez horas da noite, pois percebi  que ir para casa me atrasava muito, acabava  perdendo tempo preparando o jantar e dando uma arrumada no que estivesse bagunçado. O nível do meu estresse estava cada vez mais alto, e a da minha paciência cada vez mais baixa.

Em nenhum dia da semana tinha visto o meu delicioso vizinho, e isso estava me incomodando (não devia, mas estava).  Dormia tão profundamente que não  escutava a sua presença em “nosso”  quarto. Apenas pela manhã ouvia a sua respiração alta no meu pé do ouvido, e lhe dava um bom dia silencioso antes de sair para o trabalho. Pensando melhor, nossos horários desencontrados era uma sorte tremenda na minha vida. Eu não podia suportar aquelas doses  homeopáticas e embriagantes do Calvin,  por isso decidi que o melhor mesmo era seguir em frente sem pensar na ausência dele.

Meus  sentimentos  faziam  uma  luz  vermelha  de  alerta  ficar  piscando  o tempo  todo.  Sabia  que estava  imerso em  um  mundo  paralelo  (quase  estilo Matrix),  em  que  coisas impossíveis  podiam acontecer. Coisas como o meu vizinho deixar de transar com as vadias gostosas, martelar a parede e cumprir a promessa de tirar a minha roupa todas as noites. Certo, eu não parava de pensar nisso, mas precisava.

Na quinta-feira, dia mais difícil, trabalhoso e estressante que já tive em meu trabalho, cheguei a minha casa  absolutamente mal-humorado. Acho que a prisão de ventre não ajudava em nada;  meus nervos estavam à flor da pele, meu ventre andava inchado, sentia-me gordo, feio e uma espinha do tamanho de um tiranossauro havia nascido bem na minha bochecha direita. Ignorei qualquer novidade na minha varanda (mentira, não ignorei, só não havia nada diferente mesmo), entrei na minha querida casinha, joguei a bolsa no sofá, tirei os sapatos e me joguei no tapete da Sra. Klein. 

Quero dizer, foi assim que comecei a  chamá-lo. Não me lembro exatamente  desde quando. Não sabia o nome da mulher, então podia nomeá-la como quisesse, certo? Eu não conseguia chamar aquele tapete de “meu tapete”, era demais para mim. Devo ser mesmo muito esquisito! Fui tirando as minhas roupas e jogando-as no sofá acima de mim. Terminei de cueca, soltando suspiros  de irritação. 

Meu estômago roncava, pedindo algo delicioso (ou pelo menos diferente da  comida do refeitório da empresa), mas  sabia que não teria ânimo, coragem ou  destreza para preparar alguma coisa realmente legal. Ouvi a porta do  vizinho ser aberta. Não sabia que o  Calvin estava em casa, ainda era relativamente cedo. Levantei-me depressa na esperança de vê-lo.

Cheguei até a abrir a porta, mas me lembrei de que tinha retirado as minhas roupas no último instante. Fui até a janela e a abri. Coloquei a minha cara toda para fora. Calvin estava vestindo apenas cueca e sandálias Havaianas. Reconheci a Karen-quenga com ele. Trocaram algumas palavras e riram, depois ela segurou a cintura dele. Passou unhas enormes pintadas de vermelho em sua pele, e então o Calvin se inclinou para beijá-la.

 𝘖 𝘎𝘰𝘴𝘵𝘰𝘴𝘢𝘰 𝘋𝘰 105 ꧁☟︎︎𝕵𝖎𝖐𝖔𝖔𝖐꧂ Onde histórias criam vida. Descubra agora