𝑻𝒊𝒂 𝑳𝒊𝒔𝒑𝒆𝒄𝒕𝒐𝒓♡︎

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Quando ambos estão arrependidos a culpa é somente de quem não cede primeiro, ou seja, a culpa é minha.

A minha sexta-feira foi uma meleca  (tudo estava verde e pegajoso como uma). Primeiro porque dormi no tapete. Claro, acordei todo quebrado. Meu pescoço voltou a doer, precisei até ingerir um comprimido de  anti-inflamatório. Tomei um banho  rápido, não comi nada e mesmo assim me atrasei quase meia hora. Meu chefe  quase me engoliu. 

Havia muito a ser feito, qualquer  atraso era significativo. Passei  o  dia todo sem conseguir trabalhar  direito. Minha concentração era facilmente desvirtuada; qualquer coisa se tornou motivo para pensar no Calvin. Não queria pensar nele, mas não encontrei outra saída. Foi involuntário. Os pensamentos apareciam sem que eu fizesse esforço algum. Todas as ideias que juntei se resumiram a uma grande conclusão: eu estava certo. Ele tinha sido muito ridículo comigo. Tudo bem  que o ofendi sem querer, mas foi o  idiota que veio com aquele papinho de que gosta de mim e não quer me fazer sofrer.

Dá licença, né?

Não tenho paciência para isso. Se o  Calvin ficasse calado e voltasse a  transar com as vadias, não me importaria (mentira cabeluda). Ok, seria melhor do que dar uma de coitado. Esse papinho de “eu não sirvo para você” é palhaçada.

Para mim o raciocínio é muito lógico:  se me comporto de um jeito que não me  faz merecer certas coisas, simplesmente  mudo de atitude para fazer por onde  merecê-las. Mas não, ele vive naquela  ladainha, conformando-se em ser safado como se fosse algo absolutamente imutável. Só pode ser preguiça, comodismo, má vontade...

A culpa de ser safado é só dele. Se gosta de ser assim, então para quê o draminha? Estava tentando se desculpar por não ser quem eu queria que fosse? Conta outra! Sou maduro, apesar de tudo.

Entrei na situação sabendo onde estava me metendo. Não estava exigindo nada dele, muito menos um compromisso, coisa que não estava em meus planos para aquele ano (talvez nem para aquela década).De uma coisa eu tenho certeza:  sou exatamente quem quero ser. Realizo cada um dos meus sonhos com muita luta  e determinação. Não fico olhando para  a grama do vizinho, não espero nada cair do céu, não me lamento pelo que ainda não consegui. Sou transparente, acredito nos meus valores,tenho discernimento. 

E, sinceramente, não entendo como  alguém pode dizer a frase “eu não  presto” com tanta convicção, como se fosse uma doença terminal que só dependesse da sorte para obter uma cura.
Deus me livre! Ele era muito infantil.

Precisava entender certas coisas, rever suas prioridades. A vida ia lhe dar pancadas fortes cedo ou tarde se continuasse a agir assim. Tudo bem que deve ser difícil ser tão novo e lindo, ter todas as mulheres que quiser, morar sozinho e não ter nenhum familiar com quem contar...

Calvin era bastante solitário. Sua  sensibilidade não lhe deixava negar. Aquelas amizades (trocas de favores sexuais) não preenchiam o vazio que só o amor familiar pode oferecer. Por  incrível que pareça, depois de muito  xingar, praguejar e quase morrer de  raiva, comecei a sentir verdadeira pena do Calvin. Aconteceu perto do fim do expediente, quando o meu chefe já estava tão indignado que simplesmente me  mandou ir para casa mais cedo. Aleguei  estar sentindo nauseas (uma desculpa  que sempre funciona,achando que vamos vomitar em tudo), pedi desculpas aos  meus colegas e fui embora.

Tentei não me sentir um derrotado enquanto dirigia pela cidade. Parei de sentir arrependimento. A noite anterior foi incrível, nem mesmo as palavras imbecis do meu vizinho safado foram capazes de apagar as lembranças do nosso momento de entrega. Ainda podia sentir suas mãos me tocando. Meu ventre gritava toda vez que me lembrava daquele corpo impressionante me possuindo. Revivi cada instante. Cada detalhe.

 𝘖 𝘎𝘰𝘴𝘵𝘰𝘴𝘢𝘰 𝘋𝘰 105 ꧁☟︎︎𝕵𝖎𝖐𝖔𝖔𝖐꧂ Onde histórias criam vida. Descubra agora