O adeus consensual e com hora marcada me parece atitude de gente que nunca vai conseguir se despedir de verdade.
Já sabia que os próximos dias seriam difíceis. Não fui surpreendido pelos inúmeros momentos em que parei para refletir sobre como estava me sentindo triste. Acho que o pior foi ter que trabalhar mesmo sabendo que não estava pronto para focar em nada que não fosse a minha avó.
O meu rendimento só fazia cair; bem que tentei dar o melhor de mim, mas ninguém consegue fazer isso vivendo em sua pior versão. As noites eram as piores. Não sei o que há com elas... Parece que a vida se cala só para ouvir todas as coisas pelas quais você se lamenta. A consciência me atingia durante as madrugadas, e a minha única salvação era acrescentar mais frases à minha “parede da Clarice” (com os pincéis novos que comprei). Colocava música alta toda vez que sabia que o Calvin estava com alguém. E ele não me poupou...
Não me lembro de um dia que tivesse passado sozinho. Ele estava com o apetite (ou a safadeza) nas alturas. Tentava sempre disfarçar os sons de sexo, mas era impossível. No fundo, sabia que eu estava ouvindo. Não tinha como não ouvir. Mas, fazer o quê? A gente cura a dor com o que pode. Eu tinha uma parede, e ele tinha um pênis. O tempo passava, e eu me sentia cada vez mais vazio. A minha alma se sentia um pouco melhor quando me deitava na cama, virada para a parede, e relia tudo.
Liguei para a minha família todos os dias. Eles não estavam tão diferentes de mim, mas pelo menos permaneciam juntos. E eu só tentava não me deixar ser vencido pela dor. Pensei pelo menos umas mil vezes em voltar para casa. E então, eu parava na frase mais destacada da minha parede.“Liberdade é pouco.”
Meu Deus, como é pouco. Pensei que tudo se resolveria quando me mudasse. Meus problemas teriam fim, minha vida avançaria... Seria quem realmente pensava que era. Mas não... Tenho outros problemas, outras inércias... E sou exatamente o que eu não sabia que era. Um desconhecido com o mesmo rosto de sempre.
“O que eu desejo ainda não tem nome.”
Estabilidade? Coragem? Maturidade? Afinal, o que eu queria? Ou melhor, do que eu precisava? Às vezes é melhor a gente ter o que precisa do que ter o que a gente quer. Talvez a palavra certa seja autoconhecimento. Eu queria muito poder me conhecer por inteiro. Não saber quem realmente sou me angustia. E de fato coloca em risco toda a liberdade com a qual sonhei a minha vida toda.
A minha relação com o Calvin voltou esfriar. Devo tê-lo encontrado pelo menos duas vezes logo pela manhã. Como sempre, estava aguando as plantas com o famoso regador. Cada bom-dia que trocamos foi desanimador, brochante. Ele mal olhava para a minha cara. Eu também não. Mesmo assim, sei que me observava quando eu virava as costas. Bom... Tentei não pensar nele. Mas eu não tinha nada melhor para pensar. Sério.
Família: não. Trabalho: não mesmo. Vida amorosa: piada. Amizades: neca de pitibiriba.
Por isso não me julgue, cada segundo em que não pensava na vovó era ocupado pelo meu vizinho cafajeste. Recordava-me de cada palavra, cada toque... De tudo. Percebia o quanto a minha vida era chata sem o seu bom humor constante. Não devia estar com raiva, visto que me deixei ser decepcionado. Ele me avisou. Eu que não acreditei que alguém pudesse ser tão ridículo. Minha raiva sofria variações de acordo com a linha do meu raciocínio. Ora ficava puto da vida, e tinha vontade de sair fodendo o mundo todo só para esfregar na cara dele, ora pensava com mais calma e percebia que fazer isso só me faria ser um homem que não sou, e pior, por causa de alguém que não merece. Se eu queria o respeito dele, precisava, antes de tudo, respeitar a mim mesmo.
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𝘖 𝘎𝘰𝘴𝘵𝘰𝘴𝘢𝘰 𝘋𝘰 105 ꧁☟︎︎𝕵𝖎𝖐𝖔𝖔𝖐꧂
Fanfiction{CONCLUIDA} Park Jimin é um garoto que sempre sonhou com sua liberdade e independência e que finalmente as conquistou quando comprou sua casa própria. Mas junto ao pacote, ele ganhou também um vizinho fora do normal. A única casa colada a sua era...