(Por Calvin)
O fim talvez não seja uma escolha, mas o que fazer depois dele é
Devo ser anormal por cruzar a porta de uma emergência àquela hora da manhã, explicando que tinha entrado em uma briga e que provavelmente havia quebrado o nariz. Uma enfermeira bem jovem, que visivelmente estava me paquerando, fazendo piada sobre o tamanho dos meus músculos e o fato do meu oponente certamente estar pior do que eu, levou-me para a enfermaria e me ajudou a tentar conter o sangramento no nariz enquanto esperávamos o médico.
Sentia-me meio desnorteado, como se nada estivesse acontecendo comigo. Um pouco tonto também. Deixei-me ser cuidado porque a minha única opção era ficar quieto, esperando o tempo passar para que pudesse finalmente deixar a ficha cair. Pelo visto, o nariz não era o meu único problema. A enfermeira começou a mexer em vários pontos doloridos do meu rosto com um algodão, contendo algum líquido que só fazia minha cara inteira arder como se tivesse dentro de uma fogueira.
Foi neste instante que descobri não conseguir abrir o meu olho esquerdo até o fim. O inchaço foi piorando até que se tornou ainda mais difícil, e a dor física intensificou a psicológica até não conseguir me controlar; meu corpo começou a tremer sem pausas por causa dos soluços que tentei abafar. Recusei-me a chorar na frente da enfermeira, mas ela ficou preocupada tanto com o meu silêncio quanto com os espasmos bizarros que me faziam pular na cadeira.
Não respondi quando perguntou o meu nome. Ela acabou conferindo nos meus documentos e, com cara de espanto, perguntou se eu tinha algum parente para quem ela pudesse ligar. Neguei, balançando a cabeça e me desesperando mais ainda por realmente não ter ninguém para um maldito telefonema, enquanto a tremedeira não cessava por nada. Comecei a ver as coisas girando dentro da enfermaria, e tentei respirar fundo para me acalmar.
A falta de ar advinha de um nó horroroso implantado no meu pescoço. Segurei a corrente que o Jimin tinha me dado, afastando-a um pouco da minha pele. Ela era folgada, mas naquele instante mais me pareceu uma coleira. Mesmo assim, não ousei retirá-la. Uma segunda enfermeira apareceu para medir a minha pressão e verificar os meus batimentos. A pressão estava um pouco elevada, porém nada tão alarmante, só que o meu coração quase saía pela boca. Estava perto dos cento e quarenta por minuto. Como eu não conseguia falar e parecia em estado de choque, elas acharam por bem me deitar em uma maca.
Só me lembro de visualizar o médico entrando na enfermaria e uma das enfermeiras dizendo que
achava que eu ia desmaiar. Assim que fiz o pequeno esforço de me levantar da cadeira, o mundo se tornou ainda mais surreal até que nada mais conseguiu ser visto. Devo ter acordado alguns minutos depois. Estava deitado na maca, e a enfermeira que havia me ajudado nos ferimentos terminava de aprumar uma agulha que havia enfiado na minha mão e ligado a um tubo. O médico estava ao meu lado, analisando-me com um estetoscópio.– Senhor Jeon... O senhor se alimentou esta manhã? perguntou-me. Dei de ombros. Não me lembrava de ter comido nada. Na verdade, estava tão desnorteado que sequer sabia que dia era aquele.
– Creio que entrar numa briga tão cedo lhe colocou sob muito estresse... Sua pressão está normal, por isso vamos te dar apenas um pouco de calmante no soro. Fique tranquilo por algum tempo e, caso volte a sentir vertigem, avise-nos. Tudo bem?
Balancei a cabeça, concordando. Acho que eu precisava mesmo me acalmar. Nada seria resolvido se eu não estivesse inteiro. O pesadelo que vivi não podia ficar se repetindo na minha mente.
As duras palavras do Jimin precisavam parar em algum ponto seguro dentro dele, um lugar onde eupossa analisá-las sem me sentir tão angustiado, perdido e temeroso.
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𝘖 𝘎𝘰𝘴𝘵𝘰𝘴𝘢𝘰 𝘋𝘰 105 ꧁☟︎︎𝕵𝖎𝖐𝖔𝖔𝖐꧂
Fanfiction{CONCLUIDA} Park Jimin é um garoto que sempre sonhou com sua liberdade e independência e que finalmente as conquistou quando comprou sua casa própria. Mas junto ao pacote, ele ganhou também um vizinho fora do normal. A única casa colada a sua era...