𝑺𝒆𝒏𝒕𝒊𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐𝒔 𝒅𝒐 𝑪𝒂𝒍𝒗𝒊𝒏 𝑷𝒕.2

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......Continuação....

Coloquei o uniforme do chefe de cozinha, contendo o orgulho por finalmente ter alcançado um bom cargo. A culpa de tudo, é claro, era de quem? Jimin. Sempre o Jimin.

O bem que aquele homen me faz é diretamente proporcional ao medo que sinto toda vez que penso na gente. Ou na saúde dele. Ou no futuro. Ou nas merdas que fiz e nas que vou fazer.

Não sei o que seria de mim sem o meu trabalho. Pode parecer esquisito, mas é o único momento no dia em que me esqueço de tudo. É por isso que não ligo para a carga horária extensa; quanto mais trabalho, menos me preocupo e menos me martirizo. Cozinhar, para mim, é mais que uma profissão. É a minha terapia diária, a minha razão de estar no mundo.

O dom de cozinhar foi herdado da minha mãe. Segundo o papai, ela o fisgou pelo estômago. Eu não duvido, já preparei quase todas as suas receitas e me surpreendi em cada uma delas. Claro que é diferente, tenho certeza de que os pratos feitos pela mamãe saíam ainda mais gostosos. Um dos meus sonhos secretos, e impossíveis, é poder comer alguma coisa preparada por ela. Sei que jamais o realizarei, por isso tento me contentar em seguir suas instruções à risca. Busco sentir seu amor através das delícias que me proporciona: as leituras, as plantas – mamãe era apaixonada por flores –, as receitas, e até mesmo o tapete, que agora estava em boas mãos.

É estranho, porém sinto a presença dela o tempo todo. Acontece desde que me conheço por gente. Acho que não enlouqueci até agora por causa disso; alguma coisa me diz que ela está me guiando, acompanhando-me e me amparando quando preciso. Tenho certeza de que foi ela quem me trouxe o Jimin. Sinto um poder mágico vindo do além, impulsionando o meu corpo a continuar apesar de todas as adversidades.

Eu só queria que tudo fizesse sentido um dia. Queria entender o porquê de tanto sofrimento. Talvez alguém me devesse uma explicação. Ou talvez não houvesse uma: o azar não escolhe quem atingir. Talvez eu não passasse de um cara desprovido de sorte, um coitado que nasceu para experimentar todos os sentimentos ruins.

Não duvido. Não duvido...

O dia passou que nem percebi. A cozinha estava movimentada, mesmo sendo segunda-feira. Sempre tinha o que fazer, principalmente quando se trabalha como chefe. As responsabilidades são redobradas, as cobranças também, e eu só conseguia achar tudo bastante divertido.

Dei uma olhada no relógio e percebi que já eram quase sete horas. Ia esperar apenas alguns minutos a mais para telefonar e confirmar se o meu lindo estava bem. O desespero foi calado pela calma que a cozinha me passava, por isso estava zen, imune à angústia.

– Ei, Jungkook, tem uma pessoa lá fora te procurando. – Um dos garçons me procurou na cozinha. Era comum nos referirmos um ao outro usando o sobrenome, e o pessoal tinha gostado do meu por ser coreano, como era o restaurante. Dava mais moral ao estabelecimento ter um chefe descendente de coreanos. Mais uma bela herança da mamãe.

Foi difícil esconder um sorriso. O Jimin havia finalmente vindo me visitar, como sempre prometeu. Fiquei logo empolgado, quase me esquecendo de retirar o avental, as luvas e a toca. Fiquei com a camisa branca e a calça, também branca, do uniforme.

Onde ele está?

– Na entrada mesmo!

– Beleza!

A ansiedade me acompanhou durante o tempo que levei para chegar à entrada do restaurante. A movimentação começava a aumentar de novo para o jantar. Cumprimentei alguns clientes e funcionários pelo caminho, tentando despistar o gerente.
Escapuli para a saída e procurei o Jimin em toda parte, mas não encontrei ninguém parecida com ele. Achei bem esquisito. Uma garota se aproximou de mim de repente, e demorei um pouco para reconhecer a Lilian.
De uma coisa tive certeza: nada bom viria dali. Meu corpo entendeu no mesmo instante, fazendo-me reagir na defensiva.

 𝘖 𝘎𝘰𝘴𝘵𝘰𝘴𝘢𝘰 𝘋𝘰 105 ꧁☟︎︎𝕵𝖎𝖐𝖔𝖔𝖐꧂ Onde histórias criam vida. Descubra agora