Uma fogueira, uma parede e um verso de Clarice Lispector às vezes é tudo o que precisa para seguir em frente.
Não posso dizer que não chorei, pois estarei mentindo. Devo ter derrubado uma ou duas lágrimas durante a volta para casa, mas depois tomei a decisão de não me deixar abalar por uma coisa que eu já sabia que ia acontecer. Estava na minha previsão do tempo interno. O que eu fiz foi a mesma coisa que colocar a roupa no varal sabendo que ia chover.
Sim, no mínimo, foi muita falta de inteligência. Cheguei a minha casa me sentindo derrotado, parecia que tinha levado uma pisa. Abri a geladeira, cheio de fome, e dei de cara com a porcaria do pudim de morango. Devo ter devorado umas três fatias enormes. Só sei que comi como se não houvesse amanhã. Acredito que tenha chorado um pouco mais enquanto devorava o pudim, não sei ao certo. Estava aéreo. E um pouco alterado pelo álcool também.
Era a primeira vez que eu chegava tão cedo e tão sóbrio depois de uma festa como aquela. O relógio do celular marcava uma e meia da manhã quando, depois de um banho, deitei na cama. A mesma que guardava lembranças que eu queria esquecer. Foi impossível não me lembrar delas, mas eu tentei ao máximo. Fiz de tudo.
Estava cada vez mais evidente para mim que estava precisando de um colo. Um tipo de consolo silencioso que eu só conseguia receber da minha família. Nem sabia o quanto o olhar da minha mãe faria falta. Nem o quanto a ausência do beijo de boa noite do meu pai doeria. Até mesmo a Saaa e o Yudi rondaram os meus pensamentos.
Descobri que estava morrendo de saudade de todo mundo. O pior de tudo era que fazia apenas uma semana que tinha me mudado. Depois de pensar um pouco mais, percebi que não passava de uma homem mimado. Acredite, foi um grande passo para o meu autoconhecimento.
Sempre pensei que fosse um homem maduro, precocemente autossuficiente, mas pelo visto não passava de um garotinho que não podia ver problemas e já queria ser paparicado. Antes, eu sabia o tempo todo que teria braços quentes para me consolar caso algo desse errado, contudo, naquele momento, não tinha mais nada além da minha consciência e discernimento.
Contava apenas com a maturidade, e acabei descobrindo que não era tão grande quanto imaginei que fosse. Fechei os olhos, saboreando o gostinho estranho de descobrir quem realmente sou. Sorri, porque aquela era mais uma aprendizagem que só a solidão completa pôde me oferecer. É engraçado os meios que a vida se utiliza para nos fazer crescer, isso para não dizer perfeito.
Ver a minha história sendo construída, perceber que estava aprendendo em uma semana coisas sobre mim que não descobri em vinte e oito anos, só podia ser uma dádiva. Um presente dos céus. Gosto de ver sempre o lado bom das coisas, e embora estivesse com o meu coração bem apertadinho, coloquei na minha cabeça que todo aprendizado requer dor. Mudar de conceitos é um processo amargo, afinal, ninguém quer descobrir que esteve errado, imagina o de transformar o autoconceito?
Certamente dói demais. E é muito solitário. Escutei a porta da casa do vizinho se abrindo. Permaneci quietinho, apenas analisando cada ruído que Calvin fazia. Fechou porta, abriu, andou de um lado e do outro, abriu gavetas (eu acho), depois sumiu. Deve ter ido tomar banho. Só sei que, depois de alguns minutos, percebi que estava bem atrás de mim. Deitado em sua cama.
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𝘖 𝘎𝘰𝘴𝘵𝘰𝘴𝘢𝘰 𝘋𝘰 105 ꧁☟︎︎𝕵𝖎𝖐𝖔𝖔𝖐꧂
Fanfiction{CONCLUIDA} Park Jimin é um garoto que sempre sonhou com sua liberdade e independência e que finalmente as conquistou quando comprou sua casa própria. Mas junto ao pacote, ele ganhou também um vizinho fora do normal. A única casa colada a sua era...