É MAIS FÁCIL quando estou com as meninas. Não sei explicar e nem sei se faz sentido, mas quando abro a porta e sou recebida por esse clima estranho da minha casa, é como se todos os acontecimentos importantes da noite anterior não significassem mais tanto.
Não sei como gostar de garotas funciona. Eu pensei que minha ida até o Área 51 me ajudaria a descobrir as coisas, mas, apesar de realmente ter ajudado na hora, é como se todas as minhas dúvidas e medos e incertezas voltassem com muita força quando retorno pra casa.
É estranho dizer isso? É estranho dizer que, quando tô com as garotas da banda, lidar com tudo isso parece mais fácil?
Mamãe está tocando na sala de estar, o som do nosso piano amaldiçoado de calda me dando as boas-vindas. Minha mãe é a mulher mais talentosa que eu conheço, e lembro de uma época em que eu amava vê-la tocar. É a coisa mais linda do mundo, sem exageros. Mas agora assisti-la é um pouco triste. É como se ela sempre estivesse me mandando uma mensagem dizendo que eu poderia ser assim, tão boa quanto ela, se eu quisesse.
Mas eu não quero.
— Vou tomar um banho — aviso, indo direto até a área de serviço e largando minha roupa suja e com cheiro de álcool na lavadora de roupas. — A Carm tá em casa?
— Uhum. Tá estudando no quarto dela — mamãe avisa, sem parar com a música.
Antes de entrar no banheiro, paro no meio do corredor, batendo de leve na sua porta. Dá pra ouvir o toque do piano lá dentro, minha irmã tocando algo com certeza difícil demais para mim. Talvez ela não tenha me escutado bater, então abro a porta um pouquinho e enfio minha cabeça lá dentro.
— Ei, posso falar contigo? É rápido.
Carmela sorri, parando com o piano.
— Claro, entra aí.
A camiseta que Frida me emprestou é larga e folgada, muito maior que o meu tamanho, e eu preciso levantá-la um pouquinho pra não me sentar em cima dela enquanto me acomodo na cama da minha irmã. Carm me encara em silêncio, esperando que eu diga alguma coisa.
— Eu não tava na casa da Iara.
Minha irmã sorri mais uma vez, assentindo.
— Imaginei — diz, deslizando de leve o indicador pelas teclas do piano. — Você tava... seguindo aquele meu conselho?
Assinto, sem jeito.
— Quis te contar antes, mas preferi ter certeza primeiro — digo, gaguejando um pouco sem querer. — E eu tenho certeza, agora, eu acho.
— Como você acha que tem certeza, Nina?
Dou de ombros, sentindo meu coração acelerar por motivo algum. Por que eu tô nervosa em contar isso pra Carmela quando foi ela quem me apoiou primeiro nisso tudo? Não faz muito sentido.
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Garotas Rebeldes em Combustão
Teen FictionNina Avante tem um plano: até o fim do ano, ela vai revelar aos pais que não pretende continuar naquilo que eles a vem ensinando desde que se entende por gente. Ainda que ela ame tocar piano, a garota sabe muito bem o que quer fazer quando enfim ter...