Nina Avante tem um plano: até o fim do ano, ela vai revelar aos pais que não pretende continuar naquilo que eles a vem ensinando desde que se entende por gente. Ainda que ela ame tocar piano, a garota sabe muito bem o que quer fazer quando enfim ter...
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SEM CHANCES DE eu tirar o meu teclado de casa. Mamãe notaria, eu precisaria arranjar uma mentira muito boa e a probabilidade de tudo dar errado seria bem maior do que a de dar certo. Sorte que Jasmine tem um, e mesmo ele não sendo novo e não tão bom quanto o que tenho, já vai servir bastante.
Trouxe a letra para casa e descobri as notas ainda durante a reunião. Estou agora na frente do meu teclado, a porta do meu quarto trancada, enquanto tento aprender a tocá-la. Também preciso escrever o refrão, e acho que sei como melhorar algumas partes. Acho. Tô um pouco nervosa, porque ao mesmo tempo que foi a própria Jasmine que me pediu ajuda, eu não quero parecer uma chata e mudar a sua letra.
tudo bem se eu acrescentar algo meio pessoal?, digito, e ela não demora muito pra responder.
claro que sim, nina! fica à vontade, a música é sua também :)
Certo.
Busco uma folha limpa e reescrevo a letra já pronta, deixando espaço pro refrão. Também não escrevo o segundo verso, porque talvez eu tenha uma ideia melhor pra ele. Tá bem que só Frida vai entender exatamente o que ele representa, mas espero que as meninas não o odeiem.
Ajeito a postura, o teclado na espera de que eu volte a usá-lo. Posiciono meus dedos nas teclas certas e, baixinho, eu canto a parte que escrevi.
— Não quero saber de rebeldia, não quero agir como você. Mas se eu acender esse fósforo, o que vai acontecer?
Paro, minhas mãos ainda nas teclas. O refrão é pra vir agora, mas ainda não faço ideia do que escrever. Quem sabe eu deva continuar sendo pessoal na letra, mesmo não sabendo se essa é a melhor escolha.
— Boa garota, rebeldia, combustão — repito em voz alta algumas palavras da música, tentando me inspirar de alguma forma.
Jasmine disse que essa canção pode chegar a abrir o próximo show, o que significa que ela é muito importante. As pessoas precisarão gostar dela pra continuarem assistindo a apresentação, então eu não posso errar. Sem falar que, se ela for bem feita, pode transparecer muito a energia da banda, coisa que todas as garotas querem. Mas como eu faço isso? Não sei se consigo pensar como as meninas pensam, mesmo que me digam que sou uma delas agora. Sei lá, é complicado. Ainda continuo me sentindo uma terráquea fora da terra às vezes.
Mas não posso desistir, sei que não. Confiro a letra novamente, tocando o começo da melodia no teclado e cantando mais uma vez, baixinho.
— Eu sou uma boa, uma boa garota. Não conto mentiras, não escondo nada, não. Mas você é uma garota, uma garota rebelde, prestes a entrar em combustão.
Talvez seja essa a música em que a banda deveria usar a frase que a Frida me falou. Garotas rebeldes entram em combustão quando se beijam... Hm. Não sei, na minha cabeça essa frase deveria ser usada em uma música mais lenta, e não em uma com uma batida animada como essa. Mas não sei se é pensar na frase que me inspira, ou pensar na conversa que tive de madrugada com Frida Tropelia, mas de repente eu tenho uma ideia. Lembro dela me falando sobre a banda quebrar regras e... acho que posso escrever algo nessa linha, já que sou uma baita especialista nisso.
