10 - eu nem gosto de filmes tanto assim

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O PÍER ESTÁ vazio essa hora da noite, com as luzinhas de festa iluminando todo o caminho pela ponte larga de madeira

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O PÍER ESTÁ vazio essa hora da noite, com as luzinhas de festa iluminando todo o caminho pela ponte larga de madeira. Acho que nunca vim aqui, mesmo esse lugar existindo há anos e sendo quase como um ponto turístico da cidade. Soube que aqui lota nas manhãs de verão.

— Eu entendo que esse seja seu lugar favorito da cidade, mas não é lá muito interessante à noite — comento, encarando a paisagem escura que se estende depois da grade de proteção. — Não dá pra ver direito o que é mar e o que é céu.

— Acho que é exatamente por isso que gosto tanto de vir essa hora — Frida explica, apoiando os cotovelos na grade e olhando para a frente. — Não saber distinguir onde o mar termina e o céu começa me ajuda a, sei lá, me manter calma. Adoro vir à noite aqui.

— Eu adoro a praia à noite também, mesmo que eu morra de medo do mar.

Frida me encara, as sobrancelhas erguidas e os lábios cerrados.

— Como você vive em uma cidade litorânea e tem medo do mar, Nina Avante?

Faço uma careta, incomodada. Não é como se eu me orgulhasse disso, mas eu não costumava frequentar a praia quando criança. Ou piscinas. E isso resultou em uma garota de dezessete anos que, bem...

— Eu meio que não sei nadar.

— Não, Nina, não acredito.

— É sério — confesso, encolhendo os ombros. — Quando eu era pequena, vim a praia com meus pais e minha irmã e, segundo Dona Ângela, quase morri afogada com uma onda minúscula. Acho que depois disso eles nunca mais me trouxeram, então nunca aprendi a nadar.

Frida continua me encarando, como se me analisasse. Estou visivelmente incomodada, mas ela não parece se importar. Está fazendo de propósito.

— Vou te ensinar a nadar um dia.

— E se eu não quiser? — pergunto, tentando soar provocativa e não mal educada.

Ela sorri.

— É por questões de sobrevivência, Super-Homem. Você é obrigada a aceitar o meu convite. — Frida ajeita a postura, ficando agora de costas para o mar, mas ainda com os cotovelos apoiados na grade de madeira. — Se aceitar, eu te deixo me ensinar a tocar piano.

Ergo uma sobrancelha, curiosa com os rumos que essa conversa está tomando.

— Não foi você mesma que disse que nunca quis aprender esse instrumento?

— É, eu disse. Mas, parando pra pensar, talvez eu precise aprender a tocar outra coisa além da guitarra se eu quiser ter sucesso com a banda, então... — Ela continua sorrindo, provocativa —... como eu disse: questão de sobrevivência.

Solto uma risada, relaxando a postura e também me apoiando na grade. Encaro o mar agitado, as ondas batendo na estrutura de madeira e quase alcançando os nossos pés. Ainda que seja assustador, o oceano consegue ser muito bonito, mesmo quando não sabemos o que é mar e o que é céu.

Garotas Rebeldes em CombustãoOnde histórias criam vida. Descubra agora