15 - as irmãs avante não bebem chá

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TALVEZ EU SEJA bi

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TALVEZ EU SEJA bi. Talvez eu goste de garotos e garotas. Ou talvez eu não goste de nenhum dos dois. Essas ideias me parecem erradas, porque não consigo entender como eu posso ser uma coisa e nem fazer ideia disso durante dezessete anos da minha vida. É confuso e tô me sentindo incomodada, já que há uma hora essas hipóteses nem passavam pela minha cabeça. Talvez eu goste de garotas. Mas é estranho pensar nisso, e é provável que eu esteja errada. Não me parece certo tirar essas conclusões só por ter beijado a Iara e sentindo algumas coisas enquanto fazia isso. Se bem que talvez seja tão errado quanto dizer que gosto de garotos quando, em todos os quatorze beijos que dei, eu nunca senti nada. Droga. Talvez insistir nisso esteja me deixando maluca.

Estou trancada do lado de fora da minha própria casa. Mamãe deve ter tido um compromisso e Carmela saído para algum lugar, e eu não sei por que sou a filha injustiçada que não tem nem mesmo uma cópia da nossa chave. É até engraçado, porque eu guardo vários chaveiros incríveis da Ardentia que não tenho onde usar. Acho que vou ficar com as chaves de Carmela quando ela for embora.

Pelo menos consigo o meu sinal de internet. Largada no corredor do terceiro andar, estou quase deitada com as costas apoiadas na minha porta de entrada. Mandei mensagem pra mamãe e ela nem chegou a receber, mas Carmela me respondeu dizendo que já está voltando pra casa. Me pergunto onde ela estava, já que nunca mais a vi com os amigos por aí. A maioria foi pra Universidade de Boafortuna, o que fez minha irmã ficar presa sozinha nessa cidade, pelo menos até o fim do ano. Mas depois ela irá pra Alemanha e, bem, aposto que vai arranjar um monte de amigos por lá.

Já estou pensando em argumentos convincentes que farão mamãe concordar em me deixar ficar com o quarto da Carmela.

— Foi mal, foi mal! — ouço a voz da minha irmã nas escadas, suas desculpas subindo os andares mais rápido que ela, que aparece segundos depois com sacolas de compra. — Fui ao mercado atrás de umas coisas pra gente fazer o jantar.

— Por quê? Pra onde a mamãe foi? — pergunto, me erguendo do chão e dando espaço para ela abrir a porta.

— Papai ligou, disse que ia precisar ficar mais esse fim de semana em Velha Laguna, aí chamou mamãe pra passar uns dias com ele — ela explica, encaixando a chave e girando a maçaneta. — Um fim de semana romântico e essas coisas.

Faço uma careta e Carmela concorda, rindo um pouquinho.

Não sei qual foi a última vez que Carm e eu tivemos a casa só pra gente. Possivelmente nunca. Lembro que, quando éramos pequenas e nossos pais viajavam, eles contratavam uma garota pra ficar de olho na gente. O seu nome era Elis e na época devia ter a idade que tenho hoje. Lembro que eu adorava o seu cabelo, em como ficava bonito quando ela fazia tranças e...

Ai meu Deus. Será que eu tinha uma quedinha pela minha babá?

— O que você comprou aí, hein? — pergunto, tentando abandonar meus pensamentos e me concentrar em algo que não seja minhas dúvidas sobre tudo. Caminho até a cozinha e ajudo Carmela a tirar as compras das sacolas. — Farinha de aveia, feijão preto, açúcar mascavo... Cara, você é muito saudável.

Garotas Rebeldes em CombustãoOnde histórias criam vida. Descubra agora