7 - uma banda chinfrim de garagem

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EU NÃO TENHO uma desculpa esfarrapada dessa vez

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EU NÃO TENHO uma desculpa esfarrapada dessa vez. Não sei o que dá em mim quando, na terça à noite, eu tomo um banho demorado e ponho a minha melhor roupa, me encarando no espelho com meu coração batendo apressado. Que tipo de show acontece numa terça-feira? Aposto que não vai muita gente.

Escrevo uma mensagem para a Iara, mas apago antes de enviar. Sei lá, tenho a sensação de que devo fazer isso sozinha. E vai ser coisa rápida, sabe? Eu não planejo ficar durante toda a apresentação. Só preciso descobrir se a garota tocando guitarra se apresentará como Lennon — seguido do seu sobrenome iniciado com A — e sairei de lá na primeira oportunidade.

Conferi todas as fotos da banda Garotas Rebeldes em Combustão que apareceram na internet, numa tentativa falha de encontrar uma resposta para minha grande dúvida. Pelo visto, Frida não tem mesmo redes sociais, já que nunca aparece marcada em nenhum post, mas na bio do perfil no Instagram, as garotas estão listadas apenas por suas iniciais, F, J e L. E eu sei que uma das garotas se chama Lana, então Frida possivelmente ainda faz uso do seu nome real.

Mas se eu estiver certa, por que ela anda usando o nome Lennon para alugar filmes na Ardentia Locadora?

Meu celular vibra, o despertador avisando que já passa das seis e meia da noite. Preciso me apressar e inventar uma desculpa de uma vez por todas.

— Mãe, acabei de receber uma mensagem, a banda tá precisando fazer um ensaio de emergência e tenho que ir voando pra escola.

Falar rápido é essencial para que minhas mentiras funcionem. Assim, não abro espaço para perguntas que possam comprometer a veracidade do que tô inventando. Saio do meu quarto já soltando essa informação, mamãe na cozinha sendo pega de surpresa.

— Como assim ensaio de...

— Não dá tempo de explicar, mãe, desculpa — a interrompo, andando com passos apressados até a porta, sem olhar para ela nenhuma vez. — Te aviso assim que chegar lá, tá? Prometo, tchau!

Fecho a porta numa batida mais forte do que pretendia, e espero no corredor por alguns segundos até ter certeza de que Dona Ângela não virá atrás de mim. Quando me certifico de que mamãe aceitou a minha história sem sentido, forço os meus chinelos a correrem escadaria abaixo.

Para minha sorte, não moro muito longe da praia. É só seguir direto pela minha rua que logo chego na Avenida Litoral, que apesar de ser extensa se comparada as outras estradas da cidade, nem é tão grande assim. Ajeito as mangas do meu casaco fino e confiro mais uma vez se estou com meu celular, minha carteira e alguns trocados na bolsinha de alça, e sigo com passos decididos até a Praia das Tartarugas.

Estou me sentindo péssima porque, mesmo tendo conferido todas as fotos, eu não me dei ao trabalho de ouvir as músicas da banda. Não faço ideia de que tipo de canções elas tocam e acho que sou uma idiota por invadir esse show só para sanar a minha curiosidade. Tá legal que ele vai rolar em um local público e não estou cobrando ingressos, mas mesmo assim. Devia ao menos ter ouvido uma canção.

Garotas Rebeldes em CombustãoOnde histórias criam vida. Descubra agora