LENNON É UMA garota. Não, não uma garota. Lennon é Frida Tropelia. Não que Frida não seja uma garota, mas é que no fundo ela é mais do que isso. Ela não é só uma garota, consegue me entender? Ah, sei lá. Minha cabeça está fervendo.
Talvez tudo seja um grande engano. Não sei como isso seria possível já que a assinatura é exatamente a mesma, com estrelinha e tudo, mas vai que existam dois Lennons nessa cidade, com assinaturas e estrelas iguais? É possível. Totalmente possível, não é?
Eu sabia que ia quebrar a cara, que tinha chances de eu me ferrar pra valer nessa história toda. Mas como eu ia adivinhar que Lennon é a droga da Frida Tropelia? De todas as pessoas dessa cidade, tinha que ser justo ela?
— Parece que viu um fantasma, Ninazinha — brinca Iara no fim do nosso expediente, me encarando enquanto tiro o avental. — Nunca te vi tão pálida.
— Acho que tô cansada — minto, pendurando o meu uniforme no cabide enquanto permaneço com os pensamentos bem longe daqui.
— Você precisa relaxar, amiga. Quais são as chances de vir até o Água-Viva comigo? Se divertir um pouco, pra variar.
Demoro a processar a pergunta, então uns bons segundos de silêncio se estendem. Quase solto uma risada na cara dela quando finalmente entendo o seu convite.
— Chances inexistentes? — respondo, buscando um dos capacetes jogados no sofá. — Sabe que minha mãe me mataria, né? Tipo, bem matado.
— Ah, qual é! E se eu falasse com a Ângela, hein? — Iara sugere, esperançosa. — Sua mãe me conhece, confia em mim. Eu posso ligar pra sua casa, dizer que te entrego com segurança mais tarde, e talvez ela te deixe ir numa boa.
Eu não posso revelar os motivos de não poder, ou melhor, de não querer ir. Não posso só dizer que meu estômago está doendo e minha cabeça girando porque tudo parece ter desmoronado sobre mim. Porque Lennon é Frida Tropelia, e eu juro que estaria lidando melhor com essa decepção de que o amor da minha vida é uma farsa se ele fosse qualquer garota da cidade. Sério. Mas, de todas as garotas de Alto-Mar, não precisava ser logo ela.
Acho que Frida nem se lembra mais de mim.
— Eu tenho ensaio hoje, mamãe não quer que eu falte — arrumo uma desculpa, erguendo o capacete e o balançando no ar. — Dá pra gente ir embora?
Eu já tenho uma ideia do que vou fazer. Quero dizer, parte de uma ideia. Só preciso de uma boa desculpa, ajuda divina e muita, muita sorte.
Passei tanto tempo imaginando como Lennon seria que é estranho saber quem ele é. Bem, isso se eu considerar mesmo a hipótese de Frida ser o garoto por quem eu estive secretamente apaixonada durante todos esses meses. Eu só sei que essa paixão ridícula e completamente platônica precisa acabar, e agora mesmo. Sabe toda aquela baboseira sobre descobrir que o seu príncipe na verdade era a droga de um sapo desde o começo? É mais ou menos o que eu tô sentindo agora. Me sinto enganada, mesmo sabendo que não tenho esse direito.
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Garotas Rebeldes em Combustão
Teen FictionNina Avante tem um plano: até o fim do ano, ela vai revelar aos pais que não pretende continuar naquilo que eles a vem ensinando desde que se entende por gente. Ainda que ela ame tocar piano, a garota sabe muito bem o que quer fazer quando enfim ter...