Nina Avante tem um plano: até o fim do ano, ela vai revelar aos pais que não pretende continuar naquilo que eles a vem ensinando desde que se entende por gente. Ainda que ela ame tocar piano, a garota sabe muito bem o que quer fazer quando enfim ter...
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SABE NOS FILMES quando acontece uma explosão e os personagens passam a escutar apenas um zumbido por um tempo? É o que acontece aqui, nessa garagem, enquanto nós quatro permanecemos em silêncio e deixamos as palavras de Frida criarem forma. Ninguém sabe como reagir, porque elas não fazem o menor sentido.
— Do que você tá falando, Frida? Pelo amor de Deus — Lana resmunga, cobrindo o rosto com as mãos. — Se isso tudo for por causa daquele beijo ridículo, eu juro que vou ficar muito...
— Não é por causa do beijo! Porra, quantos anos você acha que eu tenho? Não tô nem aí pra quem vocês andam beijando — ela diz, cruzando os braços. — Mas não vou mentir, tá? Ter visto aquilo me ajudou a tomar essa decisão.
— E a gente pode saber o porquê? — pergunta Jas, batendo os pés enquanto põe as mãos na cintura, notavelmente ansiosa.
Eu nem consigo abrir a boca. Ainda parada no mesmo lugar, uso o teclado como uma espécie de escudo, como se permanecer atrás dele pudesse me proteger de seja lá o que a Frida tenha pra nos dizer. Quanto mais eu penso nas palavras dela, mais confusa fico, porque até pouco tempo estava tudo bem. Se aquele beijo não teve culpa de nada, então por que, de uma hora pra outra, tudo parece ter desmoronado?
— Eu não controlo nada aqui, tá legal? E ver as meninas se beijando me fez perceber isso pra valer — Frida explica, mordendo os lábios como se evitasse uma onda de soluços. — Por muito tempo eu pensei que as coisas estavam indo por um caminho e acreditei que tinha tudo sob controle, mas ver aquilo me fez abrir os olhos. Não importa o quanto eu tente prever o futuro, o quanto eu tente não deixar as coisas saírem do meu controle, eu sei que uma hora tudo vai acabar dando errado.
— O que isso tem a ver com...
— Vocês vão embora — ela interrompe Lana, encarando cada uma de nós antes de continuar. — Daqui a alguns meses todas vão pra Boafortuna ou Velha Laguna e eu não vou poder ir com vocês. Porque as suas vidas vão muito além disso aqui. A Lana vai passar na faculdade de arquitetura, a Jas vai estudar música pra valer na faculdade e, qual é, você não vai pensar duas vezes antes de seguir a Mabel pra qualquer lugar que ela escolher ir. E a Nina... — Frida finalmente para o olhar em mim por mais de dois segundos, soltando um suspiro. Sinto ela analisar cada detalhe meu, desde minha postura até as coisas que se passam na minha cabeça. É como se doesse dez vezes mais pra ela ter que falar de mim. — Você, Nina, tem um futuro brilhante seja lá no que decidir fazer, seja tocando piano ou estudando cinema. Vocês têm um futuro brilhante, gente. E é exatamente por isso que a banda nem faz mais sentido.
Ninguém consegue responder. Frida volta a encarar o chão, sem jeito, enquanto espera as meninas tentarem encontrar algo pra falar. Queria voltar no tempo para dez minutos atrás quando minha única preocupação era se ela me odiava ou não por causa do beijo. Meu Deus, eu daria tudo pra ser esse o único problema aqui.
— E os shows marcados, Frida? — lembra Jas, cruzando os braços e encarando a amiga com os olhos apertados. — E o documentário da Nina?
— A gente avisa que os shows não vão mais rolar. E aposto que a Nina encontra outro tema, um até melhor, pra falar no documentário dela.
