Capítulo 35

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Anahi

Esfrego minhas mãos no meus vestido, estou tão ansiosa que minha respiração está acelerada. Alfonso está ao meu lado na entrada da galeria onde minhas fotos estarão sendo exibidas durante a próxima semana, não é um evento de gala, mas o traje formal é exigido e sou grata por isso, ver Alfonso vestido em um terno preto, camisa, gravata e calça social, é como ter uma visão do paraíso.
Meu namorado é lindo, mas vestido assim é de tirar o fôlego. Já eu optei por um vestido azul longo de seda, alças finas e um leve decote, nada que chame muita atenção, mas que se destaque, afinal eu sou a artista essa noite.
-Vai dar tudo certo. - Alfonso segura minha mão e sorri, me reconfortando.
Eu apenas concordo com a cabeça e aceito que ele me guie para dentro da galeria.
Assim que passamos pela porta me deparo com a foto de Taylor e sinto o nó em minha garganta. Eu tirei essa foto poucos dias antes que ele partisse, sentado no banco do campus sozinho, Taylor me viu aproximar com a camera e sorriu, mas o sorriso não chegou aos seus olhos, há tanta tristeza neles que fica evidente para qualquer um ver.
É a única foto exposta em uma estrutura giratória e assim que ela finaliza a rotação, uma foto dos pais do Taylor aparece, eles estão segurando em suas mãos a carta que ele deixou e a dor e tristeza em seus rostos me aperta o coração. Eu posso ver essas fotos milhares de vezes e ainda assim vou sentir toda a dor que elas transmitem.
-Anahi, sua exposição... - Savanah vem ao nosso encontro - Eu não tenho nem palavras para definir.
Eu sorrio entre as lágrimas que começam a cair pelo meu rosto e sinto Alfonso secando-as com um lenço.
-Eu mesma ainda não consigo definir.
-Todos estão elogiando. - Hilary me abraça e me dá um beijo na bochecha - Você não capturou imagens, você capturou emoções, eu simplesmente não consigo olhar qualquer foto aqui sem me emocionar.
As paredes da galeria estão cheias de fotos que tirei, consensualmente, dos pais de vítimas de bullying. Alfonso me ajudou na busca em escolas primárias, fazendo palestras sobre o tema em questão e não foi fácil. Muitas crianças e adolescentes escondem o assédio pelo qual estão passando e alguns pais, que já perderam seus filhos, em atos como o de Taylor, se sentiam acuados a contar suas histórias. Ao final, consegui fotografar dez familias, algumas que já perderam seus filhos, outras descobrindo a dor que seus filhos escondiam.
-Por que o nome No More? - Savanah me pergunta enquanto caminhamos pela galeria e recebo alguns cumprimentos de professores e colegas.
-Porque não quero mais que outras pessoas passem por isso. É doloroso para eles e foi doloroso para mim tirar essas fotos, são olhares que vou levar em minha mente para o resto da minha vida.
Alfonso me acompanha em silêncio, sua mão sempre apoiada em minhas costas, o polegar me acariciando e me mantendo firme. Não bastasse a emoção da minha primeira exposição, ainda ter todas as fotos aqui reunidas e ver a reação de todas as pessoas aqui presentes, eu com certeza entraria em colapso se não fosse o apoio dele.
-Peço um minuto de sua atenção. - meu professor se posiciona no centro do salão e pede a atenção de todos - Agradeço a presença de cada um de vocês aqui essa noite e me sinto honrado em apresentar a responsável por nos despertar tanta emoção. Anahi! - ele aponta para mim e me chama, eu não vim preparada para um discurso, mas Alfonso gentilmente me empurra para o centro.
-Obrigada, professor Bennet e obrigada a todos por estarem aqui e dividir comigo todas essas emoções. Quando idealizei a exposição No More, pensei em expor aqui não apenas fotos, mas a dor de todas essas pessoas e nos conscientizar que perseguições de qualquer tipo, discriminação e bullying, não são somente piadas de mal gosto, mas também a causa de interrupções de vidas e histórias brilhantes, a dor de uma família e a perda de amigos. Espero que todos que vejam essas fotos, levem essas histórias para sempre em seus corações e se lembrem de nunca ferir alguém com palavras apenas para se sentirem superiores e quando se depararem com uma situação dessas, denuncie. Não exite nem mesmo por um segundo, você pode ser a luz na vida de alguém. Obrigada!
Ergo a taça de champagne que um garçom me trouxe e todos brindam em silêncio, talvez minhas palavras tenham atingido algumas pessoas em cheio por aqui ou todos realmente entenderam a profundidade da dor que algumas palavras causam.
Olho a minha frente e vejo minha familia sorrindo para mim, Alfonso vem ao meu encontro acompanhado por sua mãe, Savanah e Rachel e eu respiro aliviada por ter o apoio deles. Também me sinto feliz por minha cunhada, Savanah e Rachel se assumiram e ela parece muito mais leve e feliz agora.
Logo atrás delas vejo uma mulher erguer a taça com um sorriso sarcástico e em seguida se misturar entre os outros convidados.
-O que foi, meu amor? - Alfonso me pergunta ao ver meu cenho franzido.
-Nada, acho que é coisa da minha cabeça. - beijo levemente seus labios e volto a sorrir - Obrigada por estarem aqui.
-Sempre estaremos, minha Anahi. - e acrescenta com um sorriso travesso - Até porque não deixaria a mulher mais linda da noite sozinha.
-Mas que homem mais bajulador e ciumento! - Savanah não perde uma oportunidade de zombar de Alfonso.
-Agora sei que o problema de ciúmes é de família. - Rachel ri ao ver a carranca se formar no rosto de Savanah.
-Acho melhor dar uma volta e apreciar a exposição mais uma vez, antes que você se una ao meu irmão para falar mal de mim.
Savanah praticamente arrasta Rachel pela galeria enquanto Alfonso e Hilary fazem o seu melhor para não rir.
-Alfonso, eu vou ao toalete e já volto.
-Vou ficar te esperando aqui. - ele beija minha testa e entrego minha taça a ele.
Assim que entro me deparo novamente com a mulher que me encarou no salão, ela mantém seus olhos em mim e isso começa a me irritar. Cada movimento que faço para retocar minha maquiagem é observado e aquele maldito sorriso sarcástico não sai de seu rosto.
-Posso ajudar em alguma coisa? - eu pergunto sem conseguir me conter mais.
-Você realmente não sabe quem eu sou? - nego com a cabeça - Tenho certeza que Alfonso já deve ter falado de mim, eu sou a Eve. - ela diz de modo tão arrogante, como se fosse uma rainha se apresentando.
-Ah sim, agora sei quem é. - faço o meu melhor para sorrir docemente - Você é a ex. Prazer, Anahi Portilla, a atual.
-Querida, esse não é um momento de descontração e apresentação amigável. - ela se aproxima e apoia uma mão sobre a bancada - Eu vim avisar que quero o Alfonso de volta e eu vou tê-lo, nosso reencontro em Vancouver deixou claro que ainda há um sentimento entre nós dois. - ela faz uma expressão inocente - Você não sabia sobre Vancouver, não é querida?
-Céus! Você não está usando isso, está? - eu começo a rir e vejo o quanto Eve passa a ficar desconfortável - Essa cena da ex importunando a atual no banheiro com uma mentira mal planejada é tão clichê de filme adolescente! Você não tem vergonha dessa situação? - eu me aproximo, quase posso sentir a respiração dela e até posso ver a pulsação em seu pescoço - Sinto muito Eve, mas você precisa saber a verdade, Alfonso não vai voltar para você mesmo que eu não esteja na vida dele, Alfonso só não quer você, ele nunca realmente quis você e nem mesmo você tem sentimentos por ele. - me afasto para guardar minha maquiagem na bolsa - Espero que você use de seu amor próprio e não se exponha mais a uma situação tão constrangedora assim. Tenha uma boa noite. - me viro e saio do toalete deixando para trás uma Eve vermelha de raiva.
Me parabenizo mentalmente por me manter tão forte e não me comportar como uma garotinha tímida.
-Está tudo bem, meu amor? - Alfonso me olha preocupado - Você está tão pálida.
-Eu tive uma pequena discussão com a Eve no toalete. Mas estou bem, - asseguro quando Alfonso se põe nervoso - ela não é tão assustadora quanto as vilãs de filmes, na verdade, é bem fácil fazer ela se calar.
Alfonso respira aliviado quando me vê sorrindo.
-Linda, inteligente e forte. - ele me abraça pela cintura - Você é um verdadeiro presente dos céus.
Nosso beijo é doce, mas breve, com tantas pessoas ao redor nenhum de nós dois nos atrevemos a fazer uma cena aqui e roubar o foco da exposição.
Alfonso segura minha mão e caminhamos pelo salão enquanto respondo perguntas e recebo os cumprimentos.
Essa noite tem sido perfeita, e nem mesmo a loucura de Eve pode arruiná-la.

A EleitaOnde histórias criam vida. Descubra agora